Retalho, segundo o dicionário, é um pedaço de tecido. Mas também significa fragmento. E o jornal o que é?  Um depósito de notícias, as mais variadas e imaginadas. Quando não ocupam espaços maiores e se tornam pequenitas notas por que não chamá-los de retalhos?

E Retalhos do tempo foi o nome escolhido por Manoel de Menezes para o seu terceiro livro( Edeme, 1977, 272 páginas). Antes dele, publicara Retalhos d´alma (1950, 2.000 exemplares, uma coletânea de poemas românticos e ingênuos) e Das grades da penitenciária (1960, 10.000 exemplares). Obras esgotadas.

Figura controversa da imprensa, fundou e dirigiu os seguintes órgãos: jornal A Verdade e Rádio Jornal A Verdade. O primeiro circulou de 1952 a 1960. E a emissora durou um pouco mais: de 1958 a 1970. O lema, se existisse, seria esse: "A verdade nua e crua, doa a quem doer".

Nascido no ano de 1924, em Lauro Müller, então distrito do município de Orleans, sempre considerou Florianópolis a cidade do seu coração. Começou vendendo nas ruas o jornal de seu pai, Dia e Noite. Seu avô também atuara no jornalismo. Assim, Cacau (Cláudio) Menezes, seu filho, pertence a uma família de homens da imprensa - quatro gerações.

Na segunda edição de Retalhos do tempo, encontramos ampla cobertura da imprensa catarinense. No jornal O Estado, Raul Caldas Filho pergunta-lhe: - Não são poucos hoje em dia que acham que o jornal A Verdade foi um precursor de O Pasquim, devido a sua linha satírica e acusatória. Mas não foram poucos também aqueles que o chamavam de "imprensa marron". E como Menezes o definiria?

- Pra mim - ele responde - a melhor definição do jornal  foi dada pelo Pereba, um jornaleiro, que dizia assim: "A Verdade: Um Jornal Falveste". E como a fala do ilhéu é peculiar, ninguém se constrangia de tratá-lo como "seo Meneis". Beto Stodieck, também em 0 Estado, lascava: "Menezes cita mais de mil pessoas, conta casos nunca dantes revelados (porém imaginados), negócios e negociatas, festas, festinhas e festivais, malandragens e ingenuidades, mostrando que Santa Catarina de santa só o nome... Imaginem o que não vem por aí."

Antes de se firmar como jornalista em Floripa, Manoel de Menezes correu cantões do Brasil, fazendo recitais de seus poemas do primeiro livro em clubes e estações de rádio. Daí sua amizade com figuras da música popular brasileira como Orlando Silva, Aracy de Almeida, Sílvio Caldas, Lupicínio Rodrigues, Ciro Monteiro e mais e mais.

Na política, deu o que falar. Eleito deputado estadual, foi cassado por falta de decoro parlamentar. Forçado por amigos e pelo povo candidatou-se a prefeito da Capital. Líder nas pesquisas e com vitória praticamente assegurada, ao deparar com a derrota, jogou manchete de capa no seu jornal: "Dormi como prefeito e acordei como um palhaço!"
Desiludido, ouvia na velha vitrola o bonito samba, que diz: - Não adianta estar com o nome no mais alto pedestal da fama, com a moral toda enterrada na lama!...