Exposição retrata o Alto do Moura, em PE
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local onde as imagens foram captadas é um bairro especializado em arte em barro chamado Alto do Moura (Fotos: Magali Moser)
Trabalho é da jornalista gasparense Magali Moser e do historiador André Martinello
"Barro em mãos: olhares sobre o maior Centro de Arte Figurativa das Américas" é o nome da exposição que a Biblioteca Central da Universidade Regional de Blumenau (FURB) recebe neste mês. A mostra, que teve início na quarta-feira (8), surgiu da inquietação com a necessidade de apresentar uma região tão complexa e talvez incompreendida como o Nordeste brasileiro, a partir de outros ângulos. É assinada pela jornalista gasparense Magali Moser e pelo licenciado em Geografia e historiador André Souza Martinello e tem como objetivo ampliar a noção de um mundo distante e idealizado, como costuma ser representada esta região. A exposição fica no local até o dia 1º de março do ano que vem, e pode ser conferida gratuitamente pela comunidade. As visitas podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 22h, e aos sábados, das 8h às 17h, no piso térreo da Biblioteca Central.
O local onde as imagens foram captadas é um bairro especializado em arte em barro chamado Alto do Moura. Localizado no município de Caruaru/PE, a 130 quilômetros de Recife, no agreste pernambucano, ao qual foi conferido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) com o título de "Maior Centro de Arte Figurativa das Américas". O trabalho de transformar barro em obras de arte é um processo demorado e uma das poucas alternativas de renda para parte considerável da população local de Caruaru e entorno. Nas mãos hábeis dos artesãos, a argila ganha a forma de animais, bois, retirantes, cangaceiros, esculturas e estatuetas que revelam costumes e tradições da rica cultura nordestina. As formas em artes transformadas pelas mãos podem ser metáforas sobre aquela sociedade (como ela se representa pela arte), além de serem práticas de trabalho, expressam a capacidade de criação.
Um dos destaques da exposição é valorizar um dos nomes mais expoentes desse tipo de arte, o chamado Mestre Vitalino (1909-1963), nascido em Caruaru. Embora ele já tenha falecido há mais de 50 anos, seu lugar de moradia indica a memória de Vitalino como uma das figuras mais importantes na influência de uma variação e tipo de arte que tem sido cada vez mais popular. Entre as imagens fotográficas expostas, está a réplica da residência de Mestre Vitalino, cuja edificação parece ter como base o mesmo tipo de material utilizado das obras de arte. A produção de artesanato com o barro como matéria-prima é reconhecida como a representação da identidade nacional, com peças em coleções e em museus espalhados pelo mundo.
"Diante de uma visão ainda marcada por preconceitos, estereótipos e rótulos pejorativos que se costuma enunciar sobre a cultura nordestina, também tão rica em tradições e festas, acreditamos que mostrar essas características da vida artesanal e cultural do povo local possa contribuir para desmistificar algumas ideias pré-concebidas sobre este fragmento do país", resumem os autores. "Valorizar as contribuições dos artesãos do Alto do Moura na arte popular brasileira pelo viés da fotografia parece-nos um reconhecimento necessário das nossas próprias diversidades e símbolos folclóricos", finalizam. É uma exposição que busca colocar em diálogo aspectos da diversidade cultural brasileira.
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