Aparentemente sem nenhum motivo, por duas vezes pessoas ligadas ao atual governo Bolsonaro citaram o AI-5 - o Ato Institucional número 5 - que, em 13 de dezembro de 1968 - jogou sombras e trevas sobre a nossa democracia, retirando mandatos de parlamentares eleitos e suspendendo garantias constitucionais. Foi o mais duro golpe do regime militar. A última fala sobre o AI-5 partiu de uma das mais alta autoridades do governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Evidente que não existem motivos hoje para se reeditar o AI-5 e o próprio ministro, que é inteligente, sabe disso. Existem mecanismos constitucionais suficientes para manter o equilíbrio político no país. Citar o AI-5 ou algo parecido soa muito mais como uma tentativa de marcar território que propriamente em algo que poderia se concretizar no futuro. Todavia, esse tipo de comentário, fora do contexto, é inaceitável sob todos os aspectos. Somente acirra ainda mais as divisões políticas entre esquerda e direita e serve de munição para os mais exaltados e ignorantes, de ambos os lados, que ainda acham que medidas antidemocráticas vão trazer ao país a paz que ele precisa para crescer. Se isso fosse verdade, Venezuela e Bolívia estariam navegando em águas calmas. Portanto, a inadvertida referência do ministro Guedes a um possível AI-5 no Brasil não é a opinião do atual governo, pois quem conhece a história sabe aonde isso vai parar.