Irmãos participam de projeto voluntário para ajudar os refugiados de Uganda
Uganda, na África, é considerado um dos países que mais acolhe refugidos no mundo. E foi para lá que os irmãos Tato e Tuco Egg foram no início deste ano. A viagem não foi um passeio, mas uma participação especial no projeto "Refugiados em Uganda", que tem como objetivo dar apoio a ações humanitárias estabelecidas em Kampala, capital do país, e no campo de Rwamwanja, que acolhe aproximadamente 64 mil pessoas. E qual foi a missão destes voluntários durante os 15 dias que passaram no país africano? Documentar, em vídeos e fotos, a realidade destes refugiados. Uma tarefa nada fácil, levando em consideração que estas pessoas são sobreviventes de sangrentos conflitos e da violência de seus países.
"A linha central do produto final que estamos produzindo se fundamenta em depoimentos. Então temos que conhecer as pessoas e ouvir suas histórias. E, às vezes, isso é bastante constrangedor, porque você é um branco, vindo de alguma grande cidade, cheio de equipamentos caros e complexos invadindo a privacidade de gente simples e muito, muito sofrida. Diante de você e das câmeras eles têm que contar seus dramas, dramas terríveis. É importante ser tão humilde e respeitoso quanto possível", explica Tuco, que é publicitário e reside em Blumenau.
Aos 43 anos de idade, Tuco vivenciou uma experiência chocante, dramática, intensa... mas recompensadora. Tudo o que viu entre os dias 26 de janeiro e 9 de fevereiro ficaram para sempre em suas lembranças. "Participar de um projeto assim é, acima de tudo, um privilégio. O voluntário explica que os constrantes são assustadores. Kampala, a capital de Uganda, é uma grande metrópole, com empresas, bancos, edifícios, mas imersa em uma pobreza profunda: falta emprego, escolas, investimentos em saúde. E, na parte ainda mais pobre da cidade, estão os refugiados. Em Rwamwanja, campo onde vivem quase 50 mil pessoas, as condições para sobreviver são mínimas: não há energia elétrica, saneamento básico e nem água tratada.
Mas estes parecem ser os menores problemas para os refugiados - pessoas que combinam toda esta pobreza com histórias terríveis de violência. "A maioria deles perdeu gente na guerra. Parte da família ou até mesmo a família toda. Pessoas que viram seus familiares serem assassinados a sangue frio, serem torturados, violentados de todas as formas. Sentar na frente de alguém que viveu isso, na sua casinha de taipa e chão batido e ouvir suas histórias, olhando nos seus olhos, é de dar nó no coração de qualquer um", relata Tuco. Realidade que marca e traz reflexões ao voluntário. "Teve uma mulher, Salume Uwabagirat, que chorou na nossa frente, enquanto nos contava que seus pais foram mortos na guerra e seus nove irmãos assassinados. Só ela sobreviveu. Por estar sozinha, casou-se cedo, com 16 anos, mas seu marido também foi morto em seguida. Ela nos contou tudo isso sem conseguir olhar para nenhum de nós e nem para as câmeras. Olhava apenas para os cantos. O que sobra dentro dela? De onde vem a força para ainda permanecer de pé?", emociona-se.
São histórias como estas que estarão reunidas no material que está sendo produzido pelos irmãos. A dupla trabalha agora na edição, montagem e tradução, já que tudo foi captado nos dialetos africanos. A expectativa é finalizar tudo em dois meses. "É significativo que eu tenha ido parar em um campo de refugiados exatamente agora, quando os poderosos do mundo estão saindo de blocos de cooperação, fechando fronteiras, erguendo cercas e muros. Espero que essa experiência me ajude a manter abertas as fronteiras da minha alma, a derrubar os muros que erguemos sem perceber. A construir pontes com meus irmãos, a entender que somos todos um, a humanidade toda, do mais distante ao meu vizinho".
Os voluntários
Tato Egg mora em Curitiba (PR), é publicitário, professor de fotografia e cinema. Tuco mora em Blumenau e é também designer gráfico e escritor. Antes da missão em Uganda, os irmãos já haviam atuado em projetos voluntários em periferias, com moradores de rua e no sertão nordestino. Em 2012, eles estiveram pela primeira vez na África, onde trabalharam com crianças estigmatizadas por acusações de bruxaria na Nigéria. O voluntaiado está no DNA da família. "Nosso exemplo vem de casa, quando éramos crianças víamos nossos pais receberem doentes do interior para tratamento médico na capital", recorda-se Tuco.
Saiba mais:
Asociación Religar: www.asociacionreligar.org
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