Informações são diferentes das apresentadas pelo vereador da oposição Dionísio Bertoldi (PT)

Os números do atendimento e o desempenho financeiro do Hospital de Gaspar foram detalhados aos vereadores em reunião, aberta à comunidade, na tarde desta quinta-feira (11), na Câmara Municipal. A apresentação (veja o resumo no final da matéria) foi do secretário Municipal da Saúde, Francisco Júnior Hostins, juntamente com o gestor da instituição, Alan Vieira, e o presidente da Comissão Interventora, Marcos Roberto da Cruz. Participaram ainda outros integrantes da equipe gestora do hospital, como o diretor técnico, médico Ricardo Alexandre Freitas. Nem todos os vereadores estavam presentes.

O requerimento solicitando a presença dos gestores da Casa de Saúde foi iniciativa do líder de governo no Legislativo, vereador Francisco Anhaia (MDB), depois que o vereador da oposição, Dionisio Bertoldi (PT), comparou os números do hospital de Gaspar, no período entre março e agosto de 2021, com os do Hospital Beatriz Ramos, de Indaial, município com número de habitantes muito próximo aos de Gaspar. O levantamento se baseou em informações publicadas no Portal da Transparência. Dionísio revelou que, nesse período, o hospital de Gaspar atendeu menos pacientes e realizou menos exames que o Hospital Beatriz Ramos e, mesmo assim, as despesas foram superiores. O parlamentar trouxe ao plenário a informação de que o hospital de Indaial realizou 1.421 cirurgias, enquanto em Gaspar foram apenas 75. Ele também levantou dúvidas quanto ao contrato firmado com a atual empresa gestora da área médica do hospital, a Prime Serviços Médicos, que assumiu em maio de 2021. Segundo ele, a empresa teria assumido o serviço antes mesmo de firmar o contrato. Bertoldi afirmou, também, que a Prime teria recebido mais de R$ 21 milhões em dois anos de contrato e questionou o fato de a empresa estar sediada no mesmo endereço da anterior e os sócios de ambas terem graus de parentesco.

As informações e afirmações do vereador foram contestadas pelo secretário Júnior Hostins. Sobre a comparação entre os dois hospitais, ele disse que foi usado um período de exceção, pois de março a agosto de 2021 o Brasil vivia o auge da pandemia de Covid-19. O secretário lembrou que o hospital de Gaspar contava, na época, com 20 leitos de UTI e um Centro de Triagem (Arena Multiuso) em pleno funcionamento. De acordo com ele, entre março de 2020 e março de 2022, quando o Centro de Triagem foi desativado, mais de 23 mil pessoas foram atendidas.

Júnior Hostins explicou que, em abril de 2021, foi incluída mais uma escala de plantão na pediatria do hospital e, em novembro do mesmo ano, houve redução dos honorários médicos em função do fechamento da UTI 2 da Covid-19. O secretário optou por outro período para comparar os números dos dois hospitais: janeiro a setembro de 2022. E justificou ser este o período mais atualizado disponibilizado pelo Hospital Beatriz Ramos. Dessa forma, o governo conseguiu trazer números e prestação de contas das duas instituição mais próximos, inclusive com o Hospital de Gaspar superando o de Indaial nos atendimentos. Neste período, de acordo com relatório da Secretaria Municipal da Saúde, Gaspar atendeu a 46.388 pacientes enquanto o Beatriz Ramos 39.577. Além disso, o hospital gasparense realizou 20.165 exames contra 22.711 do Beatriz Ramos. Já as internações, somaram 3.679 em Gaspar contra 3.480 em Indaial.  

Quando o assunto é prestação de contas, a SMS também apresentou cifras bem mais próximas. De janeiro a setembro de 2022, as despesas do hospital de Indaial somaram R$ 35,7 milhões enquanto as do hospital de Gaspar chegaram a R$ 34,5 milhões. “Mesmo tendo um médico pediatra a mais 24 horas no plantão e outros plantões que o hospital de Indaial não tem, nós gastamos cerca de R$ 1,1 milhão a menos, isso prova que nós temos uma boa gestão no hospital”, enfatizou o secretário.

Júnior Hostins: "não houve super faturamento" ///



Júnior Hostins também revelou que o quadro de pessoal do Hospital de Gaspar é menor que o do Beatriz Ramos. “O Hospital de Gaspar tem 326 colaboradores, entre médicos, enfermeiros, técnicos e administrativo, sendo que 270 estão na ativa. Já o hospital de Indaial, de acordo com o levantamento, tem 364 colaboradores entre ativos e inativos.

Sobre o contrato com a Prime, o secretário lamentou que o vereador Dionísio não tenha levado à tribuna da Casa todo o histórico da negociação entre a Secretaria Municipal da Saúde, Hospital de Gaspar e a Prime. Embora não estivesse à frente da secretaria na época, ele negou que a empresa tivesse iniciado a prestação do serviço sem a assinatura do contrato. “A empresa Horus, que fazia a escala de plantão médico, pediu no dia 15 de março de 2021 o encerramento do contrato e disse que tocaria até o dia 30 de abril de 2021. Em 1º de abril já houve o primeiro pedido de orçamento para a Prime; no dia 3 de abril recebemos o orçamento. Portanto, toda a operação começou em 1º de abril”, esclareceu o secretário, acrescentando que no dia 9 de abril a secretaria recebeu o pedido para a contratualização da nova empresa. “Estudamos o mercado e os valores eram condizentes com que pagávamos à época, não houve super faturamento”, garantiu Júnior Hostins. Ele explicou que hoje, o Hospital Beatriz Ramos paga R$ 140,00 a hora do clínico geral no Pronto Atendimento durante a semana e R$ 160,00 nos finais de semana. “Nós pagamos R$ 145,00 a hora independente do dia”, afirmou. O secretário revelou que no dia 3 de abril foi pedido a Prime para redimensionar a proposta, pois foi naquele período que foram abertos mais dez leitos de UTI. “Isso deveria constar no orçamento, além de mais um médico intensivista e mais um coordenador de UTI”. O secretário também negou que a Secretaria tenha pago, até agora, R$ 21,4 milhões à empresa. “Foram R$ 17,2 milhões, bem menos do que afirma o vereador Dionísio”, cutucou.

O secretário também rebateu os números apresentados com relação às cirurgias no Hospital de Gaspar. De acordo com o relatório, no ano de 2021 foram realizadas 1.433 cirurgias. Já em 2022, fora do cenário de pandemia e com o retorno das cirurgias eletivas, o hospital procedeu a 1.957 cirurgias. Neste ano, já são 423 cirurgias. Com relação ao número de partos, o secretário explicou que é bastante variável, por isso não é possível pegar apenas um período do ano. “Existem meses em que há um grande número de nascimentos e em outros ocorre queda”. Em 2021, o hospital fechou com 669 partos, ou seja, 24 a mais do que em 2022. Com relação a exames clínicos, o Hospital de Gaspar realizou 36.941 em 2022 contra 17.942 em 2021 e, novamente, Júnior Hostins recorreu à pandemia para justificar a diferença de quase 19 mil exames de um ano para outro. "A procura por exames reduziu significativamente durante a pandemia".

Em entrevista á reportagem do Jornal Metas, Júnior Hostins considerou importante a apresentação, pois, de forma pormenorizada, o governo pode expor a receita e despesa do hospital na comparação com outras instituições hospitalares de mesmo porte, no caso o Hospital Beatriz Ramos. “A gente vê que os números são muito correlatos”, acrescentou o secretário, que fez questão de frisar que o município precisa avançar muito para garantir mais recursos dos governos federal e estadual para a área da saúde. Hoje, segundo ele, o município banca 85% das despesas do hospital. “Nós precisamos inverter essa régua, os recursos federais são de pequena monta e os estaduais são quase nada”, criticou. O secretário ainda revelou que desde março do ano passado existe uma política hospitalar catarinense que determina o repasse de R$ 420 mil/mês para o Hospital de Gaspar, porém, este dinheiro nunca chegou à instituição, e agora a prefeitura se viu obrigada a ir à justiça para receber do Governo do Estado estes valores. Mesmo sem os recursos dos governos federal e estadual, Júnior Hostins afirmou que a Prefeitura tem procurado solucionar o problema do atendimento no hospital, aumentando a escala médica, os serviços de plantão e de sobreaviso. No entanto, admitiu que o aumento da demanda nos últimos meses, por conta de doenças respiratórias e a própria dengue, tem dificultado a prestação do serviço tanto no hospital quanto na Secretaria Municipal da Saúde.

O secretário revelou que R$ 80,00 é a média do custo de atendimento no hospital de Gaspar por paciente, enquanto a tabela do SUS (Sistema Único de Saúde) repassa apenas R$ 10. Já a prescrição de medicamentos tem repasse de R$ 0,73 do SUS. “Não se chega nem a R$15 de repasse de um atendimento no PA, precisamos inverter isso. Por isso, os hospitais filantrópicos, como o de Gaspar, estão à mingua. A tabela do SUS não é reajustada há anos. Não é mais possível”, desabafou.

O secretário assumiu o compromisso de levar, com mais assiduidade, os números e a prestação de contas do hospital aos vereadores e comunidade. “Não temos nada a esconder, precisamos da ajuda dos vereadores, aliás, nós temos aqui o vereador Alex (PL), que é do partido do governador, e o vereador Dionísio (PT), que é do partido do Presidente da República. Eles se comprometeram a nos ajudar a achar uma solução para reduzir os repasses municipais e aumentar os repasses estaduais e federais”.



Explicações sem respostas

O vereador Dionísio disse que faltaram respostas para muitos dos seus questionamentos. “O povo gasparense quer saber e eu fiz a pergunta: Por que duas empresas foram convidadas para concorrer estando no mesmo endereço e ainda os sócios serem praticamente da mesma família? Ficaram muitas dúvidas na colocação da equipe da saúde”, avaliou. Dionísio voltou a dizer que os números e informações que apresentou são verídicos, pois estão no Portal da Transparência e outros vieram de respostas a requerimentos enviados ao Executivo. O parlamentar disse que vai analisar, juntamente com a sua equipe técnica, os números e a prestação de contas e decidir quais medidas tomar. Ele não descartou a possibilidade de pedir uma auditoria no Hospital de Gaspar. Dionísio não vê nenhuma contradição em usar os números de um período de pandemia, até porque a Covid-19 não atingiu apenas Gaspar. “A pandemia atingiu o mundo, inclusive Indaial; portanto, a comparação continua valendo”, defendeu. O vereador prometeu retornar, em breve, à tribuna para mostrar que muito dos números não são exatamente como foram apresentados”. Ele lembrou que toda essa polêmica poderia ter sido evitada se os vereadores da base governista tivessem aprovado o seu requerimento solicitando informações e documentos ao hospital. “Nós teríamos aqui, há mais tempo, a pessoa chave, que era o Jorge Pereira (ex-secretário Municipal de Fazenda e ex-presidente da Comissão Interventora do Hospital) e tirado todas as dúvidas, não precisávamos chegar a este ponto de discórdia. Eu trouxe os números e a equipe da saúde tomou as dores, mas os números que eu apresentei são deles, pois estão no Portal da Transparência”, justificou, acrescentando que a sua intenção nunca foi prejudicar hospital. “Estou apenas investigando o que pode estar errado, afinal, o meu papel como vereador é legislar e fiscalizar doa a quem doer”, encerrou o parlamentar.

Transparência

Autor do requerimento, o vereador Francisco Anhaia, o Chico, disse que a reunião foi bastante proveitosa em termos de números apresentados. “O nosso secretário Júnior Hostins fez uma apresentação onde a maioria conseguiu entender, mostrando a transparência e o trabalho do vereador de fiscalizar os recursos públicos”. Anhaia reafirmou que, como líder de governo, tem interesse que isso aconteça da maneira correta e transparente. “Nós temos um hospital administrado por pessoas que tem o maior interesse em atender a população com qualidade, a atual administração vem fazendo vários investimentos e isso precisa ser mostrado à população, mas sem distorções, para que lá fora a população não pense que se está fazendo algum tipo de sacanagem”, finalizou.