Pedro Sabino, morador do Gasparinho, mantém em casa uma impecável coleção de antigos aparelhos de som

Uma paixão que começou na infância é mantida até hoje. O morador do bairro Gasparinho, Pedro Leofridio Sabino, de 59 anos, reúne em casa uma grande coleção de aparelhos de som. Ele não sabe precisar quantos, mas uma coisa é certa: são muitos. Os mais antigos datam dos anos 1960 e os mais novos dos anos 2010. Além disso, todos os aparelhos são muito bem conservados e funcionam com qualidade e potência sonora impecáveis. Equipamentos de som raros e com alta fidelidade são conhecidos como vintages. E quem curte e coleciona, assim como Pedro, são vintageiros.

Além das dezenas de aparelhos de som modulares, Pedro ainda mantém uma discoteca de mais de 600 LPs de vinil e cerca de 2.500 CDs. Entre os vinis, ele ainda preserva os primeiros discos comprados em Rio do Sul, porque em sua cidade natal, Rio do Oeste, não havia loja de discos.

O colecionador conta que a paixão por aparelhos de som começou com o pai, que tinha um radinho à pilha. Foi ali que ele começou a se interessar pelo assunto. “Eu lembro que quando eu era criança meu pai tinha um radinho à pilha, quatro pilhas grandes, e a gente ouvia a rádio Record, Farroupilha de Lages, ouvia a Mirador de Rio do Sul e ali também tocava música sertaneja raiz: Tonico e Tinoco, Milionário e José Rico, entre outras duplas famosas. Eram músicas com outras letras, outras “sofrências”, mas eu gostava daquilo, aquilo me encantava e eu comecei a formar na minha cabeça o gosto pela coisa e passei a idealizar o que eu queria para o futuro”, recorda.

Assim como os primeiros discos, o empresário ainda tem o primeiro aparelho de som que comprou da marca CCE. O equipamento está na coleção como uma espécie de amuleto. Pedro exibe até a nota fiscal. Ele admite, porém, que o primeiro equipamento de som comprou com 14 anos. “Era um gravadorzinho Philips. Depois, com 18 anos, comprei o 3 em 1 da CCE”.

Quando se mudou para Gaspar, Pedro começou a trabalhar em uma empresa têxtil de Blumenau e, muitos anos depois, montou a sua própria confecção, mas a paixão pelos aparelhos de som e discos ele nunca abandonou. Pedro conta que a coleção começou há mais ou menos 15 anos. Isso porque, segundo ele, as pessoas daquela época começaram a morrer e os equipamentos passaram a ser vendidos no mercado a preços mais acessíveis, já que até então eram muito caros. “Aquelas pessoas das décadas de 1970/80, que haviam comprado muito aparelho de som, começaram a morrer e as viúvas passaram a vender os equipamentos. E com a modernidade, a conexão do WhatsApp, foram criados grupos que possibilitaram a gente conhecer esses aparelhos e comprar por um valor cinco vezes menor do que eles valem hoje”, explica Pedro, que brinca dizendo esperar que a sua esposa não venda os seus aparelhos quando ele partir deste mundo, pois quer que as gerações mais novas também possam conhecer os equipamentos que reproduzem música de forma diferente, com muito mais qualidade. “Eu não pretendo aumentar a coleção, mas conclui-la, trazer algumas coisas que estão em depósito e melhorar a estética, conectar tudo, deixar tudo ligado, e depois só curtir um pouquinho enquanto dá tempo. Quero deixar para os filhos e rezar para a minha menina não vender tudo, mas acho que isso não vai acontecer”, diverte-se. A ideia, segundo o colecionador vintage, é deixar a atual e futura gerações conhecerem os antigos aparelhos de som. “Você não vai ver por aí uma quantidade de aparelhos nessas condições funcionando e também a ver tudo isso em um ambiente só”, observa.

Ele esclarece que o seu espaço não é um museu, mas uma sala de som. “É uma sala onde eu gosto de estar, botar um fonezinho de ouvido e ficar ouvindo música ou, quando dá, eu abro a caixa de som, mas quero que os jovens vejam como era na minha época, o que a gente curtia e como era sadio”, finaliza.

Raridades

O empresário também explica que algumas linhas de aparelhos de som podem custar muito dinheiro pela raridade, já que hoje não são mais tão fáceis de se encontrar no mercado. “Uma linha Esotech, uma linha System One equivalem ao preço de um carro popular, que está na faixa de R$ 80 a R$ 90 mil e um aparelho de som desse, um rack como é conhecido, valia isso e se vendia muito, as fábricas sobreviviam, porque o pessoal tinha poder aquisitivo. Se for fabricar a mesma coisa hoje, vai custar muito mais e o pessoal não vai ter condições de comprar, vão comprar uma JBL, uma caixinha de som da Philips, um fone de ouvido e ouvir direto do celular, não teria mercado hoje; quem quiser precisa comprar os antigos que estão por aí, restaurar, ter um amigo técnico que tenha paciência de fazer, porque ninguém mais quer mexer nisso, porque é muito complexo e não tem peça... quem vai mexer é aquele técnico que ama a coisa”, observa Pedro.

Na coleção, ele tem um modular tão raro que não se encontra mais para venda. O equipamento pertence à linha Blue, da Pioneer, o 9.800. “É um aparelho bem raro, que se comprava lá atrás por R$ 3 a R$ 4 mil. Hoje, ele está na faixa de R$ 12 a R$ 16 mil, eu já vi pessoas pedindo R$ 40 mil; mesmo assim, se pesquisar no Mercado Livre não vai ter, porque a maioria não existe mais e o que se comercializa é vendido dentro dos grupos de aficcionados por este tipo de equipamento. “Eu tenho um aparelho para vender, mas não quero vender para qualquer pessoa porque eu não sei se essa pessoa vai levar e deixar jogado em algum lugar, eu quero vender para alguém que vai preservar, que vai gostar, que vai usar, porque o aparelho parado também estraga”, finaliza.


“É uma sala de som que eu gosto de sentar ali, botar um fonezinho de ouvido e ficar ouvindo música ou, quando dá, eu abro a caixa de som, mas quero que os jovens vejam como era na minha época, o que a gente curtia e como era sadio.”

Pedro Leofridio Sabino : Empresário e audiófilo


Encontro de amigos


Além de possibilitar a compra e venda dos aparelhos, os grupos de WhatsApp também são fonte de conhecimento, já que Pedro conta que aprendeu a mexer e a entender sobre o funcionamento dos equipamentos da forma mais simples que existe: fuçando. Porém, como no grupo há muitos técnicos, quando surge alguma dúvida, o grupo se torna fórum para pedir ajuda, mas não é só isso, uma amizade também nasceu das conversas sobre aparelhos de som.

No último sábado, dia 4, aconteceu a 5ª edição do encontrou Áudio Raridades e foi na casa de Pedro, onde cerca de 40 apaixonados por aparelhos de som e música se reuniram para compartilhar da paixão. “Esses grupos de WhatsApp também resultaram no grupo Áudio Raridades, que tem a base em Blumenau e nós resolvemos nos encontrar não só pelo WhatsApp, mas de maneira física também. A 5ª edição foi aqui na minha casa, um encontro maravilhoso, que começou às 10h e terminou por volta de 20h. Vieram técnicos de som de todos os municípios, de Joinville, Florianópolis, Indaial, de Rio do Sul, de Pouso Redondo... foi um dia de muita conversa, o pessoal interagiu, ouviu música, passou conhecimento, sem contar na amizade que fica”, destaca.