O título de 'Capital Nacional da Moda Infantil' vai mostrar ao Brasil o que pouco gente sabe: a 'Cidade Coração do Vale' é o maior polo produtor de roupas para crianças e adolescentes do País
Se tem algo que Gaspar produz bem é moda têxtil. O município tem cerca de 1.500 empresas e emprega diretamente mais de 9 mil pessoas. Em torno de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) tem origem na cadeia do setor têxtil. Com uma representatividade econômica tão significativa não era difícil imaginar que, em algum momento, a cidade iria se mostrar ao Brasil e ao mundo como um grande polo têxtil. E tudo começou há mais de 80 anos, quando a Círculo, a fábrica de linhas de Leopoldo Jorge Theodoro Schmalz, se instalou na cidade. De um perfil econômico predominantemente agrícola, a cidade migrou para o setor industrial e até a mão de obra feminina passou a ser empregada.
style="width: 50%;" data-filename="retriever">
"As moças de Gaspar não tinham onde trabalhar, não tinha mercado de trabalho pra elas. Elas eram trabalhadoras domésticas ou rurais. Um ou outra que trabalhava no comércio". Leda Maria Baptista
Para a pesquisadora Leda Maria Baptista, o surgimento da Círculo foi um marco não apenas por ser a primeira, mas por trazer emprego e renda para as mulheres. "As moças de Gaspar não tinham onde trabalhar... eram trabalhadoras domésticas ou rurais. Uma ou outra trabalhava no comércio". Segundo Leda, quando a Círculo começou a produzir fitilhos, linhas e cordões precisou da mão de obra feminina. "Isto possibilitou a entrada de dinheiro mensal para as famílias, já que a agricultura é uma atividade sazonal", observa.
Na sequência vieram as primeiras fábricas de tecelagem e, em 1953, um marco na história da indústria têxtil de Gaspar: a constituição da Incatex, a popular "fábrica de camisas". "Essa foi a primeira confecção de Gaspar. Cinco ou seis anos depois, a indústria evoluiu e trouxe a malha para fazer roupas de crianças", revela a pesquisadora.
Com o passar do tempo, o mercado cresceu e, em 1975, houve a expansão do setor têxtil com o início da fabricação de máquinas para tecelagem por intermédio das Máquinas Isensee, constituída por Nelson Isensee. Aliás, a primeira fábrica de máquinas têxteis do Brasil. A empresa segue forte e atuante no mercado "É o marco da indústria metalúrgica em Gaspar, mas que está ligado ao ramo da confecção", afimra Leda.
No final dos anos 1980, a economia mundial passou por uma mudança significativa: a chegada ao mercado nacional dos produtos têxteis da China. A mudança atingiu as grandes confecções de Blumenau, e respingou em Gaspar. O coordenador da Câmara Técnica Têxtil do Desenvolvimento Econômico Local (DEL), Douglas Junkes, lembra que esse foi um importante divisor de águas na história da indústria têxtil no Vale do Itajaí. "Muitos trabalhadores das têxteis de Blumenau moravam em Gaspar. Eles acabaram demitidos, outros percebendo que também perderiam o emprego fizeram o natural, que foi investir no seu próprio negócio. Havia pessoal que trabalhava na costura, mecânico de máquinas, motorista de carga.. cada um tinha uma habilidade. Eles passaram a montar pequenas fábricas de confecção". Muitos destes pequenos empreendedores se tornaram grandes empresários do setor têxtil de Gaspar e, uma boa parcela deles, percebeu futuro no setor de moda infantil.
style="width: 50%;" data-filename="retriever">
Um destes empresários é Roberto de Souza, da Rolú Confecções, que no próximo mês completa 32 anos de atividades em Gaspar. A Rolú é uma referência no setor de moda infantil de Gaspar. "Muitos são filhos dessa cultura, desse trabalho. Então, isso foi passando [de geração em geração]. Quando tem uma indústria que se destaca, que vira referência, desperta outras pessoas para o empreendedorismo", opina Souza.
O empresário lembra que há três décadas Gaspar tinha poucas indústrias têxteis e a demanda era pequena, realidade que mudou. "O setor se expandiu e surgiu a necessidade de mais mão de obra e também de qualificação dessa mão de obra".
Como a maioria das empresas têxteis de Gaspar, a Rolú começou pequena, com poucos empregados. Hoje, emprega 92 trabalhadores diretos e tem, em seu parque industrial no bairro Santa Terezinha, o ciclo completo de confecção. Por mês, a Rolú produz cerca de 200 mil peças de roupas, para crianças e adolescentes.
Perfil/ Da mão de obra interna à terceirização para atingir diferentes clientes
Fundada em 1990, pelo empresário Vilson Romalino Batista, a Rhejon Malhas também trabalha com foco na moda infantil. O parque fabril da empresa espalha-se por cinco mil metros quadrados, onde trabalham 100 empregados. Todo o processo é feito internamente, desde o desenvolvimento, talhação, estamparia e costura.
style="width: 50%;" data-filename="retriever">
"Saber que a peça de roupa que tu produziu, que tu desenvolveu está vendendo bem é gratificante. Hoje temos o feedback por meio de ferramentas de controle dos grandes magazines" - Renan Batista Proprietário da Rhejon
Por mês, a Rhejon produz cerca de 150 mil peças de roupas infantis para grandes magazines, a maioria do centro do País. O presidente da empresa, Renan Batista, filho do fundador, sente-se gratificado em saber que as peças produzidas pela sua empresa agradam clientes de várias regiões. "Saber que a peça de roupa que tu produziu, que tu desenvolveu está vendendo bem é gratificante. Hoje, temos o feedback por meio de ferramentas de controle dos grandes magazines. Conseguimos saber como estão as vendas", revela o jovem empresário.
Uma parte do setor têxtil em Gaspar trabalha com o processo de fabricação terceirizado, nas chamadas oficinas de costura. Uma das fábricas que integra esse perfil é a Serelepe Kids, que está no mercado há 18 anos. A empresa desenvolve os modelos e faz o corte. As costureiras montam uma amostra que servirá de molde para a produção em série. Daí para frente, é tudo terceirizado, inclusive a embalagem do produto e a logística.
style="width: 50%;" data-filename="retriever">
?Toda a etapa da costura é terceirizada, além das estamparias, tinturaria, tecelagem. Isso é muito comum em Gaspar, a maioria das confecções trabalha dessa forma.? Marli Nicoletti do Nascimento, sócia-proprietária da Serelepe Kids,
Marli Nicoletti do Nascimento, sócia-proprietária da Serelepe Kids, diz que, direta e indiretamente, tem cerca de 200 parceiros na cadeia produtiva, desde a confecção da peça, revisão, embalagem e expedição. "Toda a etapa da costura é terceirizada, além das estamparias, tinturaria, tecelagem. Isso é muito comum em Gaspar, a maioria das confecções trabalha dessa forma. Aqui, o meu forte é a criação das peças", explica Marli.
style="width: 50%;" data-filename="retriever">
"O número cresceu, a necessidade dessa mão de obra aumentou e também aumentou muito a necessidade de qualificação" -Roberto de Souza, Proprietário da Rolu
Um título que confirma a presença do produto de Gaspar nos mais diversos mercados do Brasil e do mundo
style="width: 50%;" data-filename="retriever">
O setor vai precisar se preparar para um fluxo maior do turismo de compras
Gaspar já é oficialmente a Capital Catarinense da Moda Infantil, porém, no mês passado, foi aprovado na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL) que torna a cidade "Capital Nacional da Moda Infantil". O texto segue agora para o Senado e depois para a sanção presidencial, mas a notícia já anima o setor e faz com que os empresários e o próprio munícipio comecem a pensar nas futuras oportunidades.
O prefeito, Kleber Wan-Dall, enaltece o sentimento de felicidade pelo reconhecimento. "Pra nós é uma sensação de conquista. Ainda tem uma etapa no Senado, mas a fase mais importante e mais difícil foi vencida", afirma. Ele chama atenção que a aprovação do título de Capital Nacional da Moda Infantil, vai virar os holofotes para Gaspar. "O município vai ser reconhecido a nível regional, estadual e nacional por esse setor da economia que é muito forte", destaca.
A proprietária da Serelepe, Marli, destaca que o título está trazendo bastante alegria, mas que junto com a felicidade vêm as responsabilidades. "A responsabilidade de cada empresário de ter o melhor produto, de ter mais qualidade. Gaspar agora é uma referência e os nossos clientes, nossos consumidores vão ficar mais exigentes", reforça a empresária.
Nos últimos dois anos, a Serelepe vem passando por um reposicionamente de mercado, saindo da linha C em busca de atingir consumidores A e B. "A gente tá sendo muito bem aceito depois dessas mudança. E se antes a gente já era bem aceito porque Gaspar já era reconhecido na confecção infantil, agora, com o título fortaleceu, então, a gente é mais reconhecido e essa transição de linha tá sendo muito mais fácil pra gente", explica Marli.
style="width: 50%;" data-filename="retriever">
O presidente da Rhejon também considera o título um reconhecimento importante para o setor. "É um reconhecimento de algo que já existe há muito tempo visto o tamanho da cidade e a representativade que ela tem no mercado brasileiro. É algo realmente impressionante", acentua.
Futuro
A partir de agora, o objetivo é trabalhar cada vez mais para fortalecer essa conquista. Nos planos de Wan-Dall já está a criação de uma feira têxtil na cidade. "Eu vou propor ao DEL (Programa de Desenvolvimento Local) a criação de uma feira têxtil, com exposição, rodada de negócios, desfiles de moda... O objetivo final disso tudo é a geração de oportunidades, de emprego e renda pra nossa gente", destaca o chefe do executivo.
style="width: 50%;" data-filename="retriever">
?Eles acabaram demitidos, outros percebendo que também perderiam o emprego fizeram o natural, que foi investir no seu próprio negócio.? Douglas Junte-se
Dougas Junkes defende a criação de um selo que identifique o título de Capital Nacional da Moda Infantil nos produtos confeccionados em Gaspar. "Nós temos que ter aqui em Gaspar, a partir de agora, e eu vou trabalhar pra isso, um selo de qualidade, um selo de distinção, do produto que sai de Gaspar. Pra isso, nós temos que ser, efetivamente, referência no segmento infantil. Temos que ter pontos de vendas em Gaspar. Hoje, eu tenho certeza que se nós fizermos um trabalho de excelência em marketing, a exemplo de Brusque e Ilhota, as pessoas virão pra cá. Nós temos que nos preparar para isso, pra esse turismo de compras", finaliza Junkes.
style="width: 50%;" data-filename="retriever">
? O objetivo final disso tudo é a geração de oportunidades, de emprego e renda pra nossa gente. Kleber Wan-Dall prefeito de gaspar
Deixe seu comentário