
Gaspar quer regulamentar circulação de veículos elétricos

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Meio de transporte é cada vez mais comum em Gaspar, mas precisa de uma regulamentação (Fotos: Daniel Nogueira/Jornal Metas)
Crescimento expressivo de bicicletas, patinetes e motos elétricas chamou atenção da Câmara de Vereadores, que realizou essa semana uma audiência pública para discutir o assunto
Com o avanço da tecnologia e a busca por alternativas mais sustentáveis e acessíveis, os meios de transporte leves têm se tornado uma tendência em crescimento em Santa Catarina e em todo o Brasil. Dados do Boletim Técnico 2024 do Mercado de Bicicletas Elétricas, da Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas), apontam que, em 2023, o Brasil comercializou mais de 200 mil bicicletas elétricas. Destas, 50.004 são do tipo pedal assistido e cerca de 150 mil são autopropelidas (com acelerador), sendo estas últimas responsáveis por três quartos do mercado nacional. O setor cresceu 12% em relação ao ano anterior, evidenciando a consolidação dessa alternativa de mobilidade.

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O comércio deste tipo de transporte está em alta (Fotos: Daniel Nogueira/Jornal Metas)
No caso dos patinetes elétricos, a tendência também é de expansão acelerada. A chegada de empresas como a JET, que já atua em diversos estados brasileiros, impulsiona esse crescimento. Segundo o CEO da marca, o russo Ilya Timakhovskiy, o Brasil tem potencial para se tornar o maior mercado de patinetes elétricos do mundo. A previsão da empresa é de implantar 200 mil unidades até 2028 no país.
As motos elétricas também seguem em rota de crescimento. Conforme dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), o primeiro trimestre de 2025 registrou o licenciamento de 3.452 motocicletas elétricas no Brasil, aumento de 104,74% em comparação ao mesmo período de 2024. Apesar de uma queda pontual em março, o número ainda representa uma alta de 54,59% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Entre os principais motivos que atraem os consumidores estão o baixo custo em comparação aos veículos movidos a combustível fóssil, a preocupação ambiental e a praticidade na mobilidade urbana. Esses veículos permitem fugir dos congestionamentos, são mais acessíveis para pessoas com diferentes perfis físicos e se adequam bem ao cotidiano de cidades com trânsito intenso. No entanto, junto com a popularização, surgem também os desafios.
Em cidades como o Rio de Janeiro, os acidentes com esses veículos de micromobilidade explodiram. Segundo a Comissão de Segurança no Ciclismo da capital fluminense, os casos passaram de 274 em 2023 para 2.199 em 2024, um crescimento de 702%. No primeiro trimestre de 2025, 37 ocorrências com bicicletas, motos e patinetes elétricos já foram registradas apenas na cidade, de acordo com o Corpo de Bombeiros.
Santa Catarina também tem contabilizado casos graves. Em fevereiro deste ano, um condutor de scooter morreu após ser atropelado por um caminhão de lixo em Itapema. Já na virada do ano, Manoel de Lima, de 43 anos, foi atropelado por uma scooter na orla da Meia Praia e faleceu duas semanas depois. Em Balneário Camboriú, a prefeita Juliana Pavan (PSD) foi vítima de um acidente com patinete elétrico antes mesmo da posse, o que levou o município a regulamentar o uso desses veículos.
Gaspar também registrou um caso que marcou a cidade. Em março de 2023, Gelson José Schmitz sofreu um grave acidente três semanas após adquirir uma bicicleta elétrica. A queda o deixou inconsciente e com lesão na sétima vértebra cervical, o que resultou em perda parcial da mobilidade das pernas. Hoje, Gelson depende de muletas ou cadeira de rodas, não consegue mais trabalhar e foi aposentado por invalidez. “Naquela época pensei na economia, mas essa economia me custou muito caro, me tirando uma das coisas mais preciosas que o ser humano pode ter que é o poder de andar”, desabafa.

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Depois do acidente, Gelson perdeu parte dos movimentos (Fotos: Arquivo pessoal)
O caso de Gelson foi um dos exemplos apresentados na audiência pública realizada em 2 de junho na Câmara de Vereadores de Gaspar, por iniciativa do vereador Giovano Borges (PSD), com participação dos vereadores Thímoti Deschamps (União) e Sandra Hostins (PL). Durante o encontro, discutiu-se a necessidade urgente de regulamentação dos veículos de micromobilidade.
De acordo com Giovano, a motivação para a convocação da audiência pública foi também uma cobrança da população gasparense. “Este é um assunto que já havia sido discutido no passado, no entanto, agora se tornou importantíssimo que medidas sejam tomadas para que acidentes sejam evitados em nossa cidade. Atualmente em Gaspar as pessoas andam como bem entendem com seus patinetes, bicicletas e motos elétricas e isso pode ocasionar diversos problemas, então nosso objetivo é impedir que isto aconteça”, ressaltou.

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Giovano Borges, vereador do PSD (Fotos: Divulgação)
Emerson de Andrade, Secretário de Trânsito e Mobilidade de Brusque, destacou na audiência pública que a Resolução 936/2022 do Contran definiu os conceitos desses veículos, mas deixou lacunas, como a ausência de uma idade mínima para conduzi-los. Já a Resolução 996/2023 permite que os municípios determinem onde esses veículos podem circular, levantando a necessidade de infraestrutura adequada, como ciclovias e ciclofaixas.

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Subtenente da PMRv, Marcelo V. Ramos (Fotos: Divulgação)
O subtenente da Polícia Militar Rodoviária, Marcelo Ramos, sugeriu que os autopropelidos sejam equiparados a ciclomotores ou motocicletas para fins legais. “Se o município não tiver competência, a ideia é provocar os órgãos federais, seja pelo Contran, seja por lei”, afirmou. Já o vereador Thímoti relatou sua própria dificuldade em orientar o filho de 17 anos quanto ao uso seguro de um ciclomotor, evidenciando a ausência de diretrizes claras.
O superintendente de Trânsito de Gaspar, Luciano Brandt, destacou que a intenção não é proibir esses meios de transporte, mas regulamentá-los de forma a garantir a segurança: “Hoje morrem 33 mil pessoas por ano no trânsito brasileiro, precisamos mudar nossos comportamentos e sermos mais empáticos, educados e preventivos”.
Em entrevista ao Jornal Metas, Gelson defendeu a fiscalização mais rigorosa e a restrição do uso a maiores de idade. “Já vi gente andando de moto elétrica com três passageiros, ou patinetes em alta velocidade na calçada. Isso pode levar a tragédias como a minha”, alertou. Para ele, o uso de capacete, respeito ao sentido das vias e regras claras de circulação são essenciais para evitar novos acidentes.
Enquanto a micromobilidade se firma como uma solução moderna e eficiente, a segurança e a regulamentação são pontos que precisam urgentemente acompanhar essa evolução.
Mais fotos:
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O comércio deste tipo de transporte está em alta (Daniel Nogueira/Jornal Metas)
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Gaspar não tem locais apropriados para estacionamento (Daniel Nogueira/Jornal Metas)
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Com bastante fisioterapia, Gelson hoje consegue se locomover com o auxílio de muletas (Arquivo pessoal)
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Gelson sofreu uma grave lesão na medula (Arquivo pessoal)
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Depois do acidente, Gelson perdeu parte dos movimentos (Arquivo pessoal)
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Subtenente da PMRv, Marcelo V. Ramos (Divulgação)
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Giovano Borges, vereador do PSD (Divulgação)
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