Notícias se multiplicam nas redes sociais e geram junto o fenômeno das notícias falsas
Sabe aquelas mentirinhas que você pregava na sua mãe quando era criança, tipo - "Sim, já escovei os dentes". Pois é. Essas pequenas inverdades, que toda a criança um dia conta não faria mal se não fossem elas percursoras de um mal maior que atinge, com gravidade, as redes socias e sites de notícias. E como tudo na internet deriva da língua inglesa, esse vírus da mentira atende pelo nome de "fake news", que traduzindo para o bom português significa "notícia falsa". Você receber, ler e acreditar na notícia não teria grande impacto; o problema é quando você compartilha. A partir daí, milhões de pessoas passam a ter acesso à mesma falsa notícia, com efeitos devastadores. Quem já foi alvo de uma fake news sabe o tamanho da encrenca, afinal, a primeira notícia sempre tem maior amplitude.
Pablo Vittar, a cantora drag queen mais badalada do Brasil no momento tem sido o alvo preferido das fake news. Uma dessas notícias dizia que a sua foto iria estampar a nota de 50 reais; outra inverdade é a de que Pabllo iria cantar o hino nacional na Copa da Rússia. Todas essas "fake news" incomodavam a cantora, mas hoje ela diz que dá risada. Algumas notícias falsas, porém, precisam ser rapidamente desmentidas, pois podem prejudicar a carreira e a vida pessoal. No final do ano passado, Pabllo usou a sua rede social Instagram para desmentir a fake news que afirmava que receberia R$ 5 milhões por intermédio da Lei Rouanet de incentivo à cultura no Brasil. "Manas, eu queria saber que dinheiro é esse. Cinco milhões de reais? Não sobrou louça, não, do Natal de vocês. Vão lavar uma louça", defendeu-se a cantora. E complementou: "As pessoas veem notícias ao invés de ir atrás das fontes, elas ficam especulando, especulando, especulando...Jesus".
Em recente debate na Universidade Regional de Blumenau (Furb), com o título "Fake News: A Polêmica Digital", profissionais da comunicação e professores de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda discutiram os impactos sociais das fake news. O tema é ainda mais atual porque estamos às portas de mais uma campanha eleitoral. As redes sociais, um campo minado de notícias falsas, podem ser muito exploradas pelos adversários políticos.
A conclusão, porém, do debate é que ainda não existem mecanismos tecnológicos e jurídicos sustentáveis para se evitar a propagação das fake news. O principal antídoto ainda é a educação voltada para uma mudança de comportamento social. "Todos querem ser o primeiro a dar a notícia e a compartilhar, isso alimenta o ego e dá visibilidade", comenta o professor e publicitário Moisés Cardoso. Adriano Haake, outro publicitário, alerta que leva-se 20 a 30 anos para se construir uma marca. "De repente se espalha que dentro de uma garrafa de refrigerante havia um rato ou que a funcionária atendeu mal o cliente, enfim algo que pode ser verdade, meia verdade ou simplesmente não existir", afirma.
A coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda, professora Fernanda Ostetto, revela preocupação pelo fato da maioria das pessoas acreditar em tudo que vê e lê na internet. "Tem gente manobrando essas pessoas com informações falsas", afirma. O jornalista e também professor da Furb, Evandro Assis, alerta que é preciso separar fake news, que é uma notícia produzida claramente com a intenção de propagar uma mentira, e a a notícia com erro de informação. "Errar uma informação faz parte da profissão, o que não se deve é alimentar uma falsa notícia", acentua.
Rogério Cristofoletti, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), admite que a existência da fake news é ruim para a comunicação, porém, também vê como uma boa notícia para o jornalismo que, enfim, terá a oportunidade de mostrar que notícias bem apuradas se distinguem das demais.
O professor chama atenção que as pessoas recebem as informações, principalmente pela rede social whatsapp, de quem é do seu círculo de amizade, portanto, em quem elas confiam. Todavia, orienta: "Quando você receber uma notícia com muitas figurinhas e pontos de exclamações e que não reconhece a origem tem que desconfiar. Sempre pensar um pouquinho antes de compartilhar; Embora venha de uma pessoa que você confia, as fontes não são confiáveis e isso pode colocar em risco não só o nosso entendimento da realidade, mas toda a noção de informação de determinada comunidade"., acrescenta
Com a internet longe de ser um local seguro, as fake news vão se disseminando, e já surgem propostas de leis para criminalizar este tipo de ação. O Congresso Nacional esboçou o anteprojeto que altera os códigos Penal, Eleitoral e o Marco Civil da Internet. A matéria, porém, já nasceu polêmica, pois prevê a retirada do conteúdo dos sites sem a necessidade de autorização da justiça, o que para especialistas trata-se de censura prévia. A minuta define o que é uma fake news: "texto não ficcional que, de forma intencional e deliberada, considerada a forma e características de sua veiculação, tenha o potencial de ludibriar o receptor quanto à veracidade do fato". O texto estabelece ainda que "caberá ao usuário avaliar o grau de confiabilidade das notícias e apresentar reclamação sobre os conteúdos junto às autoridades competentes. Ao provedor da internet cabe remover ou bloquear o conteúdo falso no prazo de até 24 horas.
A discussão sobre como conter as fake news parece infinita e sem solução, mas precisa ser massificada por meio do debate e de campanhas na mídia, pois o prejuízo que vem causando às instituições e pessoas já influencia negativamente no comportamento da sociedade. Um mal terrível.
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