Indignada, a usuária do transporte coletivo exigiu que a empresa a levasse até em casa

Para Lourdes Pinheiro, moradora de Ilhota e usuária do transporte coletivo da Viação Verde Vale, empresa que faz as linhas intermunicipais Ilhota-Gaspar-Blumenau, a situação chegou ao limite. Na sexta-feira, dia 26, depois de novo atraso, ela tomou uma decisão radical: exigiu que a empresa a levasse até Ilhota. A Verde Vale acabou contratando um transporte por aplicativo que, segundo Lourdes, custou R$ 62,00.

Ela conta que chegou no ponto de ônibus, em Blumenau, antes das 13h, como faz de segunda a sexta-feira, após cumprir expediente na Prefeitura de Blumenau. Ela e outros passageiros aguardaram por cerca de 40 minutos. Por volta das 13h40min outra linha da Verde Vale passou pelo ponto, porém, o destino era Gaspar. Indignada, Lourdes decidiu embarcar no veículo e informou ao motorista que somente desembarcaria em Ilhota.

“Avisei que não iria descer enquanto não me levassem até a minha casa”. Segundo a direção da empresa, num primeiro momento o motorista foi autorizado a estender a viagem até Ilhota, porém, ao ser informada que Lourdes era a única passageira a orientação foi que o ônibus se dirigisse à garagem da empresa, em Gaspar, e de lá o trajeto fosse feito por transporte por aplicativo. "Pra mim deu tudo certo, porque exerci o meu direito de cidadã, mas várias pessoas ficaram nos pontos esperando o ônibus seguinte, que passou somente às 16h25min”, relata.

Lourdes conta que tem enfrentando muitos problemas com o transporte coletivo da Verde Vale. “Os ônibus estragam e eles não conseguem mais substituir”. A falta de cumprimento dos horários é o problema mais grave, inclusive, a obrigou a reduzir seu horário no trabalho. “Deixei de ganhar R$ 1.800,00 por mês porque não conseguia chegar no horário por conta dos sucessivos atrasos da Verde Vale e, para não perder o emprego, aceitei reduzir a carga horária”, revela.  

Segundo ela, o atraso e a quebra dos ônibus da Verde Vale já aconteceram outras vezes. A solução era pegar o transporte por aplicativo até Gaspar e depois se encontrar com o marido que vinha de Ilhota buscá-la. “Dessa fez perdi a paciência porque estou cansada dessa situação”, desabafa.

Lourdes relata que na quinta-feira, uma das linhas de Gaspar não passou e veio outra somente às 18h, porém, o coletivo estava lotado e várias pessoas não puderam embarcar. Essa situação, diz ela, é quase diária. “Chega a ser desumano o tratamento aos passageiros, pois muitos iniciam suas jornadas de trabalho pela madrugada e não tem o ônibus no horário adequado para retornar para suas casas. Cansados e com fome, eles ficam por horas aguardando pelo transporte coletivo que muitas vezes nem aparece”, lamenta.

Reclamações a Aresc

Em 2023, Lourdes e outros usuários do transporte coletivo da Verde Vale encaminharam dois ofícios à ouvidoria da Agência de Serviços Públicos de Santa Catarina (ARESC) e Gerência de Fiscalização de Transportes (GETRA), órgãos estaduais responsáveis por fiscalizar o transporte coletivo intermunicipal. Num destes ofícios, os passageiros reclamam da inadequação da manutenção e da higienização dos veículos, além do descumprimento de horários e itinerários. No outro ofício, a queixa é quanto às frequentes panes mecânicas nos veículos, problemas no leitor de cartão-passe e excesso de lotação. A ARESC E GETRA enviaram fiscais à empresa para averiguar os problemas relatados e solicitaram à direção da Verde Vale as devidas correções. À ARESC, a Verde Vale alegou ainda não ter condições financeiras de adquirir novos ônibus. “Realizamos essas reclamações para à ARESC, mas infelizmente nada de positivo aconteceu, o referido órgão realizou vistorias, mas não nos deu respostas convincentes”, lamenta Lourdes.

O que diz a Verde Vale

Desde 2021, a Verde Vale se mantém em contrato provisório com o governo do estado. O atual gerente da empresa, Rodrigo Bogo, admite os atrasos nas linhas, mas diz que eles ocorrem por conta do trânsito, que está cada vez mais complicado em toda a região, principalmente na saída de Blumenau. “Nós não temos como prever esses congestionamentos, eles são quase diários”. Segundo ele, a empresa corrigiu todos os problemas apontados pelos fiscais da ARESC na última vistoria. Sobre o incidente com a passageira, ele explicou que assim que foi comunicado que ela pretendia ir a Ilhota, autorizou o motorista a seguir viagem até o município vizinho, para deixar a passageira em frente de casa, porém, como ela era a única passageira, a empresa optou em fazer o transporte em veículo de aplicativo. “Ela estava bastante tranquila e a empresa autorizou, sem problemas, que ela fosse levada até a porta de casa em segurança”, acrescenta o gerente.

De acordo com o mapa de itinerários e horários fornecidos pela Verde Vale (confira abaixo) em seus canais de comunicação, o primeiro horário de Gaspar para Blumenau, de segunda a sexta-feira, é 3h45min. Já de Blumenau para Gaspar, o primeiro veículo circula às 4h17min. A partir daí é praticamente a cada 1h de intervalo entre um ônibus e outro até por volta das 22h45min, quando a empresa realiza a última viagem de Blumenau a Gaspar.

Já de Ilhota para Blumenau, são menos horários até porque, explicou Bogo, a demanda de passageiros é menor. A primeira viagem, saindo de Ilhota, começa às 4h. Já de Blumenau para Ilhota, o primeiro coletivo inicia viagem às 5h10min.

Aos sábados, a empresa dispõe de oito horários de Gaspar para Blumenau e vice-versa. Já de Ilhota para Blumenau são apenas três: 4h (até Circulo),7h30min e 12h35min) e quatro de Blumenau para Ilhota: 5h10min (saída da Círculo), 8h40min, 13h15min e 14h15min. A Verde Vale ainda estende alguns dos seus itinerários para a região dos Baús, na Margem Esquerda, em Ilhota. São oito horários durante a semana e cinco aos sábados, entre Gaspar e Ilhota e vice-versa.