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28/09/2024 02:00
HISTÓRIA DE VIDA

Farinheiro de mão cheia

Por Alexandre Melo

 Publicado 13/09/2024 15:58  – Atualizado 13/09/2024 16:41

  • Debrando passa os dias na propriedade onde também mora o filho Wanderlei (Fotos: ARQUIVO PESSOAL)

A história de vida de Debrando Paulo, um simpático morador do Bairro Barracão

Filho mais velho de sete do casal Júlio Paulo e Luzia Souza Paulo, Debrando Paulo, aos oito anos de idade, precisou dividir os estudos com a agricultura. Pela manhã, ia para a escola das freiras, em frente à igreja Nossa Senhora do Rosário, no Bairro Barracão, à tarde trocava o uniforme escolar e os livros pela pá e enxada. Naquela época, os filhos homens nasciam já praticamente com as ferramentas agrícolas ao lado do berço.

Seu Debrando já chegou a colher 130 toneladas de mandioca na propriedade
  • Seu Debrando já chegou a colher 130 toneladas de mandioca na propriedade (Fotos: ARQUIVO PESSOAL)


Hoje, aos 75 anos, Debrando leva uma vida tranquila. Ainda tem energia e vitalidade de sobra para as atividades campeiras, como plantar mandioca e produzir farinha artesanal. Aliás, foi essa a planta que alimentou a família Paulo por várias décadas. O pai plantava mandioca para fazer farinha artesanal num modesto engenho movido a boi. “Naquela época, a atividade farinheira era praticamente a única no Barracão”, relembra Debrando. E circulava pouco dinheiro. “A gente via dinheiro duas vezes por ano, quando colhia as safras”, revela Debrando. Por isso também não havia luxo, mas também a família nunca passou necessidade, pois todo o alimento consmudo era produzido na propriedade. “Eram tempos difíceis, mas também muito prazerosos”, diz.

Um dos sonhos de jovem realizado depois dos 70 anos, comprar um trator
  • Um dos sonhos de jovem realizado depois dos 70 anos, comprar um trator (Fotos: JORNAL METAS)


Debrando aprendeu com o pai a arte de farinhar. E depois de casado com Maura continuou produzindo farinha artesanal no engenho da família, primeiro movido a boi, depois a querosene, óleo diesel e, por fim, à energia elétrica.
O tempo foi passando e 42 anos depois, Debrando decidiu que era o momento de mudar. “Muita gente perguntava se eu iria passar a vida toda produzindo farinha, se era isso que eu queria para os meus filhos”, conta o agricultor.

Debrando contou velhas e boas histórias de vida nessa entrevista ao Jornal Metas
  • Debrando contou velhas e boas histórias de vida nessa entrevista ao Jornal Metas (Fotos: JORNAL METAS)


E foi assim, entre uma conversa e outra que, em sociedade com um familiar, ele decidiu seguir para o ramo têxtil. Na casa onde vivia fez um “puxadinho” e comprou quatro máquinas de costura. Começava ali uma nova história na família Paulo: A Maro Confecções.
Debrando admite que o ramo têxtil deu muito mais trabalho do que produzir farinha artesanal. Dois anos depois do início do negócio, ele e a sócia estavam metidos em dívidas por conta dos calotes que levaram dos clientes. “Quase fomos à falência, só não passamos fome, mas foi um momento muito ruim”, revela.
Aos poucos, porém, com trabalho e dedicação, Debrando reergueu a Maro. Dois dos seus fi-lhos, Wanderlei e Sidnei, passaram a fazer parte dos negócios.

A MARO Moda e Confecção por pouco não fechou as portas, hoje é uma sólida empresa do ramo têxtil de Gaspar
  • A MARO Moda e Confecção por pouco não fechou as portas, hoje é uma sólida empresa do ramo têxtil de Gaspar (Fotos: DIVULGAÇÃO)

E a empresa engrenou novamente, agora sob administração da família Paulo. “Hoje, eu me culpo de exigir dos meus filhos para que trabalhassem muito cedo, mas eu sempre fui muito trabalhador, nunca fui da preguiça, sempre acordei ceto”, afirma Debrando.
Mas, aos 62 anos, ele decidiu que era o momento de desacelerar e voltar a fazer o que ele mais gosta: farinha artesanal. No sítio que comprou, no começo da Rua Amadio Beduschi, no Barracão, Debrando instalou uma mini engenho, bem mais moderno que o de outros tempos. É bem verdade que a farinha não é mais o ganha-pão da família. Por isso, a produção é limitada a duas ou três vezes fornadas por ano. Debrando e a família abrem as portas do engenho para amigos acompanharem a produção de farinha, o que acaba virando um grandioso acontecimento. Ao final do dia, depois de um bom churrasco, cada convidado leva para casa um pouco da farinha. A matéria-prima, Debrando retira de uma área plantada ao lado do engenho, onde já chegou a colher 130 toneladas.

A produção de farinha no engenho do seu Debrando é um verdadeiro acontecimento
  • A produção de farinha no engenho do seu Debrando é um verdadeiro acontecimento (Fotos: ARQUIVO PESSOAL)


É neste sítio, que Debrando chama de paraíso, que os dias parecem não ter fim. “Aqui eu me sinto muito bem”. A esposa o acompanha, quando não está trabalhando na Maro Confecção.
Seu Debrando só perde o sorriso e embarga a voz ao lembrar de um dos filhos, Rudinei, que morreu em acidente de trânsito na Rodovia Ivo Silveira. Porém, ele acredita que Deus tira, mas também dá. Com mais de 50 anos, ele e a esposa adotaram o recém-nascido Mateus. Debrando fala com orgulho do caçula da família. “Ele não substituiu o meu filho que partiu, mas chegou num momento em que eu e a minha mulher estávamos muito tristes. Ele foi uma benção de Deus”, emociona-se.

Com o filho Wanderlei Paulo
  • Com o filho Wanderlei Paulo (Fotos: JORNAL METAS)


O tempo passa, mas as lembranças não se apagam. E a maior delas é a do pai que o ensinou a produzir farinha, uma verdadeira arte que Debrando pretende deixar para outras gerações da família. “Esse dom é conhecimento de nós ninguém tira”, finaliza o simpático gasparense.

  • A família Paulo (ARQUIVO PESSOAL)

  • Com amigo, no mini engenho de farinha (ARQUIVO PESSOAL)

  • O processo ainda artesanal de produzir farinha (ARQUIVO PESSOAL)

  • A produção de farinha no engenho do seu Debrando é um verdadeiro acontecimento (ARQUIVO PESSOAL)

  • Após acompanharem todo o processo de fabricação, a farinha é distribuída entre os convidados (ARQUIVO PESSOAL)

  • O filho adotivo Mateus (ARQUIVO PESSOAL)

  • A MARO Moda e Confecção por pouco não fechou as portas, hoje é uma sólida empresa do ramo têxtil de Gaspar (DIVULGAÇÃO)

  • Com velho amigo no engenho (ARQUIVO PESSOAL)

  • Seu Debrando já chegou a colher 130 toneladas de mandioca na propriedade (ARQUIVO PESSOAL)

  • A produção de farinha reúne velhos amigos de seu Debrando (ARQUIVO PESSOAL)

  • Com o filho Wanderlei Paulo (JORNAL METAS)

  • No sítio que seu Debrando chama de paraíso (JORNAL METAS)

  • Um dos sonhos de jovem realizado depois dos 70 anos, comprar um trator (JORNAL METAS)

  • Seu Debrando na entrada do mini engenho, que construiu para voltar a fazer o que mais gosta: produzir farinha artesanal (JORNAL METAS)

  • Debrando contou velhas e boas histórias de vida nessa entrevista ao Jornal Metas (JORNAL METAS)

  • Seu Debrando passa os dias no sítio onde ergueu um mini engenho de farinha artesanal (JORNAL METAS)

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