Em depoimento de mais de 3h, Kelber Pereira afirmou que matou o filho, de apenas dois meses, porque não sabia como cuidá-lo

Foram mais três horas de depoimento na tarde desta segunda-feira (8), e o suspeito de matar Jéssica Ballock, 23 anos, e o filho, um bebê de apenas três meses, confessou o duplo homicídio e ainda contou detalhes de como tudo aconteceu. "Ele preferiu esquecer somente o momento da execução", disse o delegado Ronni Esteves, que comanda as investigações. Kelber Henrique Pereira, de 28 anos, admitiu que matou o filho menor porque não sabia exatamente o que iria fazer, pois se tratava de um bebê que ainda necessitava de cuidados, como amamentação. "Da esposa, ele disse não ter motivação, mas do filho é porque ele não teria condições de cuidar de um bebê que dependia da mãe. Então ele achou melhor matar o filho mais jovem", afirmou o delegado.

Os fatos que culminaram no assassinato de mãe e filho, na madrugada do último dia 25 de julho, em um apartamento da Rua dos Caçadores, bairro Velha, em Blumenau, iniciaram ainda na noite anterior, quando Kelber, a esposa e os dois filhos estiveram na casa dos pais de Jessica. Ele relatou à polícia que bebeu muito, fato que, segundo o delegado, foi desmentido por testemunhas. No retorno, Kelber teria deixado a família em casa e saiu. Antes, passou na casa de um colega de trabalho e depois se dirigiu, sozinho, até um ponto de venda de drogas. No retorno, sentou no sofá, ao lado da esposa, e passou a consumir o entorpecente. Ainda segundo depoimento à polícia, enquanto Kelber consumia a droga, a esposa pediu para que ele abandonasse o vício já que agora estava empregado e a família morando em um lar só deles. A princípio não houve briga. Jessica apenas aconselhou o marido a mudar de vida. Kelber teria, inclusive, jogado fora parte da droga. O casal foi então dormir, juntamente com os dois filhos. O mais velho, de dois anos, ficou na mesma cama do casal, enquanto o bebê foi colocado no berço, ao lado.

No meio da noite, Kelber teria acordado e sem motivo aparente atacou a esposa, que estava de costas. Ele apertou o pescoço de Jéssica até que ela desmaiasse. "Diante daquela cena, conta que o coração dele batia muito forte e que ele precisava terminar o serviço, ele vai até a cozinha, bebe água, volta, joga a esposa desfalecida no chão e com uma faca ele a atinge no pescoço", relata o delegado. Kelber não soube dizer quantas facadas desferiu contra Jéssica, mas, de acordo com o policial, a perícia já constatou que foi mais de uma.

Neste momento, o filho mais jovem acordou e começou a chorar. Ainda de acordo com o depoimento, Kelber ficou desesperado e não sabia o que iria fazer com o filho, pois ele precisava ser amamentado, e ele pensou que não conseguiria dar conta de cuidar do bebê. Neste momento, ele decidiu que também mataria o filho. "Ele colocou o menino sobre a cama e o atingiu com golpes de faca, foram várias facadas", observa o delegado.

Kelber foi até o banheiro, lavou as mãos e retornou para o quarto, onde pegou o filho mais velho e o levou para a sala. Ele voltou ao banheiro, onde tomou banho. Depois, fez a mala do menino, pegou o carro e rumou para Minas Gerais, no interior de São Paulo. A intenção, explica o delegado Ronni, era deixar o menino com os avós e depois se entregar à polícia, porém, no caminho mudou de ideia. Kelber deixou o filho com um conhecido em Bragança Paulista-SP e desapareceu. O homem acionou um advogado e, juntos, levaram o menino para a casa dos avós, em Muniz, no interior de Minas Gerais. A polícia também foi comunicada. No dia 26 de julho, um dia depois, Kelber acabou preso na cidade de Paulínia, no interior de São Paulo. Ele foi levado para Campinas, onde permaneceu até a última sexta-feira, dia 5, quando a justiça autorizou a sua transferência para Blumenau.

O delegado Ronni considerou satisfatório o depoimento do suspeito. "O importante era extrair dele os detalhes de como ele cometeu o crime". O delegado revelou que a princípio Kelber disse que se manteria calado, que somente iria contar a verdade para o filho, mas depois da polícia insistir ele acabou concordando em prestar depoimento e deu detalhes importantes da noite do crime, esclarecendo alguns pontos. Kelber também afirmou que estava arrependido, que a esposa não merecia morrer, nem o filho e que não havia nenhum motivo para ele matar Jéssica. "Desde o início, ele sempre dizendo que a Jessica era uma mulher ótima, amiga parceira, que dava conselhos. Ele tinha a questão do vício, da droga, chegou a parar quando o primeiro filho nasceu, buscando atender os pedidos da esposa. Com o nascimento do segundo filho, eles decidiram que iam para um apartamento", acrescentou o delegado. Por fim, Kelber disse que a única pessoa a quem iria pedir perdão é para o filho, se um dia pudesse ter contato com ele. Após o depoimento, Kelber retornou para o Presídio Regional de Blumenau.