É o que aponta estudo das Nações Unidas, que leva a assinatura de 130 países


Dezenas de ecossistemas estão ameaçados / FOTO DIVULGAÇÃO


Nunca antes na história da humanidade, a natureza esteve tão em perigo. Essa é conclusão de um dos mais completos relatórios científicos, contendo 1.800 páginas, já produzidos sobre o ecossistema mundial e que leva a digital das Nações Unidas e assinatura de mais de 130 países. O declínio de espécies, por exemplo, é extremamente preocupante. Um milhão de plantas e animais podem desaparecer nas próximas décadas. "Estamos erodindo os fundamentos das nossas economias, meios de subsistência, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida em todo o mundo", diz Robert Watson, chefe da Plataforma Intergovernamental Científica e Política da Biodiversidade e Ecossistemas (IPBES), responsável pela coordenação do estudo.

O documento aponta as causas diretas da extinção de espécies, em ordem de relevância: o encolhimento do habitat e das mudanças no uso da terra; caça por alimentos ou comércio ilícito de partes do corpo de animais; as mudanças climáticas e a poluição. "Há também dois grandes fatores indiretos de perda de biodiversidade e mudança climática _ o número de pessoas no mundo e sua crescente capacidade de consumir", afirma Watson.

O relatório da IPBES alerta para "uma rápida aceleração iminente na taxa global de extinção de espécies". O ritmo da perda "já é dezenas a centenas de vezes maior do que foi, em média, nos últimos 10 milhões de anos". De acordo com o relatório das Nações Unidas, 75% do meio ambiente terrestre "foi severamente prejudicado" pelas atividades humanas, desde desmatamento, agricultura intensiva, pesca excessiva ou urbanização desenfreada, com 66% do ambiente marinho também afetado.

Os especialistas acreditam que o chamado evento de extinção em massa _ apenas o sexto do último meio bilhão de anos _ já está em andamento. O mais recente aconteceu no fim do período Cretáceo, cerca de 66 milhões de anos atrás, quando o choque de um asteroide de 10 quilômetros de diâmetro acabou com a maioria das formas de vida do planeta.

Os cientistas estimam que a Terra é hoje o lar de cerca de oito milhões de espécies distintas, a maioria delas insetos. Um quarto das espécies catalogadas de animais e plantas já está sendo ameaçado, comido ou envenenado. Pelo menos 680 espécies com coluna vertebral já foram extintas desde 1960, e o relatório aponta que desapareceram 559 raças domesticadas de mamíferos usados para alimentação. Além disso, mais de 40% das espécies de anfíbios do mundo, mais de um terço dos mamíferos marinhos e cerca de um terço dos tubarões e peixes estão ameaçados de extinção.

O grupo de especialistas trabalhou durante três anos no relatório de 1.800 páginas que deve se tornar a verdadeira referência científica sobre a biodiversidade, assim como as conclusões do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas já são para o clima.

A perda acelerada de ar limpo, água potável, florestas que absorvem CO2, insetos polinizadores, peixes ricos em proteínas e manguezais bloqueadores de tempestades _para mencionar apenas alguns dos poucos serviços prestados pela natureza _ não são menos ameaçadores do que as mudanças climáticas, diz o estudo. O documento das Nações Unidas destaca também que a qualidade de vida vai se degradar ainda mais entre os mais pobres e nas regiões onde vivem populações autóctones muito dependentes da natureza.

"Precisamos reconhecer que as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade são igualmente importantes, não apenas para o meio ambiente, mas também para questões econômicas e de desenvolvimento", Robert Watson.