"Pra ser caminhoneiro no Brasil tem que gostar muito". A frase é quase um mantra e segue sendo dita até hoje por todos aqueles que ganham a vida percorrendo as estradas brasileiras. Ainda que não tenham todo o reconhecimento que merecem, os caminhoneiros fazem parte de uma das profissões mais importantes para a economia brasileira. Uma vez que o modal rodoviário de cargas responde por mais de 60% de toda a logística de produtos no país, tornando ainda mais relevante à afirmação: sem caminhoneiros, o Brasil para. E para mesmo. 
 Mas, se a profissão é cheia de perigos - com estradas mal conservadas, assaltos e roubos a cargas, acidentes, entre outros, porque existem tantos caminhoneiros no Brasil? 
Quem responde a pergunta é um profissional que há mais de 40 anos ganha a vida ao volante de um caminhão. Valdir Fonseca da Silva, de 58 anos, começou a trabalhar aos 14, como ajudante de seu irmão que também era caminhoneiro. De lá pra cá, nunca mais parou. Para ele, estar no "trecho" (como é chamado o frete feito pelos caminhoneiros) é viciante. "Só fica na estrada quem gosta muito. É igual cachaça, pode até tentar largar, mas é bem difícil. Eu mesmo tentei duas vezes e acabei voltando, é algo que nasce com a gente e fica pra vida toda", admite o caminhoneiro que por duas vezes tentou investir no ramo da alimentação, mas acabou de volta à boleia do caminhão. 
E a vida na estrada realmente parece ser uma obsessão que passa por cima de muitas dificuldades, inclusive das limitações da idade. Colega de profissão e de empresa de Valdir, seu Osnir Simiano, de 74 anos, já até perdeu as contas de quanto tempo está na profissão. "Estou por toda a vida no caminhão", diz. E se depender de sua disposição, ainda passará mais alguns anos na cabine de um "truck". Assim como outros que compartilham de sua profissão, Osnir seguiu os passos de familiares que também eram caminhoneiros. 
"Comecei com meu irmão lá na década de 60. Lembro que uma das primeiras viagens com ele foi para o Rio de Janeiro. Faz tanto tempo que, naquela época, o Cristo Redentor ainda era pequenininho assim", diverte-se, fazendo com a mão a altura de uma criança. Depois dessa viagem de "batismo", muita coisa mudou na vida de Osnir, assim como nas estradas do país, menos a sua paixão pela boleia. "Hoje as estradas estão muito bem cuidadas. A grande maioria com pista dupla ou mais. Quando comecei, demorava uma semana para ir e voltar a São Paulo. Hoje em dia não 'dá' 24 horas de viagem, com cerca de 9 horas de trânsito bom já chega a São Paulo tranquilamente", compara. Com mais de 50 anos de profissão, Osnir coleciona boas histórias, e outras não tão agradáveis, mas o saldo, diz ele, é positivo. "Se não fosse bom não tinha ficado tanto tempo na profissão. Hoje só paro o dia que não conseguir mais dirigir", finaliza com bom humor. 

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