Um custo alto para a sociedade
-
Movimentos isolados da sociedade tentam impedir a continuidade do sistema corrupto e viciado (Fotos: Agência Brasil)
Calcula-se em R$ 69 bilhões/ano o custo financeiro e social do desvio de recursos no Brasil
Ainda que 2016 tenha sido um ano de muitos acontecimentos marcantes, nenhum outro conseguiu emplacar tantas manchetes na mídia nacional quanto a corrupção. O Brasil é o quarto país mais corrupto do planeta, segundo a opinião de 15 mil empresários de 141 economias do mundo, que responderam ao questionário do Fórum Econômico Mundial, na Suíça. A pesquisa foi apresentada em outubro deste ano. Já em outro ranking, divulgado no início de 2016 pela Transparência Internacional, o Brasil foi classificado como o 76º em uma lista sobre a percepção de corrupção entre 168 nações.
Um estudo realizado pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) revelou que os prejuízos econômicos e sociais que a corrupção causa ao País podem chegar a R$ 69 bilhões por ano.
Mesmo diante de um cenário tão assustador, a Procuradoria da República e o Ministério Público Federal enfrentam enormes dificuldades para aprovar um pacote de dez medidas contra a corrupção que está no Congresso Nacional. A dificuldade é porque a tarefa de transformar ou não as propostas em leis é justamente de quem mais se beneficia da corrupção no Brasil: a classe política.
Por outro lado, a corrupção está tão enraizada em nosso solo que se tornou sistêmica e aceitável por vários setores da sociedade, fazendo valer o bordão que entrou para o folclore brasileiro na década de 1950: "rouba, mas faz", cunhado pelos partidários do então candidato Adhemar de Barros (1901-1969).
O dicionário traz o significado de corrupção como "transação ou troca entre quem corrompe e quem se deixa corromper. É quando se realiza uma troca da legalidade por uma recompensa, que nem sempre precisa ser monetária, onde o objetivo é levar vantagem, que pode ser de qualquer espécie, sobre os outros".
Por ser tão complexa e disseminada na sociedade brasileira, a corrupção se instalou em todos os níveis e muitas vezes é imperceptível. Se nos revoltamos contra a classe política pelos vários casos de corrupção na história recente, o mesmo não se pode dizer de outras situações do cotidiano que também podem ser "casos de corrupção", como sonegar impostos ou dar uma gorjeta para o garçom esperando sentar na melhor mesa do restaurante.
Se o momento nos traz a sensação de desmando generalizado, é necessário diferenciar corrupção e sensação de corrupção. É impossível afirmar se a corrupção aumentou no Brasil, ao menos no meio político, simplesmente porque ela sempre existiu, porém, a sensação de corrupção talvez nunca tenha atingido níveis tão elevados. Isto signifca que a corrupção, seja ela política ou pessoal, milionária ou de menor valor, está entre nós, assim como as pequenas transgressões cotidianas, que fazem parte do "jeitinho" brasileiro de viver.
A questão, no entanto, é como o povo passou a reagir a partir da constatação que é necessário combater de fato os "crimes do colarinho branco", pois eles contribuem muito para a sensação de impunidade, que é tão nociva à sociedade quanto o próprio ato de se corromper.
Deixe seu comentário