Gasparense prova que não existe tempo e nem barreiras para recomeçar os estudos

Costumam afirmar que, quando se tem vontade, tudo é possível, não é mesmo? E, de fato, muitas das nossas conquistas devem-se ao empenho e dedicação que colocamos em tudo que fazemos. Um exemplo de que isto é verdade é a história de Fernando Silveira, de 35 anos. Ele teve a coragem de voltar à sala de aula depois de mais de 20 anos afastado. Até o ano passado, o gasparense foi aluno da Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde voltou a sonhar com voos mais altos. Em outubro de 2016, de uma forma despretensiosa, ele resolveu fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). 

O resultado? Fernando foi aprovado nas nove disciplinas e sua média (477) foi superior à média nacional (455). Ele não conseguiu apenas a nota para passar em redação. O desempenho deu a ele uma vantagem: concluir o ensino médio dois anos antes do previsto. Fernando, que preferiu não mostrar o rosto na reportagem, pode ainda optar em não fazer o supletivo e repetir o Enem, sendo que, no próximo exame, ele só precisa obter os pontos necessários na redação. Fernando se matriculou no EJA, no Centro de Gaspar, em 2015.

A última vez em que ele havia estado em uma sala de aula foi há 24 anos, quando teve que abandonar os estudos para trabalhar. Ele estava apenas na 4ª série mas a necessidade do emprego fez ele desistir. "Eu não ia para a escola, mas isto não significa que não tinha vontade de aprender. Sempre fui muito curioso e aprendi muitas coisas pesquisando. Foi assim que comecei a usar, sozinho, o computador", afirma. Há seis anos, Fernando trabalha em uma empresa de produtos químicos, onde hoje ocupa um cargo de gerência. Estabelecido profissionalmente, o que fez então o gasparense procurar a EJA?

"Foi minha noiva que me incentivou. Quando ela trouxe a ideia eu disse que já tinha passado o tempo de estudar, que era muito tarde e que eu não iria conseguir acompanhar a turma, que teria dificuldades. Mas fui amadurecendo a ideia e decidir tentar", relembra. No primeiro dia de aula, Fernando estava desconfiado, um pouco constrangido. Mas foram apenas alguns minutos de apreensão. "Os professores foram muito receptivos, eles estão lá para ajudar". Depois de voltar a estudar, Fernando não parou mais. Este ano se matriculou em um curso de inglês e, depois que concluir o ensino médio, tem planos de fazer um curso técnico e depois uma faculdade. "Aprendi que nunca é tarde para recomeçar. Muitas vezes, não acreditamos em nosso potencial e temos o costume de nos limitarmos.

Mas é preciso entender que somos capazes de muitas coisas. Primeiro, temos que acreditar e, depois, se dedicar. Tudo o que plantamos vamos colher um dia. Cada linha que eu escrevo, eu aprendo um pouco mais".

Para todos 
Para a diretora da EJA, Marli Sonta, sempre é possível aprender, basta ter interesse. Além do EJA do Centro, há polos nas escolas Zenaide Schmitt Costa, no Santa Terezinha, e Norma Mônica Sabel, no Margem Esquerda. Ao todo, 229 alunos estão matriculados. Para estudar no EJA é preciso ter 15 anos ou mais. "Hoje, nossa aluna mais idosa tem 81 anos", ressalta. As vagas, porém, são limitadas. Atualmente tem 20 alunos na fila de espera. "Nossa prioridade é atender alunos que estejam trabalhando", afirma a diretora.