Matriz Nossa Senhora do Rosário homenageia italianos

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16/08/2025 00:16
150 ANOS DE IMIGRAÇÃO

Matriz Nossa Senhora do Rosário homenageia italianos

Por Alexandre Melo

 Publicado 15/08/2025 22:46  – Atualizado 16/08/2025 00:16

Autoria: Artistas Plásticos Débora Darós e Alexandre Chamba
  • Autoria: Artistas Plásticos Débora Darós e Alexandre Chamba (Fotos: Pintura feita na Capela Santo Antônio, no Alto Gasparinho)

Evento, no próximo domingo (17), celebra 150 anos da imigração italiana em Gaspar e Santa Catarina

Em meados dos anos 1870, quando a Itália sofria as consequências devastadoras de seguidas guerras de unificação, muitas famílias decidiram cruzar o Atlântico e recomeçar suas vidas no Brasil. Um contrato firmado entre os governos do Brasil e da Itália permitiu que 100 mil italianos imigrassem para terras brasileiras. O Sul e Sudeste foram as regiões escolhidas, por conta do clima e da topografia semelhantes aos da Itália. Santa Catarina recebeu grande leva de italianos a partir de 1875.
De acordo com o Censo de 1920, haviam mais de 8 mil habitantes nascidos na Itália morando no estado, o que colocava Santa Catarina como a sétima maior comunidade italiana do Brasil. Além disso, a imigração interna - especialmente vinda do Rio Grande do Sul - aumentou ainda mais a presença italiana no estado, sobretudo no oeste.

Gaspar também passou a receber italianos, os chamados trentinos ou tiroleses, oriundos da região de Trento, no Norte da Itália. Eles se estabeleceram, primeiro, na região onde hoje fica o bairro Barracão e depois se espalharam pelo Bateias, Óleo Grande e Alto Gasparinho. O assentamento foi batizado de Colônia Itajay-Príncipe Dom Pedro e pertencia à Côlonia Brusque. Somente bem mais tarde, a região foi anexada à Freguesia de São Pedro Apóstolo, hoje Gaspar.

Essas famílias – em torno de 70, segundo pesquisa (confira a relação na página ao lado) - ergueram os primeiros alicerces do vilarejo hoje chamado de Bairro Barracão, porque foi sob um enorme rancho de madeira que as famílias dividiram, por meses, a expectativa e a esperança por uma vida melhor, enquanto aguardavam do governo a posse de seus lotes.

Evento religioso

Neste ano, que comemora-se 150 anos da imigração italiana em Santa Catarina, a Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, símbolo de fé, esperança e perseverança do povo italiano, vai realizar no próximo domingo, dia 17, uma celebração religiosa, seguida de festejos, para marcar o sesquicentenário da imigração italiana em Gaspar. A partir de 9h30min, será celebrada uma missa em italiano pelo padre Rubens Rieg com a participação do Circolo Italiano Dante Alehieri Di Joinville. Em seguida, a comunidade se reúne no salão paroquial da igreja para um almoço com culinária italiana e apresentações artísticas, culturais, exposição de fotos e homenagens aos descendentes das primeiras famílias que se estabeleceram nas terras do Barracão, Óleo Grande e Bateias.

Um convite, que o pároco da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, padre Antônio Francisco Bohn, faz à toda a comunidade de Gaspar. “A importância do Barracão e também do Alto Gasparinho é grande para o município de Gaspar, porque estamos numa região que era corredor da imigração italiana. Vamos comemorar, no próximo domingo, 150 anos dessa grande imigração para Santa Catarina; deixo o convite para que a comunidade prestigie esse momento histórico”.

A história

Pesquisadora da história de Gaspar e do Vale do Itajaí, a professora Leda Maria Baptista conta que para a Colônia Brusque, onde hoje fica o Bairro Barracão, foram designados os colonos de menor poder aquisitivo. “Alguns eram analfabetos, com muitos filhos e portadores de doenças. Eles permaneceram por muito tempo nesse barracão, com capacidade para pouco mais de 200 pessoas, até que a direção da Colônia distribuísse os lotes às famílias, que pagaram por meio de um financiamento direto ao Império de D.Pedro II”, afirma Leda.
Porém, nem tudo foi cumprido pelo governo brasileiro. “Há relatos de que muitas dessas famílias chegaram a enviar cartas ao imperador D. Pedro II pedindo para serem repatriadas, porque as condições eram extremamente precárias”, conta a pesquisadora. Leda chama atenção para um detalhe que, muitas vezes passa despercebido na história: a fé do povo italiano. “A fé, rezas e promessas, principalmente das mulheres foi algo extraordinário, quase milagroso, e poderia ser um fato relevante na história de Gaspar”. Por isso, a Matriz Nossa Senhora do Rosário carrega muito do simbolismo da chegada dos italianos. De acordo com Leda, existem relatos de que a primeira igrejinha do Barracão teria sido erguida com mão de obra escrava, já que existiam grandes fazendas ao redor do assentamento.

As primeiras famílias italianas subiram de barco pelo Rio Itajaí-Mirim até um atracadouro próximo à Capela São José, na localidade conhecida por Picada do Limoeiro, nos limites de Itajaí e Brusque. “Essa foi a porta de entrada dos imigrantes italianos para a Colônia Brusque e de toda essa região”, explica Leda. Do atracadouro até o barracão eles ainda precisaram percorrer 7km por terra.
“Os imigrantes ficaram por muito tempo neste barraco, convivendo com diferentes famílias, além de enfrentarem o calor sufocante do verão e o rigor do inverno. A comida era preparada na rua, porque cozinhar dentro do barracão corria-se o risco de incêndios. Muitas pessoas adoeceram por causa da água contaminada do riacho, hoje canalizado, que passa atrás da Escola Marina Viera Leal, que era usado para tudo”, conta Leda. Relatos da época revelam que a vida no enorme barraco foi o pior momento para as famílias italianas, superando, inclusive, a longa viagem de navio da Europa até o Brasil, onde muitos adoeceram e morreram. “Eles superaram tudo isso com muita fé, perseverança e trabalho”, conclui a pesquisadora.

Grupo Folclório Italiano de Joinville foi convidado a participar da celebração do próximo domingo, na Matriz do Barracão
  • Grupo Folclório Italiano de Joinville foi convidado a participar da celebração do próximo domingo, na Matriz do Barracão (Fotos: DIVULGAÇÃO)

Programação festiva e religiosa

9h30min: Missa Solene da Assunção de Nossa Senhora (em língua italiana). Preside: Padre Rubens Rieg, SCJ (Jaraguá do Sul). Cânticos italianos pelo Coral Ítalo-Brasileiro do Círculo Italiano Dante Aleghieri (Joinville)

11h: Benção das imagens )de devoção italiana) da escadaria da Matriz Nossa Senhora do Rosário.

11h30: Almoço festivo com culinária italiana: galinha ensopada, tortéi, macarronada, polenta, arroz, nhoque e salada verde

Valor do almoço: R$ 45,00 por pessoa

No salão paroquial:
Pronunciamentos, apresentações artísticas e culturais. Exposição de fotografias, documentos e informações a respeito da imigração italiana em Gaspar e região
12h30min: Apresentação do Coral do Circolo Italiano di Joinville, danças folclóricas pelo Circolo Italiano de Guabiruba.

Pesquisa revela os sobrenomes das primeiras famílias

A Paróquia Nossa Senhora do Rosário e Leda Baptista realizaram um levantamento das primeiras famílias de imigrantes italianos a ocupar a Colônia de Brusque. O atual pároco, padre Antônio Bohn, é também pesquisador e historiador. “Sempre que se faz pesquisa, a gente sabe que nunca esgotamos o assunto nem sabemos quem é o primeiro, daí que a lista que estamos divulgando com certeza, uma, duas ou até mais famílias não constaram no cemitério, livros de óbito nem na memória popular, que são algumas das nossas fontes de pesquisa”, esclarece Leda Baptista. Confira, abaixo:

Acima, a lista de 70 famílias que foram as primeiras a ocupar as terras do Barracão
  • Acima, a lista de 70 famílias que foram as primeiras a ocupar as terras do Barracão (Fotos: Pesquisa Matriz Nossa Senhora do Rosário de Barracão)

 

  • Grupo Folclório Italiano de Joinville foi convidado a participar da celebração do próximo domingo, na Matriz do Barracão (DIVULGAÇÃO)

  • Acima, a lista de 70 famílias que foram as primeiras a ocupar as terras do Barracão (Pesquisa Matriz Nossa Senhora do Rosário de Barracão)

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