FOTOS: IVO DUARTE/CINE FOTO MARY
Desde 1984, quando participou da primeira Festa de São Cristóvão, Vitor Zimmermann, 72 anos, nascido no Baú, em Ilhota, tinha o sonho de conduzir em seu caminhão a imagem do padroeiro. Neste domingo, dia 30, quando Gaspar homenageou mais uma vez São Cristóvão, Vitor tomou a direção do caminhão Scania Jacaré 1115, todo reformado para o momento especial, dividindo a emoção com a esposa Irene e três netos. Guiado por São Cristóvão, o simpático caminhoneiro percorreu o caminho em procissão motorizada, levando aquela que, para ele, foi a mais valiosa carga da sua vida. “Para mim foi uma emoção, depois de muitos anos compartilhar o momento de levar a imagem de São Cristóvão”, afirma Vitor, que é caminhoneiro desde a década de 1970.
Durante cerca de 1h30, seu Vitor dirigiu até a Capela São Cristóvão, no Gaspar Grande, puxando a enorme fila de caminhões. A devoção ao padroeiro dos motoristas é antiga na família Zimmermann. Aliás, foi numa Festa de São Cristóvão que seu Vitor teve a prova de fé, persistência e amizade.
Em uma viagem para o centro do país, ele teve o caminhão roubado, ficando apenas com as prestações para pagar. Na época, o amigo Bebeto Schmitt, também caminhoneiro, lhe emprestou um caminhão para trabalhar. Durante a festa daquele ano, Bebeto promoveu uma ação entre amigos, que reuniu dinheiro para pagar as prestações do caminhão, algo que seu Vitor nunca mais esqueceu. Hoje, os tempos são outros. Além do caminhão com a imagem do santo, a Capim Branco Manipulação e Transportes, empresa do filho, Vitor Santiago Zimmermann, levou para a procissão outros 30 veículos, um deles dirigido pelo velho amigo Bebeto.
Conduzir a imagem do santo foi um presente que o filho deu ao pai. “Eu sempre esperava um dia levar a imagem do santo e, finalmente, chegou o dia e ainda foi um presente do meu filho, o que deixou o momento ainda mais emocionante, não é fácil aguentar a emoção, porque nós sempre estamos juntos, mas é diferente quando você escuta as palavras dele, toca lá no fundo”, emociona-se seu Vitor.
O filho, recorda que ainda criança participava da procissão com o pai. “A nossa família sempre teve a profissão de caminhoneiro ´na veia´, este ano realizamos o sonho não só dele, mas de toda a família de conduzir a imagem do santo na procissão”.
Antes mesmo de ter caminhões, o filho sempre foi um assíduo frequentador do evento religioso. Em 2014, já com a Capim Branco, ele participou com um caminhão. Desde então, todo o ano se programa para estar com a sua frota. Para Vitor, o importante é que a homenagem ao pai acontecesse em vida. “É a cereja do bolo que faltava”, acrescenta. Vitor homenageou também antigos caminhoneiros, que começaram na profissão com o pai. “Essa história começou lá atrás, quando a BR-101 era estrada de barro. Eles são os verdadeiros desbravadores da profissão”.
Ele agradeceu à organização da festa, que proporcionou ao pai e à família Zimermann este momento, em especial à esposa Karolina Regina Zimmermman, aos seus filhos e a mãe Irene.
“Eu sempre esperava um dia levar a imagem do Santo e, finalmente, este dia chegou e ainda foi um presente do meu filho, o que deixou o momento ainda mais emocionante.”
Vitor Zimmermann: Caminhoneiro
COMO TUDO COMEÇOU
Profissional do setor de automação industrial, Vitor Santiago Zimmermann, 40 anos, sofreu um grave acidente de trabalho em 2002. Por causa disso, ele não pôde mais trabalhar na função. A mãe, Irene, era dona de facção em casa, e o filho passou a ajudá-la. Em 2006, Vitor começou a embalar peças de roupas em uma área nos fundos de casa, no Baú Baixo, em Ilhota. Assim surgiu a Capim Branco, de forma bastante artesanal. Em seguida, dona Irene parou de costurar e passou a trabalhar com o filho nas embalagens. “Ela é minha parceira de trabalho até hoje”, afirma Vitor.
O nome Capim Branco surgiu de uma história familiar. Vitor ouvia a avó contar que o Barranco Alto, onde ela nasceu, antes de Ilhota virar município se chamava Capim Branco. “Eu fiquei com isso na cabeça: - um dia vou montar uma empresa e vai se chamar Capim Branco, para homenagear minha vó e o nome bairro da época”, conta o empresário. De 2006 a 2008, a Capim Branco atuou apenas no ramo de embalagens têxteis. O negócio prosperou e, em 2010, a empresa saiu de um espaço 200m² para um galpão de mil m². Foi quando Vitor teve a ideia de abrir uma facção, que chegou a empregar mais de 40 costureiras. Em meados de 2013, a Capim Branco se mudou novamente, mas para sede própria na Rodovia BR-470, se especializando em manipulação de cabideiros e atendendo grandes magazines do centro do país. A empresa têxtil segue de “vento em popa”, mas o ramo de transporte sempre atraiu o empresário, até porque é essa a profissão do pai.
“Nas férias escolares eu sempre tentava passar direto para poder viajar um mês com meu pai”, recorda Vitor. Ele conta que o pai “dava um tchau” para a família e só retornava 30 ou até 40 dias depois. “Hoje tem a facilidade do telefone celular, ligação de vídeo, mandar mensagem, antigamente não havia nada disso. A gente marcava um ponto, para todo sábado meu pai ligar às 2 horas da tarde no único telefone público do Baú Baixo. Essa era a nossa comunicação semanal com meu pai”.
O empresário admite que foram tempos difíceis e marcantes para a família, mas também de aprendizado. Por isso, ele sempre foi apaixonado pela profissão de caminhoneiro. “Como eu embalava uma grande quantidade de mercadoria têxtil e dependia de transportadora decidi comprar um caminhão”, relembra. Vitor comprou o primeiro caminhão em 2014, junto com uma Van. O objetivo era atender lojas de Campo Grande-MS.
A partir daí a Capim Branco Manipulação e Transportes deslanchou no mercado, mas como nem tudo são flores as perdas com acidentes eram muitas. “Cheguei a perder seis caminhões num ano, além dos assaltos”, conta o empresário. Hoje, a Capim Branco mantém uma frota de cerca de 30 veículos e atende as praças de São Paulo-SP até a divisa com Minas Gerais, Goiânia, Campo Grande-MS, Passo Fundo-RS e Vale do Itajaí. A empresa é 100% voltada para o transporte de produtos têxteis. A sede fica hoje no bairro Ilhotinha, onde também devem se transferir, em breve, a indústria têxtil e a oficina mecânica. Vitor e sua equipe seguem com o espírito do empreendedorismo, sempre acreditando que é possível fazer melhor.
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