Na última coluna, indaguei: A literatura vai morrer? É claro que discordei. Acabo de ler O melhor da crônica brasileira 2 - Aldir Blanc, Doc Comparato, João Saldanha e Manuel Bandeira (Livraria José Olympio Editora S.A., 1981, 96 páginas).
O Aldir já respeitava como compositor popular. Sua canção O bêbado e o equilibrista foi eternizada pela voz de Elis Regina. É autor de crônicas sobre a Zona Norte do Rio de Janeiro, Vila Isabel, terra de Noel.
O Doc Comparato  ficou conhecido como autor junto à Televisão Brasileira e séries como Plantão de Polícia e Malu Mulher. Médico, não nega a "origem". Textos "exatos" em sua ambiguidade. Doc disseca e detalha personagens e cenas. Cronista que aproxima humor e sentido trágico da vida
Não gosto de futebol. Mas não resisti aos textos de João Saldanha. Ele talvez seja o maior comunicador brasileiro. Aqueles que o conhecem de palestras ou de simples bate-papo-de esquina, podem atestar. Conhece tudo de tudo, e aí está obviamente incluído o futebol. Coloquial, profundo, os recursos artesanais, estilísticos de que se vale João, estão sempre associados a uma preocupação maior, em participar, em criticar e, como não poderia deixar de ser, em colocar-se ao lado mais fraco no futebol brasileiro - o jogador.
Sobre Manuel Bandeira não há o que dizer. O mestre do lirismo e, ao mesmo tempo, dos mais lúcidos poetas do modernismo, neste volume aparece com suas crônicas, depoimento relevante sobre a vida, as gentes, os costumes do Rio e sobre outros temas. Bandeira criou, pode-se dizer, fiel ao célebre "cria teu ritmo" o chamado verso prosaico, isto é, o verso aparentemente antipoesia, jeitão de prosa mesmo. E, curiosamente, o leitor encontrará em muitos fragmentos, a prosa poética, em ritmo, musicalidade, pausas etc.
Em seus apontamentos, encontrei esta joia:
- "Contaram-me que num programa de televisão, Tônia Carrero disse que me achava bonito. Um dos dez mais, nada menos! Mando um beijo a Tônia, com este recado: 
Só mesmo uma mulher lindíssima 
- como você -
Pode se permitir a elegância
De me achar bonito:
Estou radiante com a minha feiúra! (13.4.1960)

(Nesta série de coletâneas, você inda pode encontrar: O melhor da crônica brasileira 1(Armando Nogueira, Zé Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Sérgio Porto);  O melhor do conto brasileiro 1 (Aníbal Machado, Josué Montello, Lygia Fagundes Telles e Orígenes Lessa) e O melhor da poesia brasileira 1 - Drummond, João Cabral de Melo Neto, Bandeira e Vinícius).