Santa Catarina não é um Estado tão tadinho assim, como nos quer fazer crer Paulo da Costa Ramos, na revista "Quem", de fevereiro. Se postergados em muitos direitos, já temos assento firme no anedotário brasileiro. Evelásio Vieira dá a sua contribuição. Deputado estadual, prefeito de Blumenau e atual senador da República mereceu inclusão num dos livros da série "Folclore político" do Sebastião Nery, colunista da Tribuna da Imprensa, do Hélio Fernandes, irmão do Millôr. Lazinho, no momento, enfrenta um dilema: reeleger-se senador ou derrotar (novamente) Marcos Buechler com vistas ao paço municipal. Ex-pessedistt, emedebista de primeira hora, pepista, e de volta ao maior partido de oposição, viu incluída em sua biografia esta história, bem narrada pelo Nery.

"Evelásio Vieira, o Lazinho, senador do MDB, chegou a uma pequena cidade do Estado, bem dentro da região da colonização alemã para fazer o comício de candidato. Não tinha ligação ali, não conhecia ninguém, anunciou seu discurso e foi para o palanque. Já no fim, depois de uma hora de análise de abandono da agricultura catarinense, responsabilizando o governo pela crise do interior, o povo todo, lá na praça, ouvindo-o atentamente e em completo silêncio, alguém pede um aparte.
- Pois não, com o maior prazer.
Era um velhinho, a cabeça toda branca, a cara rosada e com uma capa de gabardine, pois a noite estava fria.
- Eu poderr falarr aí em cima?
- Claro. Suba, por favor. Este palanque não é meu, é de vocês.
O velhinho subiu enrolado na capa de gabardine.
- Eu perrcisarr porrnunciarr alguns palavras. Eu ser vigárrio desta parróquia.
Evelásio ficou empolgado, interrompeu o vigário, e começou a mostrar como a Igreja, depois do Concílio Vaticano II, acabou ao lado do programa do MDB, pois que não há diferenças entre o que a Igreja quer e a Oposição quer, e foi por aí. Depois, deu a palavra ao vigário. Que disse só isso:
- Eu perrcisarr dizerrr que tudo isso que candidato falarr aqui este noite serr mentirra. Governo fazer Mobrrall, fazer milagre brasileirrrro, oposiçon non fazer nada. Só falarr, falarr, falarr. Todos deverr irr dormirr.
E desceu. Evelásio também teve que descer com ele. O povo foi dormir".
(Do livro em preparo Bichos, gente e coisas)