Ninguém discute que o samba, em todas as suas modalidades, é o ritmo musical que caracteriza o Brasil. Acabei de ler Acertei no milhar, nome de uma melodia gostosa de se ouvir e cantar. A obra de autoria de Cláudia Matos foi editada em 1982 pela Paz e Terra contando com 222 páginas.
Em Acertei no milhar - samba e malandragem no tempo de Getúlio traz como figura maior a do malandro carioca. No início, tinha sentido pejorativo, pois nos levava à imagem do cidadão vadio, que abominava o trabalho e chamava de otário quem labutasse.
Com o tempo passou a título de nobreza. Era chamado de malandro aquele que com sua singular maneira de andar, a ginga, compunha nos morros sambas que, gravados e executados no rádio, faziam a cidade inteira cantar. Pelo telefone, primeiro samba gravado, em 1936, é atribuído a Donga, mas que muitos outros compositores afirmam serem deles. As canções nascidas em botecos dos morros ou na cidade com frequência eram vendidos a preço de banana. Acusam Francisco Alves, o Chico Viola, o maior cantor do Brasil, de "adquirir" constantemente canções de diversos outros autores.
Na realidade, o samba era visto com bons olhos pelo Estado Novo, a ditadura de Getúlio Vargas. A ponto de receber seus autores no Palácio do Catete e achar graça do apelido Gegê, que aparecia em diversas marchinhas.
Em relação ao proletário, o malandro se distingue por sua maneira de andar sempre bem vestido, terno branco impecável, elementos que aparentemente poderiam aproximá-los dos padrões burgueses.
Em Olha o Padilha, Moreira da Silva, o Morengueira, conta uma história real. O comissário Deraldo Padilha atuava no centro da cidade e era muito temido. Na época, estava em moda a calça "boca de chorro", isto é, com a boca estreita. O Padilha, quando pegava um indivíduo vestido daquele jeito, costumava enfiar-lhe um limão pelas calças adentro para testar a estreiteza da boca. Se o limão ficasse retido na bainha, o comissário mandava cortar as calças do sujeito.
Numa conversa que a autora teve com Moreira da Silva, ele lhe disse algo interessante. Tratava-se de uma frase de malandro, espécie de brincadeira para definir o personagem. " - Então dizia o malandro: Comigo é assim, se a polícia der em cima ou morro ou mato! Esta antiga piada é assim justificada: - Mas é, se não tiver morro, meto logo a cara no mato!"
No mais, resta endossar os versos de Zé Keti...
Eu sou o samba / A voz do morro / Sou eu mesmo sim, senhor / Quero mostrar ao mundo / Que tenho valor / Eu sou o rei do terreiro (...)
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