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Edição da semana 18/12/2025 (Fotos: Jornal Metas)
Às vésperas do Natal, quando a cidade acende suas luzes como quem deseja apagar as sombras, caminhamos rumo às mesmas vitrines que prometem mundos possíveis. É curioso: nesse tempo de celebrações, insistimos em acreditar em figuras que nunca caminharam entre nós. Papai Noel, por exemplo, desfila nas propagandas com a segurança de quem tem CPF e endereço fixo. Já a fome, essa sim tão real quanto o frio no concreto, continua pedindo silêncio entre uma compra e outra.
Dentro do shopping, o mundo parece calibrado para que nada nos incomode. A claridade é sempre medida, o ar sempre puro, o chão sempre limpo. Uma cidade ideal, onde todos cabem, desde que não tragam consigo qualquer sinal do lado de fora. O tempo ali não passa. Flutua. E flutuamos com ele, embalados pelo conforto de estarmos dentro da tal cápsula global onde tudo “funciona”. Mas basta lembrar que, enquanto escolhemos presentes, há quem escolha entre comer hoje ou amanhã. A cápsula não registra isso. Ela nos convence de que pertencemos a uma aldeia luminosa, onde todos podem, todos circulam, todos sonham as mesmas etiquetas. Ilusão tão eficiente quanto a história do bom velhinho: ambos distribuem esperança, desde que alguém possa pagar por ela.
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Do lado de fora, porém, a noite cai sobre gente de verdade, gente que não cabe no cartão de crédito, nem nos corredores polidos. E talvez o verdadeiro espírito deste dezembro seja justamente esse incômodo: o contraste entre o que inventamos para suportar o mundo e o que o mundo realmente é.
No Natal, lembremos: pessoas passando fome existem. Papai Noel, não (Frase pichada em um muro qualquer) E talvez seja aí, no fio dessa diferença, que comece qualquer possibilidade de humanidade, menos encantada, mais responsável.
Que o brilho das vitrines não apague quem a cidade insiste em esquecer. A fome não vem em capsulas, o Natal sim.
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Félix Alarmes (Fotos: Kassiani Borges/Jornal Metas)
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Félix Alarmes (Kassiani Borges/Jornal Metas)
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