O gari do Barracão, que já foi oleiro, conta algumas das suas façanhas em quase 40 anos morando no bairro
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fotos: Alexandre Melo/Jornal Metas/Taíka cumpre jornada de trabalho quase diária
Se perguntarem pelo Altair José Silvério ninguém conhece. Agora, o Taíka todo mundo sabe quem é. Atualmente, ele é visto capinando, varrendo e recolhendo o lixo, quase diariamente, das duas principais ruas do bairro: Lino Vicente Alberici e João Barbieri, além da praça.
Taíka, de 60 anos, é um destes personagens folclóricos do Barracão. Não descende de família colonizadora. Aliás, ele nasceu bem longe, em Rio do Sul, no Alto Vale. A relação com o bairro começou de maneira curiosa. Na época Taíka morava numa pensão, em Blumenau, e trabalhava como jardineiro na casa do ex-deputado João Manoel de Borba Neto (já falecido). "Num dia de folga, eu estava num bar com um conhecido, o Bernardo Barbieri, quando então ele se desentendeu com uma pessoa e virou uma briga, eu fui defendê-lo e acabei me envolvendo mais ainda na confusão", conta Taíka. Com medo de represálias, Bernardo levou Taíka para a casa de um irmão, Augusto Barbieri, no Barracão. 'Ele me trouxe pra cá até as coisas esfriarem, pois o homem que eu bati me jurou de morte", recorda.
E o que era para ser por algumas semanas, acabou virando um mês... um ano...uma década.. e hoje já se passaram quase 40 anos. "Quando eu vim morar aqui acho que eram sete ou oito casas", recorda. Taíka estudou só até a 3ª série, mas diz que o mundo ensina muito. E foi como um "cidadão do mundo" que ele se criou, pois de casa saiu muito cedo. "Eu queria aventurar, sair de Santa Rosa (localidade de Apiúna) e conhecer outros lugares".
Antes de se tornar o gari do Barracão. Taíka fez de tudo um pouco. Trabalhou por muitos anos em olarias e também aprontou das suas. À noite, relembra, ele e seus colegas saíam para roubar galinhas na vizinhança e depois preparavam as aves no próprio forno da olaria. "A gente convidava o dono da galinha pra vir comer com a gente", diverte-se Taíka.
Na Cerâmica Barbieri, onde trabalhou por mais de 30 anos, ele chegou a ser encarregado por uma equipe de 15 oleiros. Um dia, achou que a salário era baixo e mandou todo mundo ficar em casa. "Quando o patrão, seu Moacir (Barbieri) chegou, ele me perguntou onde estavam os trabalhadores, eu disse que tinha mandado todo mundo ficar em casa e que só voltariam se ele aumentasse os nossos salários", relata Taíka. Num primeiro momento, o patrão ficou furioso, mas acabou concordando com o "comandante" da primeira e única greve até hoje registrada no Barracão. No dia seguinte, os trabalhadores retomaram suas atividades normalmente. Taíka se diverte, quando lembra desse episódio. Certa feita, ele acordou e teve a ideia de promover um concurso feminino de beleza no bairro. Alugou a danceteria Signos, famosa nos anos 1990, e promoveu o concurso "Garota do Barracão". Outros eventos vieram na sequência. "Cheguei a promover festas na minha casa e cobrar ingresso", revela. No futebol, nunca foi bom com a bola nos pés, mas assumiu a função de treinador do Juventude, time conhecido do bairro nas décadas de 1980/90. Por ser muito popular no bairro, Taíka virou cabo eleitoral de alguns candidatos a vereador - e até pensou em concorrer à Câmara Municipal, mas depois desistiu da ideia. "Não fui feito pra política", resume.
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"Gosto muito do bairro e do povo daqui; me considero filho do Barracão e quero morar até o fim da vida e ser enterrado aqui", Altair José Silvério, o Taíka
Taíka se afastou seis anos do Barracão, quando aceitou trabalhar num fábrica de reciclagem no Belchior Alto; retornou para novamente exercer a atividade de oleiro. Se aposentou alguns anos mais tarde. Para complementar a renda, ele passou a varrer e limpar o pátio da igreja Nossa Senhora do Rosário até que alguns empresários do bairro ofereceram para ele o trabalho de capinar, varrer e recolher o lixo das duas ruas principais e da praça. Taíka topou e desde então seus instrumentos de trabalho são a vassoura, pá, enxada e carrinho de mão. São cerca de mil metros de ruas. O serviço ele cumpre de terça a sexta-feira com muito capricho. Quem passa pelas duas vias percebe que estão sempre impecavelmente limpas.
"Gosto muito do bairro e do povo daqui; me considero filho do Barracão, quero morar aqui até o fim da vida e ser enterrado no Barracão". Taíka
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