João Leopoldino Spengler, o 'Dr. João', completa 50 anos de profissão e abre o livro das suas memórias


Kássia Dalmagro/Jornal Metas

Dr. João exibe com orgulho o certificado de médico


Quem mora em Gaspar pode até não ter sido paciente, mas certamente conhece ou já ouviu falar do "Dr. João". O clínico geral, João Leopoldino Spengler, é um dos mais antigos médicos gasparenses e o que acumula mais anos de atividade. Neste mês de novembro, ele comemora o Jubileu de Ouro da formatura no curso de Medicina. Os 50 anos de formado foi marcado por homenagens em Curitiba, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde estudou. Os eventos, realizados entre os dias 22 e 24 de novembro, reuniu a turma de 1968. "Foi um momento ímpar, de muita emoção, quando tive a oportunidade de reencontrar colegas que não via há 50 anos", diz. Em Gaspar, a data será lembrada no dia 14 de dezembro, com a celebração de uma Missa em Ação de Graças, na Igreja São Pedro Apóstolo.

Hoje, aos 76 anos de idade, João Spengler nem pensa em se aposentar. Enquanto tiver saúde, ele continuará atendendo e exercendo a profissão que ama. "Gosto de trabalhar e a medicina é a minha vida. É muito gratificante ajudar as pessoas, ver o doente melhorar. O atendimento não se resume a uma receita médica, o paciente precisa de atenção e carinho", ensina o médico. E são estes cuidados que fazem o "Dr. João" ser tão requisitado. Em seu consultório, no Atitude Centro Empresarial, ele atende, em média 30 pacientes por dia, entre consultas e retornos. "O mais interessante é que todos os dias surgem novos pacientes ", conta o médico. Com tantos anos de profissão, o clínico geral se tornou o médico de mais de uma geração das famílias gasparenses. "Tem pessoas que me procuram e falam: doutor, você já me atendeu, atendeu a minha filha, atende agora a minha neta?".

Logo após a formatura, o Dr. João retornou para Gaspar. Corria nas veias do jovem médico o desejo de poder atender sua comunidade. O primeiro consultório, ainda em 1969, ficava em um casarão na rua Coronel Aristiliano Ramos, no Centro da cidade, onde hoje está o prédio do Luizinho Alfaiate. Muitos atendimentos, porém, ocorriam nas casas dos pacientes. O médico recorda que muitas vezes se dirigia até o interior da cidade para os atendimentos e até ao Complexo do Baú, em Ilhota, ele ia. Hoje, os atendimento domiciliares são mais raros, mas ainda assim o Dr. João ainda é chamado.

Com a abertuar do Hospital de Gaspar, em 1970, veio a mudança de endereço da clínica. "Como naquela época a maioria dos pacientes encaminhados para o hospital eram atendidos por mim, recebi o convite para instalar o consultório lá", recorda-se. Foi o médico quem encaminhou o primeiro paciente à casa de saúde e também fez o primeiro parto no Hospital de Gaspar, no dia 16 de agosto de 1970. A bebê era Terezinha Sansão Lessa, que hoje tem 48 anos. Atualmente, o médico acumula mais de 4 mil partos.

Em 2007, quando o hospital fechou as portas (reabriu em 2009), a clínica mudou para uma residência na rua Sete de Setembro. Ficou por lá até 2013, quando a casa foi atingida por um princípio de incêndio. O médico escolheu então o Atitude Centro Empresarial para instalar o novo consultório. Tecnologia nunca foi o forte do Dr. João. "Somente em 2004 é que comprei um computador. Até então, todas as informações dos pacientes ficavam registradas em fichários", recorda-se. Desde então, ele já realizou mais de 48 mil consultas. Paralelamente aos atendimentos, o Dr. João também exerceu, até outubro deste ano, a medicina do trabalho na Bunge Alimentos, no bairro Poço Grande. "Uma coisa que é importante frisar é que se estou até hoje na ativa é porque recebi muito apoio e incentivo da minha família, principalmente da minha esposa, Maria Helena. Até hoje, tenho hora para sair, mas não para voltar para casa". Com ela, João teve quatro filhos e cinco netos. Apenas um deles, Juliana, seguiu a profissão do pai: é cardiopata.

Sonho de infância 

Quando criança, João residia em um sítio, no bairro Pocinho, com os pais Maria Elza e Carlos Adão Spengler (in memorian), e 10 irmãos. A família de agricultores nem imaginava que seria possível formar um dos filhos em uma universidade. Porém, aos 11 anos de idade, João manifestou o sonho de se tornar médico. Ele não sabe exatamente o que o motivou à profissão, mas lembras-se que naquela época era muito dificíl conseguir atendimento. "Não havia médicos em Gaspar, somente em Blumenau. E naquele tempo o transporte era complicado". Ele conta que muitos foram os sacrifícios dos pais para que ele realizasse o sonho: João foi o único dos irmãos a fazer uma faculdade. O médico lembra que, para isso, recebeu grande ajuda da família Beduschi. "Prestei vestibular com o dr. Augusto Fernando Beduschi. Ele também era gasparense e éramos amigos. Seu irmão, Amadeu Beduschi, também era médico e já estava em Curitiba (PR). Foi ele quem viabilizou minha ida para lá", revela. Desde a faculdade, o médico Augusto permaneceu em Curitiba e faleceu há dois anos. Durante a faculdade, Dr. João morou no Sanatório Médico do Portão onde prestava serviços em troca de casa e comida. Hoje, ele conta com orgulho que, dos 1.200 candidatos, passou em 25º lugar. O médico não consegue conter a emoção e as lágrimas são inevitáveis ao relembrar que seu pai, depois de tanto esforço, não conseguiu vê-lo formado. "Ele morreu quando eu estava terminando o terceiro ano da faculdade. Foi de repente, ele sofreu um infarto. Até hoje sinto muito por ele não ter participado daquele momento d aminha vida, depois de todos os sacrifícios que fez para eu estudar". Sentindo que não estava muito bem, alguns meses antes de falecer, Adão chamou o filho homem mais velho - Raul - e pediu a ele que não deixasse de realizar uma grande festa de formatura para o futuro médico João. "Ele separou três bezzeros e disse para meu irmão que eles seriam para a minha formatura. Foi uma linda festa que reuniu cerca de 600 pessoas, só faltou meu pai", diz com saudades o médico e cidadão de Gaspar que por tantas vezes conseguiu amenizar o sofrimento de muitos moradores de Gaspar. 

"Ele dedicou-se sempre com amor e carinho aos seus pacientes e esta missão é para ele a realização de um sonho. Temos por ele muita admiração, é um exemplo para nós. Desde sempre pautou sua vida no caráter, na honestidade, dignidade e muito trabalho".

Maria Helena Spengler - esposa

"Estes 50 anos de dedicação se resumem em orgulho, alegria e agradecimento. Meu pai tem um grande coração, é um ser humano fantástico, focado na disciplina, índole e respeito ao próximo. É isso que eu e minhas irmãs mais admiramos nele."

João Cláudio Spengler - filho