Em entrevista coletiva, nesta sexta-feira, dia 12, as autoridades policiais deram detalhes da investigação
Os quatro jovens mineiros encontrados mortos dentro de uma BMW, na madrugada do dia 1º de janeiro deste ano na Rodoviária de Balneário Camboriú, morreram por asfixia por monóxido de carbono. Nesta sexta-feira (12), em entrevista coletiva em Florianópolis, as autoridades envolvidas no caso apresentaram o resultado final da investigação. O setor de Toxicologia Forense analisou as amostras e descartou a presença de entorpecentes, venenos e bebidas alcoólicas nas vítimas. Os corpos também não apresentavam lesões traumáticas, descartando possíveis ações de terceiros.
O delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, também destacou a qualidade do trabalho desenvolvido por todas as instituições que atuaram no atendimento do caso e, mesmo no período de alta temporada, a Polícia Civil e a Polícia Científica mobilizaram suas equipes para esclarecer os fatos
Segundo a perita-geral da Polícia Científica, Andressa Boer Fronza, a investigação envolveu seis áreas técnicas e 22 policiais científicos, que até o momento já realizaram 18 exames periciais relacionados à ocorrência. Pelo fato da principal suspeita das mortes ser asfixia, foram colhidas amostras de sangue e urina para realização de exames laboratoriais necessários à elucidação do caso, incluindo a quantificação de monóxido de carbono. Os exames de carboxihemoglobina apontaram níveis fatais de monóxido de carbono, superiores a 50% em três vítimas e, entre 49% e 50%, na quarta vítima, confirmando asfixia por monóxido de carbono.
“Nunca sabemos o que vamos encontrar numa cena de crime, portanto, temos sempre um grande desafio a ser desvendado em torno dos vestígios de cada ocorrência. Quero parabenizar todos os policiais envolvidos no atendimento, especialmente, os nossos policiais científicos, que realizaram um trabalho rápido e preciso na apuração da dinâmica dos fatos. As provas periciais produzidas pelos peritos oficiais trazem a garantia do devido processo legal e confirmam as mortes por asfixia de monóxido de carbono, por conta de alterações irregulares no sistema de escapamento do veículo", afirmou Andressa.
Trabalho da perícia
A Polícia Científica chegou na rodoviária de Balneário Camboriú por volta das 9 horas. Os óbitos já haviam sido confirmados pelas equipes de socorro do SAMU e os corpos se encontravam sob a calçada, ao lado da BMW. A polícia confirmou que não havia drogas na interior do veículo e análises preliminares foram realizadas, levantando a suspeita de asfixia por monóxido de carbono (CO). Os corpos chegaram ao setor de Medicina Legal da PCISC por volta das 10h15min, e os exames necroscópicos iniciaram imediatamente.
O Setor de Engenharia Forense da Polícia Científica também realizou uma série de exames periciais no veículo onde se encontravam os jovens, contando em alguns deles com o suporte e apoio técnico da empresa fabricante. Durante os trabalhos foram identificadas quatro alterações na estrutura original, realizadas com o propósito de aumentar a potência e o ronco do motor.
Uma delas consistiu na retirada de uma peça original do veículo onde se encontra o catalisador, sistema que elimina até 90% do monóxido de carbono gerado pelo motor, dando lugar a peça similar conhecida como downpipe. No entanto, além de não apresentar o sistema de filtragem dos gases, o novo componente se rompeu durante o uso e liberou monóxido de carbono para o interior do veículo através do duto do ar-condicionado. O monóxido de carbono é um gás incolor, inodoro, inflamável, menos denso que o ar atmosférico e altamente tóxico. A principal via de intoxicação com o monóxido de carbono é a respiratória, que faz com que o CO chegue aos pulmões rapidamente e cause a intoxicação. Depois de inalado, o monóxido de carbono é difundido pelos vasos sanguíneos, combinando-se com a hemoglobina, responsável pelo transporte do O2 pelo corpo humano, tendo como consequência a carboxi-hemoglobina. O monóxido de carbono possui cerca de 200 vezes mais afinidade com a hemoglobina que o gás oxigênio e, ao ligar-se a ela, diminui a quantidade de hemoglobina disponível para o transporte de O2 pelo corpo humano. Essa competição com o oxigênio pode levar à morte por asfixia.
De acordo com a Divisão de Engenharia Forense da PCISC, ao medir o nível de monóxido de carbono no interior do veículo, com o ar-condicionado ligado, em 16 minutos foi obtida contagem de 1.000 ppm, nível máximo de alcance do aparelho medidor. Sem a presença do ar-condicionado, esse nível foi zero. Em comparação com um veículo de estrutura original preservada, mesmo medindo diretamente na saída do escapamento esse nível é de 30 a 40 ppm. O inquérito ainda não foi finalizado e a a polícia não descarta a possibilidade de inidiciar por homicídio culposo as pessoas que realizaram as alterações no veículo.
Entenda o caso
Gustavo Pereira Silveira Elias, de 24 anos; Karla Aparecida dos Santos, de 19 anos; Nicolas Oliveira Kovaleski, de 16 anos; e Tiago de Lima Ribeiro, de 21 anos morreram dentro de um veículo BMW/320i na madrugada de segunda-feira, dia 1º de janeiro. Embora oficialmente ainda não tenha sido divulgado a causa das mortes, a perícia trabalha com a hipótese de que os quatro tenham sido intoxicados por monóxido de carbono, um gás inodoro, ou seja, não tem cheiro, o que dificultou a reação das vítimas. Imagens das câmeras de monitoramento do terminal rodoviário e o depoimento da única sobrevivente, Geovana, namorada de Gustavo, indicam para essa linha de investigação. Os quatro jovens chegaram na rodoviária de Balneário Camboriú por volta das 3h15min. Eles assistiram ao show da virada do ano na Praia Central de Balneário Camboriú, e seguiram para a rodoviária a fim de buscar Geovana, que veio de Paracatu, cidade mineira de origem das quatro vítimas. Geovana chega cerca de dez minutos depois que os jovens estacionam o veículo. Ele aparece na filmagem acompanhada de Gustavo. De acordo com seu depoimento, os quatro jovens se queixaram de estarem sentido tonturas e náuseas, mas acreditavam tratar-se de uma intoxicação alimentar. Decidiram então permanecer no estacionamento da rodoviária por mais algumas horas, para depois seguirem viagem para São José, na Grande Florianópolis, onde residiam havia 30 dias. Eles permaneceram dentro da BMW com o veículo e o ar condicionado ligados. Neste tempo, as imagens do circuito interno mostram os jovens saindo da BMW pelo menos uma vez. Karla chega a ser retirada carregada do veículo e, amparada por Gustavo e Nicolas, levada ao banheiro do terminal onde retornou minutos depois de roupa trocada e acompanhada também de Geovana. Nicolas e Gustavo não voltam para o veículo, eles caminham para fora do estacionamento. Retornam minutos depois e se juntam a Carla e Tiago no interior do veículo. Apenas Geovana permanece do lado de fora, sentada no meio-fio por longo tempo. Por volta das 7h, quando já está amanhecendo, o vigia do estacionamento vai até o veículo e olha pelo lado de fora, depois retorna para a portaria. Quatorze minutos depois é a vez de Geovana ir até carro e abrir as portas do passageiro e traseira. Neste momento, ela percebe que algo está errado e pede ajuda a pessoas próximas. Por volta das das 7h30min as unidades do SAMU chegam à rodoviária para os primeiros socorros. Os jovens são retirados do veículo, colocados na calçada e os socorristas iniciam os procedimentos de reanimação. Cerca de 45 minutos depois, atestam que os quatro jovens estão sem os sinais vitais. Eles morreram de parada cardiorrespiratória.
As câmeras de segurança mostram que os jovens permaneceram entre três e quatro horas no interior do veículo. A polícia suspeita que a BMW, fabricada em 2022, teve uma falha no escapamento que levou monóxido de carbono para dentro do veículo por intermédio do duto do ar condicionado, o que pode ter causado a morte dos quatro jovens por intoxicação. A polícia civil também já sabe que o veículo passou recentemente por uma customização, com a troca do escapamento por que faz um "ronco" diferente do original, o que pode estar ligado ao vazamento de monóxido de carbono já que se constatou uma abertura na peça.
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