Número de ações que tramitam no Judiciário catarinense já passa de 40 mil
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DIVULGAÇÃO/Seminário segue até sexta-feira (18)
Interromper o ciclo de agressões contra as mulheres é um dos objetivos do 1º Seminário Estadual de Enfrentamento da Violência contra a Mulher, que iniciou nesta quinta-feira (17) e segue até sexta-feira (18) na Sala de Sessões Ministro Teori Zavascki, no Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), em Florianópolis.
De acordo com a Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid/TJSC), de janeiro a agosto de 2019, as 111 comarcas do Estado receberam 18.391 novas ações de crimes relacionados a violência contra a mulher. Isso representa mais de 75 novos processos por dia ou mais de três por hora. Atualmente, o Judiciário tem 40.995 processos em tramitação sobre o tema.
Somente neste ano, 43 mulheres foram vítimas de feminicídio em Santa Catarina. Preocupado com a falta de atendimento aos agressores, o professor e assistente social Ricardo Bortoli criou em Blumenau grupos reflexivos para tratar os homens. O tratamento consiste em 12 encontros, duas vezes por mês, em que a intenção é desconstruir o machismo. De 2004 a 2012, o professor realizou uma pesquisa com 122 homens e registrou os principais motivos para a violência apontados pelos agressores. O ciúme, a recusa de sexo e o fim do relacionamento estão entre as "justificativas" mais recorrentes.
Desde 2014, todos os 358 homens com medida protetiva em Blumenau foram encaminhados para os grupos reflexivos. O índice de reincidência é inferior a cinco casos. "Enquanto não houver políticas públicas para que os homens revejam a sua masculinidade, continuaremos com dezenas de mortes por ano. Os homens autores da violência somos nós, que enraizamos todo o machismo presente nas instituições", observou o professor e assistente social.
Na outra ponta do problema, a ONG Casas das Anas recebe as mulheres e seus filhos vítimas de violência. A coordenadora Mariana Torres Roveda dos Santos explicou que o número de denúncias poderia ser maior se as vítimas tivessem um local seguro para ir após o registro do boletim de ocorrência. Desde 2017, mais de 200 pessoas foram acolhidas nos abrigos de Balneário Camboriú e de Itajaí.
Nas casas de acolhimento, as mulheres e crianças recebem bem mais do que uma cama e um prato de comida. "Trabalhamos no empoderamento das mulheres, porque muitas são dependentes financeiramente dos seus companheiros. Também damos atenção para que as mulheres não reproduzam a violência em seus filhos, para interromper esse ciclo que infelizmente tem início na infância", comentou Mariana.
O seminário também discutiu o papel da imprensa no enfrentamento da violência contra as mulheres. Para a jornalista Schirlei Alves, do jornal Notícias do Dia, o papel da imprensa é promover o debate na sociedade e cobrar soluções dos entes públicos. Pontualmente, admite, incorre em erros também. "A imprensa acaba expondo muito a vítima, mas por conta do sigilo das ações desta natureza o agressor não é mostrado. Essa é a nossa falha", destacou.
Na opinião do jornalista Paulo Muller, da NSC TV, num Estado em que uma mulher é violentada a cada três horas a educação deve ser a bandeira para a transformação. "A imprensa tem um importante papel na educação da sociedade, divulgando e apresentando novas iniciativas e boas práticas. Porque em briga de casal a gente mete a colher", disse.
Em Palhoça, o professor Robson Ferreira Fernandes, da EEB Ursulina de Sena Castro, debate com os alunos a cultura do machismo como causa do feminicídio. Os estudantes foram incentivados a entrevistar autoridades e pessoas comuns sobre o tema. "O assunto deve ser debatido pela comunidade escolar. A masculinidade tóxica tem comportamentos que levam a agressão e, para mudar de atitude, os homens precisam tomar consciência de seus atos", declarou. O evento é organizado pela Cevid/TJSC, Academia Judicial, Associação das Assistentes Sociais e UFSC.
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