Num primeiro momento, a reação dos pais diante do transtorno é de perplexidade

Ele ainda não tinha completado um ano de idade e já ensaiava algumas palavras e os primeiros passos. Mas o rápido desenvolvimento de Marcos Schmitt da Silva parou quando a criança completou dois anos. Ele regrediu, deixou de falar e não olhava mais nos olhos dos pais. Eliane e Marcos Antônio da Silva não entendiam o que estava acontecendo com o filho, até a mãe assistir uma reportagem na televisão. "Muitos dos sintomas apresentados na reportagem eu identifiquei no Marcos. Foi assim que descobri que meu filho era portador de Autismo", afirma. Chocada e sem saber como agir, a mãe guardou a informação para ela. Dois dias depois, os pais foram chamados na creche que Marcos frequentava. "Na hora, meu marido relutou em aceitar o diagnóstico. Ligamos então para um amigo, que era psicólogo, e ele nos orientou a procurar um neuropediatra. Foi aí que nos convencemos que o nosso filho era autista", explica Eliane. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou, Autismo, como é conhecido, é uma condição geral para um grupo de desordens complexas do desenvolvimento do cérebro. Esses distúrbios se caracterizam pela dificuldade na comunicação social e comportamentos repetitivos.

Hoje, aos sete anos de idade, Marcos tem na família todo o apoio que precisa. "Nosso maior objetivo é fazer com que ele, dentro de suas possibilidades, possa levar uma vida normal". Na casa da família Silva, a luta não é apenas para incluir Marcos na sociedade, mas também o seu irmão, João Vitor, de cinco anos, também diagnosticado com o transtorno. O terceiro filho do casal, Matheus, de dois anos, ainda está em avaliação. "Sabíamos da possibilidade da situação se repetir, mas também sabíamos o quanto um irmão seria importante para o desenvolvimento do Marcos. Por isso, decimos ter mais filhos", afirma Eliane. "No começo foi muito difícil, mas hoje já sabemos como lidar com eles". 

Desde o diagnóstico, Marcos iniciou o tratamento para que o transtorno não se tornasse um obstáculo na sua vida. Até 2016 ele frequentou a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Gaspar e um Centro de Desenvolvimento Infantil (CDI). No ano passado, ele começou a estudar, em tempo integral, na Escola Aninha Pamplona Rosa, no bairro Gaspar Mirim, onde a família reside. Nos primeiros dias de aula, a mãe ficou com receio de como seu filho seria aceito pelos colegas. "Fique com medo de que ele não se adaptasse e de que algum pai poderia não aceitá-lo. Porém, a realidade foi totalmente outra. Todos tem muito carinho e cuidado com ele", comemora a mãe. Depois que começou a frequentar a escola, Marcos evoluiu ainda mais. Uma das mudanças mais significativas foi a interação com outras crianças. "Ele nunca havia tido amigos e hoje o Marcos recebe os colegas da escola em casa. As crianças sabem como brincar com ele e, para nós, esta é uma grande vitória", emociona-se Eliane. 

Assim como os outros alunos do período integral, Marcos frequenta as oficinas de manhã e, à tarde, as aulas normais. A diferença é que ele possui uma professora auxiliar para as oficinas e uma professora suporte na sala de aula. "Hoje, o Marcos é o único aluno autista da escola. Mas ele se adaptou muito bem e não há problemas. O que precisamos ter é apenas muita paciência. Saber respeitá-lo", afirma a professora suporte, Solange Ramos.   

Falta informação 
Apesar de na escola seu filho ser bem recebido, Eliane sabe do preconceito da sociedade com os autistas. "Às vezes, quando vamos em algum local público, como restaurantes ou supermecados, e o Marcos tem uma crise é comum as pessoas nos olharem com reprovação ou até mesmo trocar de mesa", diz. Mas, para ela, esse comportamento é motivado pela falta de informação. "Até mesmo na própria família pode haver esse preconceito", ressalta.

Para tentar conscientizar e informar a sociedade, Eliane e o marido tiveram a iniciativa de criar, em Gaspar, um grupo de pais de autistas. Os encontros são acompanhados também por profissionais, como professores. "Nossa intenção é compartilhar experiências mas também promover ações na cidade, com o objetivo de levar conhecimento à comunidade", diz. 

Na próxima segunda-feira (10) será realizada, na Câmara de Vereadores, uma palestra com o tema "A terapia, família e escola no tratamento do autista". O encontro acontece às 19h e será ministrado pela fonoaudióloga Ana Paula Müller. O evento é gratuito e aberto ao público geral.