Perfil. Filha mais jovem, Andreia Maraschi, contra a trajetória deste conhecido agricultor do Barracão
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Foto: Alexandre Melo/João e a esposa Hulda viveram juntos por 52 anos; no detalhe, a filha Andreia e o marido Carlos Roberto
Orgulho é a palavra que Andreia Maraschi melhor define seus pais. Filha mais jovem do casal João e Hulda Maraschi, coube a ela a missão de cuidar dos pais quando estes já estavam na última etapa das suas vidas - João morreu em 2009 e Hulda em 2014. Por isso, a filha guarda com carinho as mais belas lembranças dos pais. Ela fala com emoção de um tempo de dificuldades, mas que também serviu de aprendizado para a vida. Casada e mãe de dois filhos, Andreia mora exatamente no terreno onde seus avós paternos, Luis e Carolina Maraschi, viveram no começo do século passado. Seu pai herdou as terras - uma parte comprou dos irmãos - e construiu uma nova casa. Depois foi a vez de Andreia fazer a sua casa.
O pai foi agricultor a vida toda, embora tenha trabalhado na olaria de Antônio Bendini. João não era um homem de posses. Era dono de parte das terras que plantava - outra parte era arrendada - na Rua Amádio Beduschi, no Barracão. O sustento da família era todo produzido em cima desta terra. Por isso, o trabalho era duro. O pai cuidava da lavoura de mandioca, do gado, das vacas leiteiras, da criação de porcos e do engenho de farinha. A mãe, por sua vez, tomava conta dos sete filhos - seis mulheres e um homem - e costurava. "Nós éramos muito pobres, muitas vezes o almoço era polenta e ovo, mas ovo dividido ao meio", recorda Andreia. A mãe remendava as roupas dos filhos, para que pudessem usar um pouco mais. Calçado era raridade, só em dia de festa; as crianças caminhavam descalças de casa até a escola Marina Vieira Leal, numa distância de mais ou menos 2km. Mas, não foi por isso que Andreia estudou pouco. Ela precisava ajudar em casa e na lavoura.
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"Ele trabalhou muito para ter um patrimônio, aliás, ele só trabalhou a vida toda".
Andreia Maraschi
Este foi um tempo difícil, não apenas para a família Maraschi, mas para a maioria dos moradores do Barracão. O tempo dos engenhos de farinha, dos alambiques, das olarias e das plantações de mandioca. A luz elétrica demorou a chegar, água só de poço artesiano e as estradas de barro dificultavam o deslocamento das carroças. A família se apegou muito à religião. O casal João e Hulda era muito participativo nas festas da Igreja Nossa Senhora do Rosário. "Meu avô ajudou a construir a igreja e o meu pai a gruta, ao lado da igreja", conta Andreia. Ela admite que seu pai era uma pessoa rígida, mas honesta e justa. "Ele trabalhou muito para ter um patrimônio, aliás, ele só trabalhou a vida toda". E de tanto verem o pai acordar de madrugada e só parar ao anoitecer, Andreia e seus irmãos - Dalci, Sueli, Nelson, Evanilde, Silvana e Sandra - não seguiram pelo caminho da lavoura, mesmo as mulheres depois de casadas. O destino foram as fábricas têxteis que recrutavam mão de obra em todas as regiões do Vale. Andreia foi a única da família a não trabalhar na indústria. 'Nem sei como é uma fábrica de malhas por dentro", afirma. Ela foi empregada da Plasvale por 13 anos e outros dez da Vineplast. Deixou o último emprego porque precisava cuidar dos pais, que já moravam com ela. Passou então a prestar serviço para a Vineplast, o que faz até hoje. Andreia costura embalagens plásticas para cobertores e edredons. Ela diz que o Barracão mudou muito, tá bem melhor para se viver. "Está tudo mais fácil, tem muitas empresas, estradas e ruas pavimentadas. Eu gosto muito daqui", finaliza.
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Os sete irmãos Maraschi e um primo (o menor)
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