A nova administração municipal parece querer dar um novo impulso para o setor
Um novo foco para o turismo
Gaspar ainda não despertou para o turismo, embora exemplos não faltem ao seu redor. O maior deles é o de Blumenau. Sem condições de concorrer com o turismo de verão, a cidade vizinha vem criando roteiros fora da alta temporada. Eventos como o Festival Brasileiro da Cerveja estão conseguindo movimentar o turismo em Blumenau, que vem consolidando a sua vocação para o turismo de negócios, além, é claro, da Oktoberfest, que foi reformatada e hoje agrada tanto aos moradores da cidade quanto os turistas. Gaspar quer dar um novo impulso para o turismo, pois esse é um setor que parece não ver crise, e isso fica evidente nos números da Santur, o órgão de turismo no estado. O fluxo de turistas do Mercosul cresceu em torno de 15% nos nove primeiros meses de 2017. E a tendência é que tenhamos uma das melhores temporadas de verão dos últimos anos. Gaspar tem meia dúzia de parques aquáticos que trazem mais de 300 mil turistas durante o ano para o município. O problema é que a estadia destes turistas na cidade é breve, a maioria não passa de um dia. Por isso, a economia do turismo não dispara em nossa cidade. É preciso atrair o turista e criar atrativos que possam mantê-lo por mais tempo na cidade. Talvez a nova administração, com uma visão mais moderna e pessoas mais capacitadas, possa dar a devida importância ao turismo em Gaspar, pois recantos e belezas naturais a cidade "Coração do Vale" tem de sobra.
Um potencial imenso desperdiçado
Carecemos de ações coordenadas entre os setores público e privado que divulguem e deem segurança para quem quer conhecer os inúmeros atrativos do nosso País. Vivemos dias de Milena, aquela "primeira dama do turismo", que se transformou na metonímia do turismo do Brasil. A coisa, pela coisa representada. O abandono e a falta de noção pelo trato governamental com nosso setor. Em tudo isso eu pensei voltando dos Estados Unidos para o Brasil.
Em 2014, o Brasil recebeu 656 mil turistas americanos. Eles vieram ocupando cerca de 40 poltronas por dia, espremidos entre 208 brasileiros em cada avião. São cinco brasileiros para cada americano em rotas majoritariamente da Flórida, Atlanta, Dallas e Houston. Segundo a revista Época, a média de 1.800 americanos circulando nos aeroportos brasileiros por dia representa 0,5% do total de americanos que viajaram para fora do seu país. Mais ou menos na mesma época, a Índia recebeu pouco mais de 1,2 milhão de turistas americanos. A Índia também exige e cobra pelo visto de turista dos americanos e fica muito longe dos Estados Unidos, fala um inglês todo especial para um turista de Arkansas, e suas condições de locomoção estão longe de se parecer com as autobahns alemãs. A alimentação oferece desafios sérios aos paladares menos acostumados ao "diferente" e o calor e as distâncias a serem percorridas a pé podem acabar com suas férias. Por que fazem todo este sacrifício, então, os 1% de viajantes internacionais norte-americanos? Porque a Índia oferece uma experiência que não pode ser vivida em nenhum outro lugar, só na Índia - e isto tem um preço. Em 2014, os indianos cobraram esse preço a 23 milhões de turistas, e significou quase 7% do PIB do país e cerca de 37 milhões de pessoas empregadas.
Mas por que eu estou falando tanto da Índia? Porque muitos dos meus pares acreditam que as dificuldades do Brasil no cenário turístico mundial se devem ao fato de estarmos longe, de não falarmos inglês, do visto que exigimos e da nossa indigesta feijoada. Vamos falar de outra coisa então. Segundo o governador da Flórida, Rick Scott, falando para hoteleiros, operadores de receptivo, restaurantes e transportadores turísticos, em 2014, 97 milhões de turistas visitaram Orlando, sendo 1,5 milhão de brasileiros, ou seja, 1,54% do total, segundo a globo.com. Somando a eles os britânicos, japoneses, canadenses e mexicanos, chegaremos a um percentual perto 85% de turistas americanos na Flórida. Porque tantos americanos assim? Porque, para ir lá, os americanos, não precisam de passaporte, falam a mesma língua, não têm uma barreira gastronômica, e obviamente, por uma liberdade semântica minha, porque dá para ir a Disney "a pé", se você morar no "Sul profundo" americano. No caso do Brasil, esse é o mesmo motivo para que a arrasadora maioria de brasileiros vá a Porto Seguro, Foz do Iguaçu, Salvador, Fortaleza e no Rio de Janeiro.
Na década passada, eu ouvi do então prefeito de Curitiba que "a cidade boa para os turistas é a cidade boa para seus habitantes", e que os melhores investimentos que você pode fazer em promoção turística são os investimentos na qualidade de vida da sua população. Nos dias de hoje, a tecnologia da comunicação tornou suas sábias palavras ainda mais evidentes. Imagens ao vivo na CNN mostram arrastões na praia no Rio de Janeiro. O surto de dengue e a microcefalia? Na Fox News, o diretor do hospital de Fortaleza reclama da falta de recursos. Na capa dos New York Times, aparece o enésimo político flagrado tungando a merenda. Consequentemente, as autoridades americanas avisam: "Está pensando em ir ao Brasil? Pense de novo..."
Pense agora no que o cinema fez às nossas cabeças quanto ao nosso desejo de visitar a Índia, Paris, Flórida e Nova York. Já a nossa propaganda mais "eficiente" no cinema são as imagens e diálogos de Dadinho e o capitão Nascimento em Cidade de Deus. Ou seja: tendo inúmeros lugares entre os mais belos do mundo, apenas conseguimos vender nossos problemas e deficiências sociais. A política de turismo que precisa ser implantada inclui, é claro, um film comission atuante, publicidade e feiras internacionais, isenção de tarifas para charters etc. Carecemos de uma ação coordenada que dê segurança e tranqüilidade para quem quer curtir um samba, dançar um forró ou qualquer um dos atrativos de nosso país. Este não é um caso de varejo - se uma cidade ou outra é mais ou menos segura -, mas sim de atacado. Precisamos que nossa imagem seja reconstruída com urgência sob pena de dependermos dos nossos próprios bolsos ou da oscilante balança do turismo entre o Brasil e a Argentina.
Julio Gavinho
Executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, ex-diretor da doispontozero Hotéis e criador da marca ZiiHotel.
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