Cientistas co-fundadores da BioNTech revelaram que estão na fase dois de três testes necessários para que o imunizante possa estar disponível à população
Os cientistas Ugur Sahin e Ozlem Tureci, co-fundadores da BioNTech, revelaram que, até 2030, uma vacina contra alguns tipos de câncer pode estar disponível para a população mundial. A tecnologia é semelhante a desenvolvida pelo laboratório alemão em parceria com a Pfizer, que criou um dos imunizantes contra o coronavírus com até 95% de eficácia. No caso da vacina contra o câncer, o RNA mensageiro sintetizado enviaria instruções genéticas para as proteínas spike que atuam no combate às células cancerígenas, interrompendo assim o cilco de formação do tumor.
Os cientistas explicam, que o principal desafio é a grande variedade de proteínas existentes. Por isso, a ideia inicial é desenvolver a vacina para alguns tipos de câncer, como o de intestino e os melanomas (câncer de pele). Todavia, os cientistas não afastam a possibilidade de a tecnologia ser usada para desenvolver vacinas contra tumores de cabeça e pescoço, próstata e ovário.
O laboratório está na fase penúltima fase de três testes necessários para que a vacina possa estar disponível no mercado. "Nosso objetivo é que possamos usar a abordagem de vacina individualizada para garantir que, diretamente após a cirurgia, os pacientes recebam uma dose que induz uma resposta imune para que as células T [de defesa] no corpo do paciente consigam rastrear as células tumorais restantes, eliminando-as", explicaram os representantes da BioNTech à jornalista Laura Kuenssberg, da BBC.
Com o RNA mensageiro treinado para estimular o sistema imunológico a reconhecer e destruir células cancerígenas, talvez seja possível, no futuro, aplicar os imunizantes naquelas pessoas que tenham fatores de risco para desenvolver um câncer, como o genético.
Apesar da excelente notícia para a medicina, Ugur e Ozlem fazem um adendo: "Como cientistas, hesitamos sempre em dizer que temos a cura do câncer. Temos uma série de descobertas importantes e vamos continuar trabalhando nelas", revelaram, mas de maneira um tanto quanto otimista.
Brasil
No Brasil, o câncer de cólo de útero, um dos quatro tipos de tumores mais comuns e que atinge milhares de mulheres todos os anos pode também ter uma vacina muito em breve. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) estão desenvolvendo uma vacina terapêutica para tratar os tumores causados pelo vírus HPV. Em estudo publicado em janeiro deste ano, na revista International Journal of Biological Sciences, os pesquisadores divulgaram os resultados dos ensaios pré-clinicos realizados com camundongos. Os testes mostram que, quando associado à quimioterapia, o imunizante induz uma resposta imune capaz de eliminar tumores em estágio avançado de desenvolvimento sem causar danos ao fígado ou aos rins. Além disso, não foi observado perda de peso nos animais. Sendo assim, a fórmula não apresentou toxicidade aos organismos.
A próxima fase da pesquisa é realizar a prova de conceito clínica em humanos, ou seja, validar os resultados observados na fase pré-clínica em um pequeno grupo de mulheres voluntárias. Atualmente, a prova está sendo conduzida com pacientes diagnosticadas com neoplasia intraepitelial cervical (NIC) de alto grau, um estágio anterior ao câncer do colo do útero, no Hospital das Clínicas da USP.
"Conseguimos fazer a prova de conceito em camundongos e agora estamos validando os resultados em humanos, acompanhando um grupo pequeno de pacientes por um período de seis meses a um ano. A publicação dos novos resultados deverá ser feita em meados de 2023 e então, partiremos para testes clínicos mais abrangentes, para avaliar a segurança e a eficácia do imunizante. Os resultados iniciais são muito animadores", afirma Bruna Porchia, pós-doutoranda do ICB e primeira autora do estudo, em comunicado.
A aplicação do imunizante em humanos ocorre de forma indireta. É retirada uma amostra de sangue da paciente e, em laboratório, as células dendríticas (tipo de leucócito produzido na medula óssea que pode ser encontrado no sangue) são isoladas e ativadas in vitro com o imunizante. Após a ativação, as células retornam à paciente na forma de uma nova injeção.
Aplicado em duas doses, o imunizante poderá tratar tumores em estágios iniciais, porque é nesse momento em que se consegue melhor resposta do organismo. Além disso, com base nos testes já realizados, a tecnologia, considerada pioneira, pode ser aplicada para combater outras doenças crônicas ou infecciosas. "As possibilidades são muitas. Podemos desenvolver, por exemplo, vacinas para câncer de mama, câncer de próstata, tuberculose, hepatite, Covid-19, Zika e HIV", destaca Porchia.
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