Cultura inútil - Numa aula de Português, no livro adotado, aparece a conjugação do verbo apropinquar. Muito pouco usado, já quase um arcaísmo. Disse aos meus alunos: - Ninguém jamais vai se apropinquar (aproximar) de vocês ou de mim. Pulemos as páginas, pois.

No Bar da Colina - Assim que me mudei para o bairro do Garcia, faz 5 anos, descobri que na minha rua havia somente uma quadra para a salutar prática do basquete de copo. Como não tinha placa e situava-se num morrinho, batizei-a de Bar da Colina. Pegou o nome, embora sem tintas que permitam aos desconhecidos sua localização.

Tardinha dessas, fui saborear uma Bavária (sem álcool - que prudência e garapa gelada não fazem mal a ninguém). Numa mesa de calçada, a cativa de seu Nego, apelido do Valselino, batia ponto um estranho até aquele momento pra mim.

Cidadão de cor, idade avançada, ao me ver, pergunta:

- O senhor não foi professor de português no Colégio Pedro II?

- Lecionei lá um bocado de tempo.

- Então deu aula pra mim, lembro.

Chama-se Paulo, mora no bairro Santa Terezinha, em Gaspar. Tinha vindo conhecer o ambiente, há uma semana nas mãos do filho. O Bar da Colina na verdade pertence ao casal Pedro e Marli, que o arrendam de vez em quando.

Conversa vai, conversa vem, contou seu passado de infância e juventude em Blumenau. Extremamente pobre, ajudava a família engraxando sapatos em frente ao Hotel Rex.

O dono, seu Franz, gordo e forte, era um alemão meio que do brabo. Corria com os engraxates que faziam bagunça em frente do estabelecimento. A exceção ficava pro garoto Paulo, quietinho de nascença. Convidava-o para assistir tevê, comer cucas e gasosas, numa salinha.

Nosso herói de alemão não entendia bulhufas. Por dedução, traduzia triste o significado da palavra Schwartz (preto em alemão), apelido 'mimoso' que lhe davam seus coleguinhas no colégio.

Só não gostei da despedida. Perguntou-me, seriamente: - Diga, seu Gervásio, o senhor deve estar perto dos 100 anos, não é?