Microrganismos encontrados em áreas preservadas do bioma contribuem para práticas agrícolas sustentáveis e novos antibióticos contra bactérias multirresistentes

A biodiversidade da Mata Atlântica pode ser a chave para enfrentar dois dos maiores desafios globais da atualidade: o uso excessivo de agrotóxicos na agricultura e o avanço das superbactérias resistentes a antibióticos. Essa é a aposta dos pesquisadores do Laboratório OneHealth, da Católica SC – campus Joinville, que, a partir de amostras coletadas em áreas preservadas do bioma, estão desenvolvendo soluções biotecnológicas com impactos significativos para o meio ambiente e a saúde pública.

No campo, a equipe do OneHealth tem avançado na substituição de defensivos químicos por bioinsumos naturais, utilizando microrganismos como Bacillus velezensis e Trichoderma sp. em cultivos de arroz e banana em Santa Catarina. Esses microrganismos vêm sendo aplicados em práticas de transição agroecológica, com resultados positivos na redução de impactos ambientais e no aumento da sustentabilidade agrícola. “A descoberta desses bioinsumos é fundamental para substituir agrotóxicos e promover a transição agroecológica no Estado”, afirma a professora Daiani Savi, coordenadora do laboratório.

Na área da saúde, os cientistas identificaram uma actinobactéria batizada de “isolado 41”, com alta eficácia contra microrganismos multirresistentes, inclusive aqueles que só respondem à colistina — antibiótico de última linha. O composto mostrou capacidade de combater bactérias como a KPC, considerada uma das maiores ameaças à saúde pública. O trabalho rendeu à equipe o segundo lugar na categoria “Promoção da Saúde e Bem-Estar” no X Fórum Integrado de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação (Fiepe), promovido pela Acafe. “Essa descoberta reforça o potencial biotecnológico do solo da Mata Atlântica e evidencia a urgência em preservar essa biodiversidade única”, destaca Daiani.

As pesquisas são financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), por meio do programa MultiLab. Com investimento de R$ 2,5 milhões, o laboratório foi equipado com tecnologia de ponta, como o sistema HPLC-MS, que permite a identificação precisa de compostos bioativos, e um biorreator para produção de microrganismos em escala industrial. O financiamento inclui ainda bolsas de pós-doutorado e aquisição de insumos essenciais para o desenvolvimento dos estudos.