Decidi, faz anos (e põe anos nisso), recadastrar-me na Biblioteca Municipal Dr. Fritz Müller. Não retirava, por bom período, qualquer volume dada a quantidade de livros recebidos nos últimos meses.
Lê-los todos quem há de? Mas pensei na temporada de verão, em Caieira da Barra do Sul, na nossa Florianópolis. Praia deserta, por mais passeios e pescarias que ofereça, pede também um apegar-se a uma boa obra literária. Companhias agradáveis: uma biografia traçada pelo Ruy Castro e mais dois volumes de crônicas, de preferência com toques de humor.
De experiência, inda em novembro, retirei Dicionário de Português ou Schifaizfavore (Se faz favor, expressão usada chamada para chamar garçom lá em Portugal. A palavra garçom inexiste, é empregado de mesa). O autor, Mário Prata, (dizem) morar na capital catarinense. E é dono de um humor péssimo. Amiga minha, ex-aluna, está revisando uma obra infantil que compôs com a falecida e querida escritora e professora Marita Deeke Sasse. Morando no centro, mas com apartamento no Jurerê Internacional, reconheceu o escritor numa confeitaria na praia. Quis entabular uma conversinha com ele. Desistiu diante do ar pouco afável de Mário Prata.
Entre outras tentativas, ele quis inovar a novela brasileira. E criou Bang bang, da qual participava o compositor e cantor Luís Melodia. Já havia escrito textos melhores para a TV. Mas diante do insosso faroeste, foi substituído a tempo. O pater burris, o pai dos burros, prova que burro é quem não consulta dicionário.
Afinal, somos todos ignorantes em alguma coisa. Quem ignora algo, é ignorante. Afinal, o Millôr Fernandes não escreveu Lições de um ignorante?
Prata residiu na pátria-mãe dois anos em exílio voluntário. Não estava no rol dos políticos, escritores e músicos que foram forçados pelo golpe militar de 64 a residir em países estrangeiros.
Lá, na Lisboa da velha canção, colecionou, catalogou e explicou uns bons termos que lá funcionam. E aqui, nadinhas.
Vejamos alguns exemplos:
Água fresca é a nossa água gelada.
E água lisa é água sem gás.
Ninguém deixa recado na secretária eletrônica. Deixa sim no atendedor automático.
Mesmo que seja carne moída, na terra de Camões e Fernando Pessoa, chamam de carne picada.
Entrevista coletiva corresponde à conferência de imprensa.
Delegação é sucursal de jornal.
E désqui, com tônica no e, é o nosso conhecido copidesque, o revisor.
No Brasil, é reduzido a cópi.
Estamos sentindo o drama faz meses. Os famigerados horários políticos (Alíás, é digna a pergunta: - haverá eleições com o indefectível corona vírus inda mandando e imperando? Um cristão bem carola faria rima: em quarentena., só novena.)
Lá horário político é direito de antena. Só? Diante do exposto, cá entre nós, brasileiros e portugueses falamos o mesmo idioma?
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