Gaspar relembra o importante legado deixado pelo religioso, que faleceu em outubro de 1992

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Homenagear, relembrar e enaltecer o importante legado que deixou para o município. São estes os objetivos da paróquia São Pedro Apóstolo, de Gaspar, ao organizar uma celebração especial para marcar os 25 anos da morte de Frei Godofredo Sieber, que faleceu no dia 12 de outubro de 1992. Se hoje a cidade é o que é, muito deve-se ao seu trabalho: foi o religioso que lutou para a construção do hospital, bem como para a implantação do primeiro colégio com segundo grau em Gaspar. Frei Godofredo, um visionário, conduziu a construção da majestosa igreja matriz e deu vida a até hoje atuante Banda São Pedro. Estes e outros feitos serão lembrados na missa, que será celebrada neste sábado (14), às 19h, na Igreja Matriz São Pedro Apóstolo.

"O momento significará um gesto de gratidão por tudo que Frei Godofredo realizou em nossa paróquia e em Gaspar. Ele foi um sacerdote de muita coragem e entrega e esta memória não pode se apagar. Nosso objetivo é fazer com que estas recordações permaneçam vivas na história da cidade, assim como suas obras", ressalta o pároco, Frei Paulo Moura. Ele explica que as homenagens irão envolver toda a comunidade. "Vamos ter a presença da Banda São Pedro, de representantes do Hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e de alunos da Escola Frei Godofredo. Será um momento bonito e de emoção", afirma. 

Na oportunidade também será aberta oficialmente uma exposição fotográfica, organizada pela pesquisadora gasparense Leda Maria Baptista, que é também autora de um livro sobre a vida do religioso - "Frei Godofredo e Gaspar - O Homem, O Franciscano. O Legado, publicado em 1999. A mostra ficará na igreja durante uma semana e poderá ser visitada gratuitamente. Leda explica que a exposição reunirá imagens de algumas obras idealizadas por Frei Godofredo, fotos do religioso em diferentes momentos de sua vida, além de imagens antigas de Gaspar. "A exposição é tímida perto do grande legado de obras que ele deixou para o município. Procuramos reunir o de mais significativo e possível de ser fotografado", ressalta. Leda, que chegou a conviver com Frei Godofredo durante sua passagem por Gaspar, lembra que o religioso contribuiu muito para o desenvolvimento da cidade em diversos setores. "Ele colaborou com a educação, criando a primeira escola de 2º grau; com a saúde, fundando o hospital; com a sociedade, promovendo encontros de alto valor de cooperativismo; com a cultura, fundando a Banda São Pedro e com a religião, elevando Gaspar a uma das cidades com maior vocação religiosa do Brasil". 

Ela lembra que quando Frei Godofredo chegou, pela primeira vez, a Gaspar, em 1938, a cidade era ainda muito acanhada, recém-emancipada e com uma economia sustentada praticamente na agricultura. "Jovem entusiasta, de muita fé e com uma visão de futuro, ele conseguiu, em dez anos, envolver toda a comunidade e promover uma mudança nunca antes vista na cidade", destaca a pesquisadora. Segundo Leda, Frei Godofredo era um sacerdote muito carismático e transparente. "Todos sabiam qual era o seu partido político, o que ele queria e que desejava a colaboração de todos. Era uma pessoa muito direta". 

O exemplo do franciscano que marcou a história de Gaspar

Alfons Sieber, que depois de se tornar noviço assumiu o nome de Frei Godofredo, nasceu no dia 12 de agosto de 1902 em Dietingen, na Alemanha. Filho de pais agricultores, pertencia a uma família muito pobre e ainda criança, com apenas 10 anos de idade, começou a trabalhar na roça para ajudar no sustento da casa. Aos 13 anos, perdeu a mãe e também o irmão mais velho, que morreu durante combate na 1ª Guerra Mundial. Frei Godofredo foi também ajudante de pedreiro, de ferreiro e empregado de uma pequena metalúrgica. Mas, o que ele sempre quis, segundo entrevista dada em 1983 ao Jornal Tribuna, de Petrópolis, era seguir a vida religiosa. 

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Sendo assim, após ver um anúncio em um jornal, Frei Godofredo ingressou, no ano de 1923, no Seminário da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, na Bélgica, que procurava jovens europeus com vocação religiosa para trabalhar no país. Em 1927, o sacerdote embarcou, com outros estudantes, para o Brasil. Logo que chegou ao Porto de São Francisco (SC), Frei Godofredo foi enviado para Rio Negro, no Paraná (PR), onde trabalhou como enfermeiro do seminário e concluiu o ginásio. Entre os anos de 1931 e 1932 estudou Filosofia e Teologia em Curitiba (PR) e, em dezembro de 1934, foi ordenado padre. No ano seguinte, após passar no exame e conseguir a licença para ser vigário, Frei Godofredo assumiu a paróquia de Palhoça (SC). Ele chegou a Gaspar pela primeira vez em janeiro de 1938, como pároco e guardião da Paróquia São Pedro Apóstolo. Após dez anos em Gaspar, ele foi transferido para Concórdia (SC) e, em 1956, para São Paulo.

Em fevereiro de 1962, Frei Godofredo retornou para a paróquia São Pedro, em Gaspar, onde permaneceu até o fim de 1967. Depois, ele foi para Petrópolis, no Rio de Janeiro (RJ), onde permaneceu até sua morte, no dia 12 de outubro de 1992. Frei Godofredo foi sepultado no cemitério do convento carioca e, em 1999, seus restos mortais foram transferidos para Gaspar, onde permanecem guardados em uma sala da igreja matriz São Pedro Apóstolo - templo cuja construção ele idealizou. 

"Frei Godofredo foi um modelo de espiritualidade, humanidade, doação e carisma com o próximo. Ele sempre teve o desejo de ver todos bem", recorda a gasparense e amiga pessoal do sacerdote, Maria Regina Spengler. Hoje, aos 70 anos, ela relembra com saudades da época em que conviveu com grande religioso. "Ele enfrentou muitas dificuldades na sua infância, passou fome, então ele sabia o quanto isso era doloroso. Por isso, Frei Godofredo sempre foi muito preocupado com os pobres", ressalta.

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Ela lembra que a aproximação com Frei Godofredo iniciou com seu avô, Alberto. "Ele tinha o mesmo nome que o pai de Frei Godofredo e na época eles ficaram muitos amigos. Meu avô era como se fosse um pai brasileiro para ele", relembra. Regina ficou mais próxima do frei em 1962, quando ela, já formada professora, foi "recrutada" por ele para coordenar a equipe que iria introduzir a educação religiosa nas escolas mais isoladas do município. 

"Eu e outras duas irmãs da Ordem Franciscana começamos a fazer um curso de teologia em Blumenau e ele nos levava e nos buscava sempre", afirma. Assim começou a grande e fraterna amizade que durou mesmo após sua partida da paróquia gasparense. "Nós sempre estivemos em contato, por cartas. Ele queria saber notícias da paróquia e da cidade. Além disso, fui visitá-lo várias vezes em Petrópolis e também viajei com ele para a Alemanha. Sempre que saíamos às ruas, seja onde fosse, ele estava sempre de hábito e era parado pelo povo, que pedia uma bênção a ele. Era como se fosse um santo caminhado pela estrada", emociona-se. Regina afirma que Frei Godofredo, apesar de parecer uma pessoa muito séria, era um grande piadista. "Ele era muito especial, tinha uma risada muito gostosa e fazia muitas piadas".

Legado de conquistas e contribuições

Durante suas passagens por Gaspar, entre 1938/1948 e 1962/1967, Frei Godofredo inspirou, uniu a comunidade e idealizou grandes obras e conquistas. Seu papel foi tão fundamental para o desenvolvimento da cidade que, em 1963, ele recebeu da Câmara de Vereadores o título de cidadão gasparense. Um de seus primeiros feitos, que se tornou o principal cartão postal do município, foi a construção da nova Igreja Matriz São Pedro Apóstolo. 

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A obra começou com a cavação do morro, em agosto de 1942. O serviço, todo manual, foi realizado com a ajuda da comunidade e, mesmo com a primeira partida de Frei Godofredo para outra paróquia, a obra seguiu e foi inaugurada em maio de 1956. Foi também Frei Godofredo quem teve a ideia de fundar um clube musical em Gaspar. Naquela época - 1946 - quatro grandes festas religiosas eram realizadas pela Paróquia São Pedro Apóstolo na cidade e, para animar os festejos, era necessário chamar músicos de outras cidades. Sendo assim, o sacerdote lançou o desafio para o Congregados Marianos - grupo de jovens que ele liderava - e em 12 de junho de 1946 foi fundada oficialmente a Banda São Pedro, regida por Eurides Luiz Polli. Clube musical que até hoje permanece atuante. 

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E se temos um hospital hoje em Gaspar é também graças à habilidade de Frei Godofredo. Em 1956, uma mobilização chegou a ser iniciada, liderada pelo tabelião Edmundo dos Santos. As terras necessárias para a construção foram doadas por José Krauss, mas divergências políticas impediram o prosseguimento da obra. Foi somente após a volta do sacerdote à cidade que os trabalhos começaram. Aclamado por unanimidade como presidente da instituição, Frei Godofredo uniu as comunidades de Gaspar e Ilhota na luta e, com a formação de equipes de trabalho, organizadas em forma de mutirão, a obra teve início. As verbas foram arrecadadas em rifas, festas populares e doações dos moradores. Em 1965, Frei Godofredo também viabilizou a construção do Salão Cristo Rei.

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Outro fato relacionado ao religioso e que marcou a história de Gaspar está ligado com a educação. Frei Godofredo idealizou uma escola que formasse os jovens para uma profissão. Então, em 1965, quando foi inaugurada a Escola Ivo D`Aquino, Frei Godofredo aproveitou a oportunidade e pediu a Ivo Silveira, caso fosse eleito governador, que criasse o Colégio Normal em Gaspar. Para isso, ele disponibilizou a antiga sede da escola Cristo Rei. Assim, em 1966, foi inaugurada a Escola Frei Godofredo - hoje instalada no bairro Sete de Setembro.