Durante depoimento à CPI da Rua José Rafael Schmitt, o ex-secretário esclareceu a obra foi executada pela iniciativa privada

TEXTO E FOTOS ALEXANDRE MELO ([email protected])

Somente a perícia técnica vai poder confirmar que a voz que aparece no áudio, que levou à instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara de Vereadores de Gaspar, é ou não de Jorge Pereira, ex-secretário da Fazenda e Gestão Administrativa do Governo Kleber Wan-Dall/Marcelo Brick. Na tarde desta terça-feira (4), ouvido pelos membros da CPI, no plenário da Câmara de Vereadores, que investiga suspeitas de irregularidades na obra de drenagem, pavimentação e alargamento da Rua José Rafael Schmitt, no bairro Santa Terezinha, Jorge negou, por diversas vezes, que seja sua a voz que aparece no áudio. "O que eu posso afirmar é que dá forma como está posta, essa conversa jamais aconteceu", declarou. O ex-secretário também disse que diante das inúmeras tecnologias à disposição é possível reproduzir qualquer voz, e reiterou o pedido para que seja feita a perícia técnica na gravação. "Com certeza, vamos conseguir provar a manipulação que foi feita neste áudio". Jorge acredita se tratar de uma montagem de fragmentos de áudios de várias conversas. 

O ex-secretário também contou à CPI que a obra da Rua José Rafael Schmitt seria executada pela Prefeitura em 2018, por intermédio do Programa Avança Gaspar, com recursos do  FINISA/CEF, porém, acabou assumida pela MS Corporações, empresa que está construindo um loteamento na região, que contratou a Pacopedra para executar a obra. Isso, segundo o ex-secretário, se deu por conta da demora dos donos do terreno em aceitar a desapropriação para que a rua pudesse ser alargada. "Nós não conseguimos realizar os projetos em tempo hábil, e o loteador tinha pressa em função de uma cobrança da comunidade depois que ele começou a mexer na área, pois começou a danificar a via. Chegou um momento em que o próprio loteador apresentou o projeto e o executou ou está executando com recursos privados, mas a demora se deu porque a  família não tinha interesse em permitir o alargamento da via, pois queria algumas concessões para poder permitir a desapropriação de forma amigável", revelou Jorge. 
Sobre o áudio, que circula, juntamente com outros desde o começo deste ano, ele disse não saber quem possa ter gravado ou manipulado e com quais intenções. "Quando se atua em cargo público temos contatos com várias pessoas e vamos a vários eventos públicos, por isso é difícil precisar em que momento, e se houve, essa gravação". No áudio, reproduzido durante o depoimento, é citado o valor de R$ 1,8 milhão para a execução da obra e que parte desse dinheiro retornaria. Questionado sobre esse fato, o ex-secretário esclareceu que a obra da Rua José Rafael Schmitt não foi executada pelo governo municipal, mas pela iniciativa privada, ou seja, não tem dinheiro público. "Desconheço que tenha ali recursos públicos, essa obra é totalmente privada", garantiu. Mesmo assim, explicou que a Prefeitura tem a responsabilidade de aprovar o projeto e fiscalizar a execução. 

O relator da CPI, vereador Roberto Procópio (PDT), insistiu, questionando para quem iria o dinheiro. Jorge voltou a dizer desconhecer esse fato ou que isso aconteça dentro da administração pública, pois toda a obra passa por uma série de exigências, como as medições feitas pelos fiscais, para a liberação dos pagamentos.

O ex-secretário também disse desconhecer um projeto que estivesse em andamento por um empresário, que hoje tem negócios no Litoral, mas que também investe em Gaspar. Limitou-se a afirmar que o empreendimento, deste mesmo empresário, é no Gaspar Grande e na área gastronômica.  

No áudio tem ainda uma citação referente a um "velho de 600 anos...". Jorge também garantiu desconhecer quem é essa pessoa e voltou a lançar dúvidas sobre a veracidade do áudio. Ele também culpou a oposição. Disse ter sido vítima de "pseudo áudios", numa politicagem barata feita principalmente pela oposição e que culminou com ameaças à sua família. 

Sobre a citação ao prefeito Kleber Wan-Dall, que algo poderia prejudicá-lo, o ex-secretário também minimizou e garantiu desconhecer em que momento essa parte do áudio foi gravada. Todavia, defendeu a atual administração a qual fez parte até março deste ano. "Em nenhum momento, o nosso prefeito solicitou alguma propina ou desvio de recursos públicos". E complementou: "O que estão tentando fazer como esses áudios é prejudicar o governo e a cidade de Gaspar".

Presidente da CPI, o vereador José Hilário Melato (PP) revelou que a CPI já encontrou indícios claros do envolvimento do ex-secretário da Fazenda na obra da Rua José Rafael Schmitt, assim como dos proprietários da empresa Pacopedra, citados no áudio. "Em função disso, nós fizemos a busca, junto com os documentos, e hoje ouvimos a primeira pessoa. As perguntas foram exclusivas sobre o procedimento administrativo", esclareceu. Melato disse ainda que a CPI está buscando uma empresa para realizar a perícia técnica no áudio e que isso não aconteceu em função do processo administrativo da Câmara Municipal. Ele explicou que, após a perícia, se forem encontradas novas informações relevantes aqueles que já prestaram depoimentos poderão ser novamente chamados a depor. Os próximos passos, de acordo com o presidente, é colher os depoimentos dos responsáveis pela Pacopedra e trabalhar internamente nos documentos enviados pela Pacopedra, Prefeitura e Samae, no entanto, afirmou que a perícia no áudio é fundamental, para que se possa trazer com maior lisura as possíveis falas. 

Oposição critica

O vereador Alex Burnier (PL) disse que o depoimento do ex-secretário Jorge Pereira foi a certeza de que não participar da CPI foi a melhor decisão da oposição. "Hoje, foi uma prova viva de que a CPI não vai dar em nada. Na minha visão, a CPI veio aqui hoje muito mais dar moral para o Jorge do que fazer o papel dela", disparou. Burnier também lamentou que a oposição tenha sido colocada como culpada pelos fatos e não quem de fato gravou os áudios. "Quem faz a fala de devolver R$ 1,8 milhão não foi o vereador da oposição", cutucou Burnier. Para o vereador do PL, infelizmente a mesma situação que se vê no cenário nacional, em Brasília, hoje se vivencia em Gaspar. "Isso não tem nada a ver em ser vereador da oposição ou da situação, mas é querer a coisa certa para o município", defendeu. No entender de Burnier, o áudio diz que existe alguma coisa e o papel do vereador é tentar esclarecer a verdade, mas o que se viu no depoimento foi justamente o contrário: "Um palanque para a defesa, nós, infelizmente, não podemos fazer nenhuma pergunta, apenas assistir, e fomos cortados, assim como cortaram a transmissão ao vivo do depoimento pelo Facebook e YouTube, quem perde é a comunidade", concluiu o parlamentar.