Longas caminhadas, luz de lampião e falta de dinheiro para comprar os livros
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Dona Pupi e seu Antônio, ex-alunos da Honório (Fotos: Alexandre Melo/Jornal Metas)
O casal Antônio e Pupi relembram os tempos em que estudaram na Honório
Nestes 85 anos, que serão completados na próxima quarta-feira (29), a Honório Miranda passou por reformas físicas, administrativas e curriculares, inclusive mudando de nome para Escola de Educação Básica Professor Honório Miranda, quando foram extintos a Pré-Escola e Ensino Fundamental nos anos 2000 - hoje a escola atende apenas do 1º ao 3º ano do ensino médio, mas nada que não possa ainda emocionar o casal Arzelina de Aguiar Wanzuit, a popular Pupi, de 80 anos, e Antônio Wanzuit, de 83 anos, ao visitarem a escola quase 70 anos depois. Um filme passa na cabeça dos dois idosos. Seu Antônio tenta lembrar onde era sua sala de aula. "Acho que era ali", aponta com certa dúvida, enquanto dona Pupi exibe, com orgulho, o seu último boletim escolar, datado de 1952, quando ela completou o quarto ano. E parou por aí, não por falta de vontade de continuar estudando, mas porque como ela mesmo conta sua família era muito pobre e os nove filhos tinham que ajudar na roça da família, além do fato dos seus pais não terem dinheiro para comprar os livros. "Bastava a gente saber ler e assinar o nome que já tava bom, pois as mulheres daquela época eram criadas para o casamento e não para o estudo", acrescenta Pupi com certa tristeza, pois anos mais tarde, quando empregou-se na Sulfabril, sentiu o peso da falta de estudo. "Eu via meus colegas passando para outras funções e eu não conseguia porque esbarrava na falta de estudo", revela.
Do curto período em que frequentou a Escola Honório Miranda, Pupi recorda das caminhadas de 45 minutos - sempre de pés descalços - do Gaspar Grande até a escola, dos professores que eram bastante rígidos e da merenda escolar. "Era feijão e arroz servido em caneca esmaltada", relembra a simpática senhora. Dona Pupi estudava no período da manhã, mas precisava acordar antes do sol nascer, pois seu pai exigia que ela tratasse das galinhas e tirasse o leite da vaca antes de tomar o rumo da escola. À tarde, ela e seus irmãos retomavam o trabalho na roça até os últimos raios de sol desaparecerem no horizonte. Sobrava, portanto, apenas a noite para ela fazer os deveres de casa, o que acontecia à luz de lampião porque não havia energia elétrica. Tanta dificuldade também fizeram dona Pupi desistir de estudar, mas reconhece que hoje o estudo é fundamental para a pessoa conquistar algo na vida. Por isso, ela constuma incentivar a neta Bárbara, aluna da primeira série do Ensino Médio na Honório Miranda, a estudar. "Eu sempre digo para ela aproveitar, porque está na melhor escola pública de Gaspar".
Professoras
Seu Antônio estudou mais tempo na Honório Miranda. Foram quatro anos para concluir da 1ª a 4ª série. Os anos ele não recorda, mas calcula que foi entre 1949 e 1952. Ele lembra das professoras Bentinha, Lori Beduschi e Maria Cecília Schmitt, além da diretora Iris Fadel. Da sua passagem pela Honório Miranda, ele lembra ainda da inauguração da gruta de Nossa Senhora de Lourdes, que fica nos fundos da escola. Seu Antônio diz, com orgulho, que se alfabetizou na melhor escola de Gaspar. A exemplo de dona Pupi, com quem casou há 60 anos, seu Antônio também não prosseguiu nos estudos por falta de tempo e dinheiro para comprar os livros. Dos seus sete irmãos, apenas um concluiu o chamado Curso Complementar, que vinha na sequência das quatro primeiras séries. Aos 13 anos, ele já estava trabalhando em um engenho de arroz e aos 15 em uma tecelagem.
Depois foi admitido na Círculo onde trabalhou durante muitos anos até se aposentar. Os estudos e a Honório Miranda acabaram ficando para trás, mas se fosse jovem nos dias atuais certamente não desistiria de estudar. "O estudo é prioridade, uma pena que muitos dos nossos jovens não percebam isso", acentua. Ele apenas lamenta o fato dos professores não terem o merecido reconhecimento. "Ganham muito pouco", acrescenta.
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