"Se gritar pegar ladrão, não fica um meu irmão". O trecho é de um velho samba escrito por Ary do Cavaco no início dos anos 1980. Ou seja, lá se vão quase 40 anos, mas ele se tornou tão atual que poderia até virar o hino oficial  da crise política que se abate sobre o Brasil. É tanto político citado nas delações premiadas da Odebrecht e da JBS, que a lista parece interminável.
O país está novamente perplexo e paralisado diante da avalanche de denúncias de corrupção reveladas em mais uma etapa da Operação Lava Jato. É tanto informação que o Supremo Tribunal Federal (STF) não sabe nem por onde começar a ouvir os delatados.
O presidente Michel Temer, Aécio Neves, Rodrigo Maia, Eunício Oliveira e o deputado federal Rodrigo Loures são alguns dos investigados que deverão ser ouvidos. Todavia, um depoimento de Temer, neste momento, colocaria ainda mais o país na berlinda, e a economia, que dava sinais de uma leve recuperação, pode voltar aos patamares de um ano atrás. Dessa forma, a crise política, do ponto de vista da faxina nos poderes Executivo e Legislativo, é positiva, porém, existe uma economia cambaleante, que tentava voltar a respirar sem os aparelhos, mas que corre sério risco de entrar em coma profundo, sem prazo para recuperação. Estamos, portanto, entre a serpente e a estrela, ou seja, engolir este governo por mais um ano e meio -  até janeiro de 2019 - ou acreditar que a mudança deve ser imediata e irrestrita, para recuperarmos a credibilidade abalada por tantos escândalos.