Companheiro de Letícia Francine Neves está preso no Paraná e deve ser trazido para Santa Catarina nos próximos dias

Letícia foi morta por asfixia no último sábado (29) /// FOTO ARQUIVO PESSOAL

O mais recente feminicídio no estado ocorreu em Gaspar no último final de semana e vai engrossar a lista de mais de 30 mulheres assassinadas somente este ano em Santa Catarina. Letícia Francine Neves, de 22 anos, moradora do bairro Bateias, foi morta, por asfixia, entre a madrugada e a manhã do último sábado (29), mas seu corpo somente foi encontrado na noite do mesmo dia na residência em que morava, na Rua Vitório Fantoni, com as três filhas de três anos, um ano e seis meses e oito meses de vida. Após cometer o crime, o companheiro da vítima, que já está preso, trancou a porta, deixando as crianças na casa junto com o corpo da mãe por várias horas. À noite, a irmã da vítima foi até a residência e encontrou Letícia morta e sobre o corpo dela uma das filhas. A polícia foi chamada e iniciou as investigações, que apontavam que o possível autor do crime era o companheiro da vítima cujo nome não foi revelado pela polícia.  

A equipe do delegado da Polícia Civil de Gaspar, Diogo Medeiros, que assumiu as investigações, ainda não sabe a motivação do crime, mas poderá esclarecer em breve, quando tomar o depoimento do  companheiro da vítima, de 29 anos. O homem foi preso na tarde desta quarta-feira (2), em Apucarana, interior do Paraná, num trabalho em conjunto do setor de investigação da Polícia Civil de Gaspar e da Delegacia de Homicídios de Apucarana-PR, comandada pelo delegado André Garcia. Informalmente, de acordo com delegado Garcia, o homem confessou a autoria do crime. 

Em entrevista ao site de notícias Repórter do Vale, de Apucarana (assista abaixo), o delegado do município parananense contou que, na manhã de quarta-feira (2), recebeu a informação da Polícia Civil de Gaspar de que o provável autor do crime teria fugido para Apucarana. "Iniciamos as diligências no intuito de localizá-lo e cumprir a ordem judicial, o que acabou acontecendo na tarde de hoje (quarta-feira)". Ainda segundo o policial, o homem estava escondido nos fundos de uma oficina mecânica no Jardim Ponta Grossa. "Ele não reagiu à prisão e informalmente confessou a autoria do crime, contando inclusive detalhes de como tudo aconteceu", revelou Garcia, acrescentando que o assassino se mostrou arrependido pelo que fez, mas que por outro lado parecia bastante tranquilo. "Um comportamento bastante normal para quem se diz arrependido", afirmou o delegado. 
O homem contou ainda à polícia paranaense que fugiu para Apucarana, onde tem familiares, na manhã de domingo (30). Garcia acredita que as pessoas que lhe deram abrigo não sabiam que ele havia cometido o crime em Gaspar. O policial também revelou que as investigações da Polícia Civil de Gaspar apontavam para uma fuga em direção ao Paraguai. O assassino de Letícia tem passagens pela polícia por roubo e violência doméstica. O delegado de Gaspar, Diogo Medeiros, disse à reportagem que não sabe quanto o preso será trazido para Gaspar, pois esse procedimento depende da polícia penal do estado vizinho. 

A urgência de mudar uma realidade  

Trinta feminicídios em Santa Catarina em 2023 - média de cinco a cada 30 dias . Os dados são do Observatório da Violência Contra a Mulher. No mesmo período, mais de 14 mil medidas protetivas foram requeridas junto à justiça catarinense. Ano após ano, números como esses mostram a urgência de se pensar ações para interromper o ciclo da violência contra a mulher no estado. Por isso, nesse Agosto Lilás, mês dedicado à conscientização sobre o tema, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) dá início a mais uma iniciativa voltada a combater tais crimes, buscando ampliar os debates e fortalecer a rede de proteção às mulheres. 
Ao longo do mês, Promotores e Promotoras de Justiça de todo o Estado vão deixar seus gabinetes e ir ao encontro de mulheres, para ouvir seus relatos e transmitir orientações que ajudem a romper o ciclo de agressões. A proposta do MPSC é conscientizar grupos de mulheres para a importância de buscar ajuda ao perceber os primeiros sinais de violência e fazer a denúncia o mais cedo possível, antes que o ciclo de agressões as transforme em vítimas fatais. 

As iniciativas deste Agosto Lilás no MPSC acontecem dentro da campanha "Oi, meu nome é Maria", lançada pela instituição no ano passado, para celebrar o Dia Internacional da Mulher. Em 2022, a campanha levou Promotores e Promotoras de Justiça para escolas em todo o Estado, onde eles conversaram com cerca de 1.000 estudantes de mais de 20 escolas sobre o combate à violência contra as mulheres e as questões relacionadas à Lei Maria da Penha, como direitos, garantias e medidas de proteção. A campanha recebe esse nome justamente em homenagem à Maria da Penha, ativista do direito das mulheres e vítima emblemática da violência. 

Organizada pelo Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar e contra a Mulher em razão de gênero (NEAVID), o MPSC decidiu ampliar a iniciativa para alcançar e conscientizar grupo de mulheres. A ideia é levá-las à reflexão sobre o que é a violência contra mulher, para que possam entender e auxiliar eventuais vítimas. 

Um novo foco para a campanha "Oi, meu nome é Maria"

Relatos reais de vítimas de violência e palestra com ministra do STF 

Nas redes sociais, o MPSC vai divulgar publicações contendo relatos reais de mulheres vítimas de violência. Os depoimentos em áudio e texto enviado por mulheres de diversas faixas etárias e classes sociais vão mostrar que episódios de violência podem vitimar qualquer uma.  

Os áudios serão disponibilizados na página do MPSC no Instagram (clique aqui para acessar). 

No dia 21, o MPSC promove uma edição do MP na Prática para membros e servidores. A capacitação será coordenada pelo Promotor de Justiça do Paraná Thimotie Aragon Heemann, que falará sobre técnicas especiais de inquirição em processos envolvendo violência de gênero.

As ações do Agosto Lilás se encerram no dia 25/8, quando o MPSC promove o Ciclo de Diálogos sobre a Lei Maria da Penha. O evento busca capacitar os participantes sobre as questões relacionadas à violência de gênero ocorridas no âmbito doméstico.  

Entre os palestrantes estará a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmem Lucia. Além dela, também falam ao público a Procuradora de Justiça e Presidenta da Comissão de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade do MP de Goiás, Ivana Farina Navarrete Pena, o Juiz de Direito do TJSC Alexandre Takashima Karazawa e a Desembargadora do TJSC Salete Silva Sommariva. Haverá ainda um espaço para o compartilhamento de boas práticas no enfrentamento da violência em razão do gênero identificadas dentro do MPSC.to inicia às 9 horas, vai até as 18 horas e acontece em formato híbrido, on-line e presencialmente, no auditório Promotor de Justiça Luiz Carlos Schmidt de Carvalho, no edifício sede do MPSC, em Florianópolis. Para se inscrever e ver mais detalhes da programação, acesse o CEA.

ENTREVISTA AO SITE REPÓRTER DO VALE - APUCARANA - PR