Quando se fala em Flávio Cavalcanti, a ideia primeira é a do polêmico, arrogante e antipático jornalista e apresentador de televisão. Poucos sabem que ele é dono destes versos lindos: "... e das manias que eu tenho, uma é gostar de você..." Pois o assunto de hoje é exatamente este: manias. Todo mundo tem, em maior ou menor dose. 

Para não dizerem que implico com Deus e todo mundo, começo com duas historinhas, envolvendo a família, que esta eu conheço de perto. Depois, há direito e espaço para outros personagens.

Tio Leonel Thieme, o Lio, meu padrinho, gostava de enticar com seu irmão Erwin, bem mais velho. Lio era o caçula da família. Nascidos em Itajaí, fixaram-se no Rio de Janeiro. Erwin era religioso ao extremo, a ponto de tomar banho em pia de água benta. Feliz da vida, confessou: "Lio, comprei um colchão maravilhoso, invenção moderna". Leonel curioso: "E qual é a marca?" Erwin revelou: "Divino". Sarcástico, disparou: "Tu que és tão apegado às cousas de Deus, tens coragem de deitar sobre Ele, o Criador?" Passaram-se semanas. Os dois, em viagem ao Sul, se encontraram em frente à velha igrejinha que embeleza a praça defronte ao píer que recebe transatlânticos no porto de Itajaí. "Que tal o novo colchão? Aprovou?" "Que nada. Tinhas razão. Estava agindo como um herege. Troquei de marca.".

O estimado tio Augusto, itajaiense também, possuía o que uns rotulariam de grave defeito e outros considerariam de boa qualidade. Era detalhista, daqueles extremados. Queria tudo nos mínimos detalhes. Assim, se alguém lhe dissesse ter assistido a um filme de caçadas na África, de pronto fulminava com a indagação: "África do Sul ou África do Norte?" Toda vez que ouvia a expressão Verde Vale do Itajaí, não perdia tempo: "verde-claro ou verde-escuro?".
Em Itapema, vivia Geninho. Dono do bar Rancho Alegre. Tinha o costume de parar os ônibus na estrada de barro em frente ao estabelecimento e perguntar: "Por acaso não ficou um guarda-chuva?" Normalmente, muitos são esquecidos. Ao ver o objeto, não hesitava: "É meu!". E assim, na maior, orgulhava-se de possuir a maior coleção de guarda-sóis do Litoral.

E político tem mania? Em penca, principalmente no período eleitoral. Mudança de conduta, novos hábitos expostos.
Tenho uma vizinha, velhinha, distraída que nem ela só. Dona Estelina, moradora da rua Itapuí, aqui no Garcia, nem se tocou que o vizinho Umbelino é candidato a vereador. Comentou comigo: "O Umbelino anda diferente barbaridade. Sempre sério, agora vive de dentadura arreganhada. E mais: aperta a minha delicada mãozinha com aquela manopla suarenta. Cáspite!".