"Ele tem cusparadas de razão!" - a frase só poderia ter sido disparada por Nelson Rodrigues, identificação feita pelo mais desatento dos leitores.  Por gesto bondadoso (é bondadoso mesmo - apelamos para a forma arcaica de bondoso porque no momento reviver é mais que preciso) de Pepe Sedrez, devoramos há mais de uma década canibalescamente "O anjo pornográfico". E agora, com o hábito das releituras, estamos de novo com o livro nas nãos e que traz como subtítulo "A vida de Nelson Rodrigues).
Pepe, assim  como Nelson, é autor diretor e ator  (Sim, Nelson apareceu em cena uma única vez. Vive o tio Raul numa história que pode ser resumida assim: "Jovem cuja  mãe se matou resolve prostituir-se mas é descoberta pelo tio , que lhe conta a verdade sobre a morte da mãe".  Perdoa-me por me traíres virou filme em que a estrela principal é a nossa Verinha Fischer.
Também como o biografado,  Pepe sofreu a incompreensão dos setores burros  que cuidam (sic) da área  cultural. Dos que no criar artístico têm, a maioria, um ponto em comum: saber bater o ponto com uma religiosidade de madre carmelita. São os censores.
O autor da proeza de reviver e redimir  o autor de Vestido de Noiva, peça que revolucionou a nossa ribalta, é Ruy  Castro.  Outro gênio da pena. Lemos dele, com apetite voraz, Chega de saudade, uma visão irônica, mordaz do nosso gênero preferido em música: a Bossa Nova.
Ruy, como Nelson, reúne, no texto, estilo e garra, próprios dos grandes. Dizem os compêndios de literatura que existe, no Brasil, o teatro antes e depois de Nelson Rodrigues.  A afirmação não soa exagerada eis que em pleno Romantismo  de séculos passados, quase todos os grandes romancistas e poetas consideravam-se autores de peças. De José de Alencar a Álvares de Azevedo. O que deles se encena hoje? Nada. Daquela época, só ficou um que, de quando em quando,  é lembrado para encenação. Martins Pena, de O Noviço. 
Nelson entra em cena na década de 40 e até hoje suas peças são representadas.
A vida de Nelson Rodrigues (1912-1980) foi mais espantosa do que qualquer uma de suas histórias. E olhe que ele escreveu peças, como Anjo negro e Boca de ouro, romances como Asfalto selvagem e O casamento e milhares de contos e crônicas de A vida como ela é... em quase todos os jornais cariocas. Mas  foi de sua vida - e da vida de sua trágica família - que Nelson Rodrigues  extraiu a sua obsessão pelo sexo e pela morte.
Gênio ou louco? Tarado ou santo? Nenhum outro escritor brasileiro foi tão polêmico em seu tempo. (Vamos ao intervalo).