Nas primeiras semanas de março de 2013, os olhos do mundo se voltavam para a Praça de São Pedro, em Roma, para a chaminé, de onde sairia a fumaça branca anunciando o novo papa.  No dia 13 daquele mês, se ouviu "Habemus Papam", a frase que confirmava ao povo cristão: "Temos um papa". Nascido em Buenos Aires, no dia 17 de dezembro de 1936, o Cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa no segundo dia do conclave. O primeiro papa latino-americano! Homem conhecido por todos em seu país, como uma pessoa de hábitos simples e de grande amor pelos pobres. Suas primeiras palavras foram um pedido: Orem por mim! 

Naquele momento, todas as pessoas de todas as religiões começavam um caminho de descoberta deste homem de grande carisma. Ao escolher o nome Francisco, lembrou que no exato momento que a votação começava a dar sinais de que seria eleito Papa, Cardeal Dom Cláudio Hummes, seu amigo brasileiro, lhe disse: "Não se esqueça dos pobres". Ele guardou a palavra para si e escolheu o nome Francisco. Disse à imprensa ao falar de sua escolha que queria uma "Igreja pobre e para os pobres!".
Atitudes que dizem mais do que as palavras! Um papa tão "próximo"  das pessoas, cujo segredo para manter a energia aos 80 anos está, segundo ele mesmo, em rezar e depois dormir bem, como uma pedra.
Um homem de bom humor - quantas vezes o vemos dando aquelas gargalhadas,aproximando jovens, as crianças que não querem sair do lado dele. Em uma entrevista, afirmou que às vezes pode ficar cansado, mas nunca estressado ou deprimido: "O senso de humor é uma graça que peço todos os dias. [Ele] te alivia, te faz ver o provisório da vida e lidar com as coisas com um espírito de alma redimida, é uma atividade humana, mas é a mais próxima de Deus". Um papa que também chora com a dor dos povos sofridos, e sempre pede para orar por eles, assim como pelas autoridades mundiais, para que tomem providências em relação a todas as situações de exclusão, de guerras, os que sofrem com a imigração - e morrem nas péssimas condições de viagens atravessando mares revoltos. O vemos também acolhendo em sua residência esses imigrantes, mostrando que é possível construir um mundo melhor se cada um fizer a sua parte.
O papa argentino tem horror à " falsa admiração de bajuladores". Para Francisco, bajular o outro é usar uma pessoa para um fim, escondido ou aparente, para obter alguma coisa para si mesmo, e por isso é indigno. Em julho deste ano, na Vigília da Jornada Mundial da Juventude, falou: "Queridos jovens, não viemos ao mundo para 'vegetar', para transcorrer comodamente os dias, para fazer da vida um sofá que nos adormeça; pelo contrário, viemos com outra finalidade, para deixar uma marca. É muito triste passar pela vida sem deixar uma marca". Depois, no mês de outubro, disse às famílias: "A vida tem muitas fadigas. No entanto, o que mais pesa na vida é a falta de amor". "Pesa não receber um sorriso, não ser acolhido, pesa um certo silêncio? Sem amor a fadiga torna-se mais pesada, intolerável". Em seu mais recente documento pontifício, intitulado "A não-violência: estilo de uma política para a paz", Papa Francisco divulgou a mensagem para o Dia Mundial da Paz 2017, 1º de janeiro. Nela Francisco defende que a "não-violência" deve ser o caminho para resolver as atuais crises político-militares, apelando à abolição das armas nucleares. Dia 17 de dezembro se aproxima, e Francisco completará 80 anos. Um senhor que poderia gozar de um descanso, permanece bem ativo na missão que recebeu e, assim, segue fazendo a diferença nos dias de hoje. 

Paula Guimarães, Missionária da Comunidade Canção Nova


Reis magos

Hora da partida. Em dias nascerá o salvador. Belchior e suas veneráveis clãs deixa Ur; Gaspar, sem receios, desce as montanhas envolventes do Mar Cáspio, de onde jamais saíra; e Baltasar deixa o Golfo Pérsico, a "Arábia Feliz". O óleo da civilização a tornaria malsinada. Atrasarão por doze dias. Não o perceberão. O tempo era secundário em seus tempos. Mateus trouxe a anciã mitologia para os evangelhos. Os símbolos que orientam e humanizam. Criou a troca dos presentes. Jesus era homem e foi universalizado. Venceram desertos, montanhas, rios e mares.  Nada os deteria, nem a natureza nem Herodes. Até mesmo Belchior, certamente alquebrado aos setenta. 
A sagacidade do mal é imemorial. Herodes tenta iludi-los, para que indicassem o sítio do nascimento do Rei dos Judeus. E matá-lo. Os reinados e o poder, como hoje, eram as mais preciosas pedras, num mundo rústico. Sonham com a armadilha (provavelmente Belchior) e retornam por outro caminho. Os poderosos não precisavam ser enfrentados, podiam ser simplesmente, ludibriados. O ouro era o mais importante elemento dos alquimistas. Parecelso lhe atribui as maiores virtudes, desde as curativas. A raridade talvez já definisse os valores. O ouro jamais perdeu seus quilates. Rompeu a história triunfalmente. Fez infeliz a África do Sul, nossas Minas Gerais e pôs homens em conflito. Os magos eram clarividentes e buscaram, desde cedo, mostrar o destino humano ao menino de Belém. O incenso era a emanação inescrutável do espírito. 
A magia em pó que ainda ressuma dos cérebros dos gênios. Os "insigths" que produziram a ciência, os conhecimentos contemporâneos inimagináveis. Era voltado para perfumar o encontro entre o homem e as divindades. Hoje, a despeito do progresso, alegra somente alguns místicos felizes. A mirra limpava homens e cadáveres. Resgatava em poucos a essência da ética, que se perdeu. 
O homem era sujo e continuou sujo, dominado pelos Césares, com exceções que o mundo reverencia. A mirra do grande povo simples é o sofrimento.  
A limpeza dos cadáveres era o anúncio do perfume de rosas da eternidade. Desse modo ficou delineado, desde a manjedo ura, o destino da raça que habita este planeta. Tendemos, pois, a crer na inutilidade do sacrifício do crucificado em prol de seus irmãos. A natureza cruel parece ter saído vitoriosa. Nada mais se observa no cotidiano. 

Amadeu Garrido, Advogado