Nunca fui admirador de histórias em livros de mistério e suspense. Na tela do cinema, a conversa é outra. Admiro os dois gêneros. Mas, na realidade, o meu preferido é o faroeste. Americano por excelência, o gênero faroeste começou a agonizar quando produtores e diretores italianos, disfarçados, a maioria, sob pseudônimos americanizados, passaram a ganhar fortunas com imitações de qualidade duvidosa. Eram os chamados faroestes-espaguetes, receitas carregadas demais, na violência, ao longo de décadas, pelos criadores do western. Para citar, apenas dois razoáveis, entre os montões de abacaxis, finco em O dólar furado, que inaugurou o ciclo italiano, e Era uma vez no oeste. No momento, Hollywood está ressuscitando os bangue-bangues, que, pela violência explícita, lembram os faroestes al sugo.
A historinha de hoje é verdadeiramente real. No último filme citado, Henry Fonda faz pela única vez o papel de vilão. Antes e sempre, viveu o inesquecível mocinho. Bem, a Fundação Cultural da Prefeitura Municipal de Joinville convocou professores, escritores, jornalistas e técnicos em outras áreas para fazerem parte da banca julgadora de um edital de licitação com o objetivo de premiar os melhores trabalhos em diversas áreas: literatura, patrimônio histórico, edição de vídeos e circos.
Realizado e comprido à risca o trabalho, qual não foi a surpresa do júri? Simplesmente um comunicado, no finalzinho da tarde: as bancas foram canceladas. O realizado e feito foi jogado barraco abaixo. Não haveria pagamento algum, conforme comunicado oral e por escrito. O presidente da tal entidade cultural prometeu uma forma legal de enviar-lhes a remuneração a que faziam jus. E, categórico, admitia: "Somos sabedores do respeito, competência e disponibilidade com que analisaram os projetos."
Depois de uma série de trocas de e-mails entre os administradores e os lesados, veio a revelação mais do que besta: "Em razão de alguns cortes orçamentários municipais divulgados por nosso prefeito (Udo Dohler), nossas bancas avaliadoras do Edital de Apoio 2015 serão compostas por servidores públicos municipais, sem custos financeiros ao município." Udo Dohler, o vilão do episódio, merece o cognome de Dólar furado e Joinville, infelizmente, a Cidade dos Príncipes Caloteiros.
Ora, até o mais distraído dos seres humanos sabe que funcionário público, com raríssimas exceções, cumpre apenas, de olho no correr do relógio, o expediente. Trabalhar de graça, esforço extra, nem na Cochinchina. Não bastasse esse desaforo, atingiram os extremos do ridículo: "Não efetuaremos pagamento algum, recorram à justiça!"
Dito e feito. Constituí minha advogada Ana Paula Mitterstein, do escritório do Dr. Cézar Cim. Outra declaração dos picaretas da Fundação: "Logo, entraremos em contato com melhores notícias sobre o pagamento."
O grande culpado de tudo foi o prefeito (recentemente reeleito e - imaginem - com pretensões de candidatar-se ao governo do Estado!) Udo Dohler (brincando, inda declaramos: - Imaginei que receberíamos em dólares!).
Daí, dando os trâmites por findos, a juíza deu-me ganho de causa. Só que o valor a receber fica aquém do prometido pelo trabalho efetuado. Deu para recuperar os gastos com as passagens de ônibus e os almoços, jantas e hotéis. Constatação final: a justiça brasileira anda a passos de tartaruga.
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