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O hatiano David superou as barreiras e se adaptou à região (Fotos: DIVULGAÇÃO ROCO)
Além de qualificar os trabalhadores que vem de outras regiões e países, as empresas investem em programas de acolhimento e adaptação ao ambiente de convivência
Nos últimos anos, o Brasil tem vivido um aumento significativo no número de migrantes. Em 2024, registrou 194,3 mil novos estrangeiros, com destaque para os venezuelanos, segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em Santa Catarina, vivem atualmente quase 180 mil migrantes, conforme o Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), de maio deste ano. O estado também se consolidou como o principal destino de migrantes no Brasil (Censo 2022 do IBGE), com saldo positivo de 354,3 mil novos moradores de 2017 a 2022.
Esse fenômeno não é apenas demográfico, revela mudanças sociais e econômicas que estão moldando o setor industrial brasileiro. Em Blumenau, a Roco Indústria, fabricante nacional de soluções hidrossanitárias e de gás, está plenamente inserida nesse contexto. Com mais da metade de sua equipe composta por migrantes, a empresa demonstra que a diversidade cultural é mais do que uma estatística, é um pilar de sua cultura organizacional. Aproximadamente 52% dos trabalhadores vêm de diferentes estados, como Maranhão, Bahia e Ceará, e também de países como Haiti, Paraguai e Venezuela.
O haitiano David Junior Chery chegou a Blumenau sem falar uma única palavra em português, mas conseguiu ser admitido na Roco. Hoje, ele é operador de máquina. Com o salário, ajuda a sustentar a família e vai se fixando na região.
De acordo com a analista de RH da Roco, Josete Bittencourt, a companhia aposta na diversidade cultural como peça-chave para a inovação e crescimento no mercado. “Aqui na Roco, o acolhimento a migrantes não é apenas um princípio da nossa gestão, mas uma prática diária. Como empresa, não enxergamos fronteiras para o desenvolvimento humano e profissional”, destaca a analista.
Segundo ela, esse fluxo de diversidade se consolida de maneira natural, à medida que a empresa cresce e expande suas operações. A companhia, que emprega 65 colaboradores diretos e cerca de 90 representantes em todo o Brasil, tem se fortalecido com essa pluralidade de origens, que também contribui para um ambiente mais inovador e colaborativo.
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Empresa aposta na diversidade cultural como peça-chave para a inovação (Fotos: ARQUIVO ROCO)
Josete vê como principais dificuldades enfrentadas por migrantes e imigrantes ao chegar em Blumenau aquelas relacionadas à adaptação cultural, ao custo de vida e, em alguns casos, à barreira do idioma. “Muitos vêm de regiões com hábitos, costumes e até climas diferentes, e isso exige um tempo de adaptação. Além disso, há desafios práticos, como encontrar moradia e se ambientar à rotina da cidade e ao ritmo de trabalho da indústria”, argumenta.
Ambiente acolhedor
Para garantir a permanência do colaborador, a Roco procura oferecer um ambiente de acolhimento e apoio desde o primeiro dia de trabalho. “Nossa equipe de RH e líderes diretos fazem um acompanhamento próximo dos novos colaboradores, explicando rotinas, regras e valores da empresa de forma acessível”, afirma Josete. A Roco também incentiva a troca entre colegas de diferentes regiões e culturas, o que ajuda muito na integração social e emocional.
Josete conta que muitos colaboradores que tiveram na Roco seu primeiro emprego destacam o quanto o acolhimento da equipe foi importante nesse início. “Essa postura faz parte do nosso compromisso como signatários do Movimento ODS Santa Catarina, especialmente com o ODS 10 – Redução das Desigualdades, e também reflete a cultura de cuidado reconhecida pelo selo GPTW, que reforça que somos um excelente lugar para trabalhar”, enfatiza.
Josete diz ainda que a empresa compreende e respeita profundamente as diferenças culturais, religiosas e de costumes de todos os colaboradores. “Acreditamos que a diversidade é um valor humano e organizacional. Por isso, promovemos um ambiente onde cada pessoa possa se sentir à vontade para expressar suas tradições e crenças, sempre dentro de um clima de respeito e harmonia”, observa. O objetivo da Roca, destaca a analista, é garantir que todos os colaboradores tenham igualdade de oportunidades e se sintam valorizados pelo que são.
“Essa postura faz parte da essência da Roco e reforça nosso compromisso com práticas sustentáveis de inclusão e respeito à diversidade, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e com os princípios reconhecidos pelo selo GPTW.
Josete admite que o idioma é um dos principais desafios enfrentados pelos colaboradores estrangeiros, principalmente no início. Para minimizar essa barreira, a empresa usa uma comunicação simples, clara e com apoio visual sempre que possível, além de incentivar a paciência e o companheirismo entre os colegas de equipe.
"“Percebemos que, com o tempo e a convivência diária, a barreira linguística é superada naturalmente, e muitos aprendem o português no ambiente de trabalho, com a ajuda dos colegas. Essa troca constante faz parte da nossa cultura de acolhimento e aprendizado mútuo"." – Josete Bitteencourt: Analista de RH da Roco Indústria
Recrutamento
A Roco realiza o processo de recrutamento de duas formas. Com o apoio de empresas especializadas em gestão de pessoas, que auxiliam na triagem e encaminhamento de candidatos, e também o recrutamento direto e pelo setor de Recursos Humanos da empresa, especialmente para vagas locais.
Essa combinação garante agilidade e assertividade na seleção, além de ampliar o alcance das oportunidades para diferentes perfis profissionais — inclusive migrantes e imigrantes que buscam o primeiro emprego em Blumenau. “Dessa forma, conseguimos unir o olhar técnico das empresas parceiras ao acolhimento e à proximidade humana que são marcas do nosso RH”, conclui Josete.
Mais da metade dos candidatos vem de outras regiões
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Em média, SINE tem de 80 a 120 vagas por semana (Fotos: PMG)
Basta circular pela cidade de Gaspar para perceber que o perfil dos moradores está mudando. Os sotaques são os mais diversos. A cidade “Coração do Vale”, colonizada por açorianos, alemães, italianos entre outros povos europeus, aos poucos vai abrindo espaço para uma população multirracial, assim como o restante do Vale do Itajaí.
No Sistema Nacional de Empregos (SINE) de Gaspar, que funciona junto à Prefeitura, se vê claramente essa transformação. É lá que migrantes e imigrantes vão à procura de emprego. E não poucos aqueles que vem de outros estados e até de outros países. Eduardo Baer, coordenador da unidade, diz que todos os dias têm pessoas de outras regiões do país e estrangeiros atrás de emprego. Além de Gaspar, o SINE recebe novos moradores de Ilhota e Blumenau.
Os migrantes das regiões norte e nordeste, de acordo com Eduardo, são maioria, mas também tem pessoas do Rio Grande do Sul e Paraná. Já os estrangeiros vem principalmente do Haiti e Venezuela. Segundo Eduardo, o percentual de migrantes em busca de uma oportunidade de trabalho chega a 55% da demanda do SINE.
Mesmo assim, sobram vagas e candidatos por conta da qualificação. “Temos bastante candidatos com ensino médio, mas sem a experiência necessária para as vagas ofertadas”, explica Eduardo. Em média, o SINE oferece, semanalmente, entre 80 e 120 vagas de empregos nas mais diversas áreas, mas o setor têxtil continua sendo o mais deficitário. o coordenador calcula que 50% das vagas são de empresas da cadeia têxtil.
Ele explica que muitos estrangeiros chegam ao SINE com formação em nível superior, mas não conseguem atuar na área de formação no Brasil. “Um advogado formado na Venezuela, por exemplo, não consegue atuar no Brasil por conta da legislação”. Assim, eles acabam aceitando outro tipo de emprego.
Para que o estrangeiro possa se candidatar a qualquer vaga de trabalho formal no Brasil, ele precisa estar com sua situação de permanência regularizada no país. O que não é difícil, já que a legislação brasileira é bastante flexível neste aspecto. “Basta apresentar o documento expedido pela Polícia Federal”, informa Eduardo. Outra dificuldade, conta ele, é acompanhar o candidato à vaga após o encaminhamento por parte do SINE. “Não temos o retorno das empresas se o candidato foi ou não aprovado, por isso não sabemos exatamente qual o percentual de colocação dessas pessoas no mercado de trabalho de Gaspar”.
Fazzenda tem mais de 100 imigrantes
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Fazzenda investe em treinamento e acolhimento (Fotos: DIVULGAÇÃO )
Miriam Eliane Pacheco, gerente de RH do Fazenda Park Resort, localizado no Bairro Alto Gasparinho, também admite dificuldades nas contratações, não apenas por questões de qualificação, mas de forma geral. “O Fazenda é um empreendimento de grande porte, em constante expansão, e isso naturalmente aumenta nossa demanda por profissionais comprometidos e com perfil para atuar no setor de hospitalidade”.
Para superar esse desafio, Miriam revela que o Fazenda adota diferentes estratégias de atração e desenvolvimento de equipes, investindo continuamente em treinamento, acolhimento e crescimento humano, para que cada colaborador se sinta parte da história e, consequentemente, possa evoluir junto com o empreendimento.
"“Atualmente, contamos com 105 colaboradores estrangeiros, entre haitianos, venezuelanos e outras nacionalidades, além de mais de 200 profissionais vindos do Norte e Nordeste do Brasil.
" – Miriam Pachego, Gerente de RH do Fazzenda Park Resort
Miriam observa que essa diversidade cultural tem contribuído para o crescimento e enriquecimento do ambiente de trabalho no Fazzenda, reunindo novas ideias, diferentes perspectivas e fortalecendo o espírito de equipe que é bem presente no empreendimento.
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O hatiano David superou as barreiras e se adaptou à região (DIVULGAÇÃO ROCO)
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Josete (DIVULGAÇÃO ROCO)
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Fazzenda investe em treinamento e acolhimento (DIVULGAÇÃO )
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Em média, SINE tem de 80 a 120 vagas por semana (PMG)
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Empresa aposta na diversidade cultural como peça-chave para a inovação (ARQUIVO ROCO)
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