O próspero comerciante foi um dos primeiros representantes do bairro na Câmara Municipa de Gaspar


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Joel guarda com carinho os documentos que pertenceram ao pai / Foto: Alexandre melo - Jornal Metas/

O Barracão é um dos bairros mais prósperos de Gaspar, e não apenas por ser a rota da malha, mas também porque, nos primórdios da sua ocupação, famílias tradicionais, vindas de outras regiões do Estado, País e até do exterior ali fincaram raízes e, por mais de um século trabalharam pelo desenvolvimento agrícola, comercial e industrial do Barracão. A lista de sobrenomes é grande: Beduschi, Barbieri, Melato, Bendini, Albereci, Censi, Toledo...O histórico de trabalho e dedicação ao Barracão criou verdadeiras lendas dentro destes clãs familiares. Alguns personagens se perpetuaram em nomes de ruas, praças, escolas, creches entre outros equipamentos públicos. É o caso de Braz Toledo dos Santos, nome de uma rua do Barracão. E a história registra que a homenagem é merecida por tudo o que ele fez pelo bairro.

Filho de José Toledo dos Santos e Maria Reis, a popular Bidoda, Braz Toledo nasceu em 11 de fevereiro de 1911, tendo sido registrado em Brusque porque, nesta época, o Barracão pertencia ao município vizinho. Como todo o bom filho ou neto de imigrantes, ele fez seus primeiros "estudos" no cabo da enxada, ajudando o pai nas lavouras de milho, mandioca e cana-de-açúcar. Só mais tarde iria se formar em uma escola de Brusque, tornan-se um homem "letrado". O conhecimento lhe deu certa vantagem em relação à maioria dos filhos de colonos da época, pois Braz Toledo tinha certeza que a agricultura não era o seu objetivo de vida. Por isso, muito cedo aprendeu o ofício de alfaiate. Juntou certa quantia em dinheiro e prestígio e casou-se com Hercília Vailatti, de família tradicional do Barracão. Eles tiveram seis filhos, sendo cinco mulheres - Mercia, Elenita, Reasilvia, Marilia e Anemari - e um homem, Joel, este o mais jovem e único ainda vivo.

Hoje morando em Blumenau, Joel conta que seu pai sempre foi do ramo do comércio. Além de alfaiate, Braz Toledo trabalhou como balconista, caixeiro-viajante - denomiação que se dava ao profissional que vendia produtos fora da sua região, dono de mercado, lanchonete e olaria. Aliás, a Olaria, instalada no Barracão, forneceu muitos tijolos e telhas para a obra de construção da terceira igreja Matriz São Pedro Apóstolo. Joel conta que o amassador de barro para fazer os tijolos e telhas era movimentado por bois. O filho também revela que seu pai era um apaixonado por corridas de cavalo, sendo um exímio cavaleiro.

Do envolvimento religioso e social com a comunidade, nasceu um líder que aos poucos foi se interessando por política. A vida pública vai marcar um período importante da vida de Braz Toledo.

Ele passou a ser cortejado pelos políticos e partidos políticos da época. Em 1940, foi nomeado, pelo então interventor do Estado, Nereu Ramos, diretor do Serviço de Fomento da Produção Vegetal do Estado, vinculado à Secretaria da Fazenda e da Agricultura. Na mesma época, o seu trabalho chamou a atenção do prefeito de Gaspar, Leopoldo Schramm, que o nomeou Fiscal da Prefeitura, o que tornou Braz Toledo ainda mais conhecido na comunidade. Em função do trabalho, ele se mudou para uma casa em frente a Linhas Círculo, na rua Dr. Nereu Ramos. A residência ainda existe até hoje.


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Voz ativa no movimento de emancipação do município, doze anos antes, Braz Toledo aceitou o convite para disputar uma vaga no legislativo gasparense. Ficou como segundo suplente da UDN, mas aqui cabe uma ressalva: eram apenas cinco vereadores em cargo não remunerado. Ele acabou assumindo cadeira em 1949, tornando-se um dos primeiros vereadores do Barracão. Braz Toledo substituiu o professor Luiz Franzói, que se licenciou para tratar de assuntos particulares. O presidente da Casa legislativa, nesta época, era Bernardino Antônio de Souza.

No curto período que ocupou cargo eletivo, Braz Toledo deu voz ao povo do Barracão, sua terra natal, levando para o legislativo as principais reivindicações da comunidade. A sua experiência como agente florestal e fiscal da Prefeitura também foi importante. Depois de cumprir o mandato, ele ocupou o cargo de interventor da Associação Rural de Gaspar. Foram apenas dois meses, mas suficientes para reorganizar administrativamente a instituição. Finalizado este trabalho, conta Joel, a família mudou-se para a Rua João Pessoa, no bairro da Velha, em Blumenau, e Braz Toledo reassumiu o ofício de alfaiate, a sua grande paixão. "Ele tornou-se um profissional de mãos cheias e formou uma boa clientela", diz o filho. O fruto deste trabalho foi a construção de um prédio, onde instalou um comércio de alimentos em parceria com uma das filhas. Em 1967, já um próspero comerciante de Blumenau, Braz Toledo e outros comerciantes da cidade fundaram a Associação Profissional dos Representantes Comerciais de Blumenau.

Anos mais tarde, ele decidiu retomar ao trabalho de alfaiate, Joel recorda que o pai especializou-se em produzir roupas de couro, como jaquetas, paletós e coletes.. A última atividade comercial de Braz Toledo foi a de proprietário de uma lanchonete, no bairro da Velha. Braz morreu em 8 de junho de 1976, aos 65 anos, tempo suficiente para escrever algumas das páginas mais ricas da história de Gaspar.

Remexendo em alguns papéis que eram do seu pai, Joel encontrou uma espécie canudo, onde dentro estavam vários documentos, como a Carteira do Trabalho de Representante Comercial, a Carteira de Reservista Militar, título eleitoral, registro de arma e ofícios de nomeação na época em que trabalhou para o Governo do Estado e Prefeitura de Gaspar, além do documento que oficializa a sua posse na Câmara Municipal de Gaspar, datado de 16 de agosto de 1949. Joel guarda tudo com muito carinho, pois é a história da sua família.