Nem é preciso ir tão longe para ver cidades com espaço para todos os meios de transporte. A foto parece ser da Europa, mas é de Bogotá, na Colômbia

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Estamos muito felizes em perceber que nossas colunas já fizeram várias pessoas pararem para pensar na cidade em que vivemos. Queremos trazer para vocês algumas reflexões acerca do tópico "cidades para pessoas" e o assunto irá se estender por três colunas. Então nos aguentem falando disso, porque cidades para pessoas é um dos nossos assuntos preferidos. Essa nossa primeira coluna está um pouco mais direcionada a questão da mobilidade urbana, mas também falaremos sobre espaços públicos e outros conceitos.
É impossível falar do assunto sem citar Jan Gehl, autor do livro "Cidades para pessoas" e o responsável por fazer com que Copenhage deixasse de ser uma cidade focada apenas no carro, para se transformar em uma das maiores referências em mobilidade urbana. O arquiteto propõe uma mudança de visão não apenas a seus colegas de profissão, mas também aos moradores das cidades e, principalmente, a todas as pessoas que estão ligadas ao planejamento urbano. Ele nos convida a ter uma atenção à cidade que vai além da forma dos prédios e da grandiosidade dos monumentos - precisamos ter uma visão humana da cidade, perceber como a população, as ruas e as edificações estão relacionadas. Será que tudo que é planejado tem mesmo o foco em oferecer uma cidade com mais qualidade de vida para seus moradores? Em uma entrevista publicada pela revista Vida Simples (e que pode ser encontrada no site Planeta Sutentável), Jan declara: "Boa parte dos profissionais que definem o futuro de uma cidade, os arquitetos, os urbanistas e políticos, estão preocupados com outras coisas. Eles querem melhorar o trânisto, criar skylines, monumentos, pontes, mas nenhum deles tem na agenda o item 'criar uma cidade melhor para as pessoas viverem'".
Na mesma entrevista, Jan destaca a importância da informação. Quem conhece apenas as cidades abarrotadas de carros e em que todas as ruas e espaços urbanos são planejados para acomodar toda essa demanda de automóveis, certamente pedirá por mais ruas na cidade, ainda mais espaço para os carros. Passar horas parado no trânsito diariamente certamente contribui para uma cidade mais infeliz, para que haja cada vez mais pessoas estressadas no trânsito (conforme já falamos um pouco na coluna anterior - Uma bicicleta pode mudar seu dia). Mas será que abrir novas ruas ou duplicar vias antigas é o melhor método de ter uma cidade mais humana e com espaço para todos? Nós acreditamos na mesma ideia propagada pelo arquiteto, de que é preciso ter uma liberdade de locomoção. As pessoas devem possuir o direito de se locomoverem como quiserem e o poder público tem o dever de estruturar a cidade de maneira que cada meio de transporte tenha seu espaço para transitar de forma segura. Mas, para isso acontecer, é preciso haver engajamento das pessoas interessadas na transformação da cidade. 
Infelizmente, o que vemos em todo o Brasil são pouquíssimas cidades que exigem calçadas adequadas para os pedestres ou que criam ciclovias e ciclofaixas sem a pressão de associações que defendem essa causa. Mesmo em Blumenau, com a ABCiclovias presente em uma comissão de mobilidade urbana e frequentadora assídua das audiências públicas relacionadas à mobilidade e ao planejamento urbano, é difícil perceber mudanças na cidade. Em Gaspar, não há ciclovias e são pouquíssimas as ciclofaixas existentes. Uma grande incoerência se você notar a enorme quantidade de ciclistas que existem na cidade. Experimente andar pelo centro da cidade e reparar no número de bicicletas presas aos paraciclos que existem no centro. Há um no Banco do Brasil, outro no Centro Empresarial Atitute a mais um na Prefeitura. Você verá que eles são muito utilizados e, se olhar com atenção para o centro, ainda vai notar que há várias magrelas presas à placas de sinalização. As calçadas não estão em melhor situação. Embora a rua Coronel Aristialiano Ramos esteja toda padronizada, basta dar uma volta pelos bairros para ver o que o mesmo não acontece por aqueles cantos. Nem vamos bater na questão de uma padronização da calçadas, mas sim na existência delas. Há muitos lugares em que as calçadas são tão estreitas, que as pessoas são obrigadas a andar na estrada. Sem falar que há muitos trechos em que o passeio simplesmente não existe. A calçada é pública, no entanto, é de responsabilidade do morador de executá-la corretamente e fazer as devidas manutenções. O poder público tem o dever de exigir que elas sejam feitas de acordo com a legislação e fiscalizá-las. Nem tudo que está associado a mobilidade urbana depende somente do poder público, muito (e aqui me refiro a infinitude de calçadas que existem em uma cidade) é de responsabilidade do próprio cidadão.
Será que é essa a cidade em que queremos morar? Em que o espaço está dominado apenas pelos carros e não há espaço adequado para pedestres e ciclistas?

Mais sobre o assunto...

Projeto Cidades para pessoas

O projeto Cidades para pessoas, da jornalista Natália Garcia, expõe uma série de iniciativas interessantes que visam transformar as cidades em espaços mais humanos e voltados para as necessidades de todos os cidadãos. Especializada em planejamento urbano, ela fala com propriedade do assunto. Embora o site oficial esteja em manutenção, há uma série de posts feitos por ela até o ano passado em um blog de mesmo nome, hospedado no site da Revista Super Interessante e que ainda está disponível para consulta. Além disso, vale curtir a página do projeto no facebook e acompanhar suas atualizações.
www.cidadesparapessoas.com 
www.super.abril.com.br/blogs/cidadesparapessoas
www.facebook.com/cidadesparapessoas

Cidades para pessoas - Jan Gehl

Responsável por mudar a "cara" de Copenhage nos anos 1960, o arquiteto mostra de forma mais ampla nesse livro a importância de ter as pessoas em primeiro lugar no momento do planejamento urbano de uma cidade. Ele examina os casos de cidades que se desenvolveram com êxito e prevê alguns desafios que devem ser enfrentados no futuro.