Macaco foi pra praia
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(Fotos: )
Nos dez anos em que moro na rua Itapuí, no Garcia, um cachorro de rua me marcou. O Macaco, alvo de algumas crônicas. Por que o batizaram assim? Cheguei à conclusão: é preto e arteiro feito um símio.
Dizem que teve diversos donos; Nasceu no morro e foi doado a um vizinho meu, o Desidério (que o mau gosto dos pais deveria tê-lo batizado de Eleutério). O homem não gostava de cães. Tentou manter sua nova aquisição dentro do cercado. Mas o Macaco achava-se dono de todo o território. Não havia cerca, a mais alta possível, que impedisse suas caminhadas pelas ruas. Já o chamei de o Don Juan das cercanias. Não havia cão por maior que fosse que ele não afugentasse em nome do amor às donzelas caninas que por ali habitavam.
Seu amor pelo último dono, seu Moacir, passava dos limites da compreensão humana. Acompanhava-o até o ponto de ônibus e lá esperava seu retorno. Não raras vezes tomou carona. O motorista compreensível permitia.
E Macaco era visto, com a maior paciência do mundo, aguardando seu dono sair do supermercado do Cooper. De tão namorador, não é de se duvidar que seja pai de tantos outros cães possuidores de seu perfil: peludos, negritos e por que não dizer: portadores de certa elegância.
Se era feroz com os da sua espécie, mantinha com os seres humanos a maior compreensão. Como seu Moacir nunca lhe tivesse dado um banho, nem lhe tosado o pelo, caiu nas graças de Luciana Sasse, filha do Víctor, e enfermeira do postinho de saúde. Arranjou uma namorada perto do local.
Luciana, condoída por seu aspecto de cachorro abandonado, cortou-lhe o pelo e deu o maior banho que ele teve na vida. Claro que foi repreendida pelo médico de plantão. Disse ele: - Aqui se tratam pessoas e não animais. Não é à toa que ela possui uma filha veterinária. Dessas que não pode ver um animal na rua abandonado sem levá-lo para sua residência.
Ontem, à tarde, a notícia caiu como uma bomba para mim. Seu Francisco não poupou palavras: - Nunca mais vais ver o Macaco. Ele e sua atual namorada (uma cadela acinzentada , gorda e mamicuda) foram morar na praia (nem imagino qual seja).
Seu Moacir resolveu doá-los a um vizinho que possui casa no litoral. Pensei com meus botões: - merecida aposentadoria para o meu amigo animal.
Imagino-o, cercado que haja, pulando pro areal, vendo pela primeira vez o mar e correndo, com companheira ou não, pelos novos domínios, que o levarão por certo a conhecer novas namoradas e deixar filhotes a mancheias.
(Do livro em preparo Bichos, gente e coisas)
No meu quinto livro, em preparo - Bichos, gente e coisas - Macaco terá, por certo, espaço especial no primeiro item do título.
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