A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) realiza nesta quarta-feira, dia 22, o lançamento oficial durante missa na Capela Nossa Senhora Aparecida, em Brasília-DF
No Brasil, mais de 33 milhões de pessoas estão em situação de fome, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Nos últimos anos, o país voltou a figurar no Mapa da Fome das Organizações das Nações Unidas, a ONU, depois de uma década.
A emergência sobre o assunto fez com que, pela terceira vez, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) assumisse a realização de uma Campanha da Fraternidade que trouxesse luz ao tema, buscando fomentar ações em todos os níveis, a fim de minimizar os impactos desta realidade na vida do povo brasileiro.
Convocando todos a considerar a fome como referência para reflexão e propósito de conversão, a Campanha da Fraternidade deste ano tem como tema “Fraternidade e Fome” e o lema bíblico, extraído de Mateus 14, 16: “Dai-lhe vós mesmo de comer!”.
O lançamento acontece oficialmente no dia 22 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, às 10h, na sede da CNBB, em Brasília (DF). Um dos objetivos é propor aos fiéis um caminho de conversão para não ceder à cultura da indiferença frente ao sofrimento humano, conforme pede o Papa Francisco.

A Campanha da Fraternidade
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propõe à Igreja e a todos os homens e mulheres de boa vontade, pela 60ª vez, desde 1964, a Campanha da Fraternidade. No Brasil, a Campanha da Fraternidade é um modo de a igreja celebrar o tempo da Quaresma, com oração, jejum e caridade associado à reflexão e ação sobre um tema específico.
Expressão de comunhão, conversão e partilha, a Campanha desperta o espírito cristão e comunitário na busca do bem comum; educa para a vida em fraternidade e renova a consciência da responsabilidade de todos pela ação evangelizadora, em vista de uma sociedade de irmãos.
A Coleta Nacional da Solidariedade, gesto concreto da Campanha da Fraternidade, acontece em todas as comunidades do Brasil, no Domingo de Ramos. Em 2023, a Coleta será realizada no dia 2 de abril. Do total arrecadado, as dioceses enviam 40% ao Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), gerido pela CNBB, ação responsável pelo atendimento a projetos sociais em todo território brasileiro. A outra parte, 60%, permanece nas dioceses para atender projetos locais, pelos respectivos Fundos Diocesanos de Solidariedade (FDS).
Programação
A cerimônia de lançamento da CF 2023 inicia com a Santa Missa na Capela Nossa Senhora Aparecida, sede da CNBB, às 9h. O evento será presidido pelo secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, e concelebrada pelos padres assessores. Na sequência, dom Joel e o assessor do Setor de Campanhas da CNBB, padre Jean Hansen, farão a acolhida e saudação. Na programação estão previstas a exibição de um vídeo com práticas solidárias da Igreja no Brasil no combate à fome e a mensagem do Papa Francisco.
Como assistir
As emissoras de televisão de inspiração católica farão a transmissão, ao vivo, da cerimônia de abertura. A Santa Missa será transmitida pelo canal Rede Vida. Já a cerimônia de lançamento, contará com a transmissão das TV’s: Rede Vida, Pai Eterno, Horizonte, Evangelizar, Nazaré e Imaculada. Todos os momentos também poderão ser acompanhados pelas redes sociais da CNBB: Youtube, Facebook, Twitter.
A pesquisa realizada em 2022 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), intitulada de “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil”, mostra que os dados sobre a fome no país são alarmantes.
A pesquisa mostra que o número de domicílios com moradores passando fome saltou de 9% (19,1 milhões de pessoas) em 2021 para 15,5% (33,1 milhões de pessoas) em 2022. São 14 milhões de novos brasileiros em situação de fome em pouco mais de um ano. Além disso, 58,7% da população brasileira convivem com a insegurança alimentar, ou seja, a falta de certeza quanto ao acesso a alimentos.
Em 2022, 125,2 milhões de brasileiros não tinham certeza se teriam o que comer no futuro próximo, limitando a qualidade ou quantidade de alimentos para as refeições diárias, um aumento de 7,2% em relação a 2020. Se compararmos com dados de 2018 (última estimativa nacional antes da pandemia de Covid-19), quando a insegurança alimentar atingia 36,7% dos lares brasileiros, o aumento chega a 60%.
Em média, considerando todas as regiões do Brasil, três em cada 10 famílias relataram incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo e preocupação em relação à qualidade da alimentação no futuro imediato. Além disso, quatro em cada 10 famílias das regiões Norte e Nordeste, três em cada 10 das regiões Centro-Oeste e Sudeste, e dois em cada 10 da região Sul relataram redução parcial ou severa no consumo de alimentos.
Além das regiões do país, a fome pode ser classificada de outras formas. Nos lares de agricultores ou pequenos produtores, por exemplo, a fome atingiu 21,8% dos lares. Se olharmos para as formas mais severas de insegurança alimentar (moderada e grave), o total chega a 38% dos domicílios – cenário ainda mais preocupante nas regiões Norte (54,6%) e Nordeste (43,6%).
A insegurança alimentar também está mais presente nos lares em que os responsáveis são pretos ou pardos, com 65% dos lares comandados por pessoas pretas e pardas convivendo com restrição de alimentos. Já nos domicílios em que o responsável é branco, a segurança alimentar está presente em 53,2%.
De cada 10 lares comandados por mulheres, seis convivem com a insegurança alimentar. Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Nos lares que têm homens como responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9%. Isso ocorre, entre outros fatores, pela desigualdade salarial entre os gêneros.
Nas casas em que a renda por pessoa é inferior a ¼ do salário mínimo, 91% das pessoas convivem com algum grau de insegurança alimentar. Em 43% deles os moradores vivenciam com a fome. Por outro lado, 67% dos domicílios com renda maior que um salário mínimo têm segurança alimentar.
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