Assustei-me com um artigo na Veja: A literatura pode morrer? O artigo de José Francisco Botelho traz como subtítulo: Philip Roth previu o fim da leitura, mas não foi o primeiro. E argumenta: O envelhecimento da literatura - e sua morte supostamente inevitável- é um desses assuntos que, paradoxalmente, nunca envelhecem. "Chegamos tarde demais para dizer qualquer coisa que já não tenha dita antes" escreveu La Bruyère no século XVII repetindo algo  que, de fato, já fora dito por Terêncio e pelo Eclesiastes alguns milênios atrás.

No seu entender, do século XX para cá, os agouros se tornaram mais específicos, mais urgentes. Várias forças implacáveis foram apontadas como potenciais algozes da literatura: entre os receptáculos dessa honra macabra, podemos citar a televisão, o cinema, a internet, a falta ou o excesso de assunto, os poderes políticos e o crescente déficit da atenção da humanidade.
Dentro de 20 anos, segundo o colaborador da segunda revista mais lida no mundo, os leitores de romances literários serão tão raros  quanto o são, hoje, os leitores de poesia em latim.

Discordo. Meu pai, o advogado e bom leitor Ademar Luz, já dizia que não existe nada de novo desde que o sol nasceu. Mas o homem tem necessidade visceral de pôr em letra de forma o que se passa em sua alma, em seu interior. Daí os diferentes estilos e gêneros literários. Sempre haverá um curioso para ler um novo livro.

Quando do advento da televisão, preconizaram o fim das emissoras de rádio. Não morreu o cinema e os ouvintes de rádio aumentam a todo instante. A culpada talvez seja a televisão comercial com suas asnices gerais, amplas e irrestritas.
Eu me considero um homem antigo. Como jornalista, há 53 anos, inda sinto falta da máquina de escrever. Como dizia meu primo, poeta e professor Geraldo Luz:

"O tlec-tlec da máquina de escrever me inspira para criar meus melhores versos".

A literatura sempre existirá. Serve de base para novelas de televisão e roteiros cinematográficos.

Caem bem agora os versos de Vinícius de Moraes, no antológico Chega de Saudade, feitos em parceria com Tom Jobim:
"Tristeza não tem fim, felicidade sim". Tristeza seria o desaparecimento da literatura (tenho necessidade básica, uterina, de sentir o papel de jornal ou  livro na mão). Ver filmes no computador, nunca. Para isso, existe o aparelho de TV.) E felicidade será a eterna permanência da literatura. Amém.