Lançamento e debate do livro "Gente de Ébano" será no dia 20

Trinta anos de pesquisas estão compliladas no mais completo livro já produzido sobre a história da negritude numa região específica de Santa Catarina. “Gente de Ébano – A Presença Negra em Santa Catarina – da Foz do Tijucas à Foz do Itajaí é um trabalho do professor e pós-doutor em História, José Bento Rosa da Silva, que também se coloca no cenário nacional como uma das autoridades quando o assunto é a história do negro no Brasil - na última terça-feira, dia 13, se celebrou 137 anos das Abolição da Escravidão no Brasil.
O livro, de mais de 600 páginas com ilustrações, lançado em várias cidades catarinenses, chega agora a Gaspar. O evento será no próximo dia 20, no câmpus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), a partir das 14h, acompanhado de uma roda de conversa com o escritor.

O objetivo da obra é apresentar o protagonismo do negro na formação sociocultural da Foz do Rio Tijucas à Foz do Rio Itajaí-Açu, seja na condição de escravizado, liberto e livre; tanto no período escravista, quanto na fase imediata à abolição da escravidão, até os dias atuais. O livro utiliza fontes documentais como arquivos públicos, álbuns de família e registros civis. O projeto é coordenado pelo Núcleo Afrodescendentes Manoel Martins, de Itajaí, e tem apoio financeiro da lei estadual Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura, Fundação Catarinense de Cultura e Governo do Estado.

Para os coordenadores editoriais do projeto, André Soltau e Gika Voigt, da Editora Traços & Capturas, não existe no estado, até o presente momento, uma obra capaz de suprir esta demanda. “Acreditamos que a partir de um livro com esta perspectiva, os leitores terão a possibilidade de se perceberem também sujeitos da história”, destacam.

O professor José Bento é mineiro, mas se mudou, pela primeira vez, para Santa Catarina em 1978. “Eu ouvia muitas histórias sobre os negros em Santa Catarina e esse meu pertencimento étnico-racial, porque também sou negro, me chamou atenção para pesquisar algumas dessas histórias”, relembra. Na época, conta o professor, falava-se muito que nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul a escravidão havia sido insignificante. “A partir de 1988, com o centenário da Abolição da Escravidão no Brasil, lançou-se um novo novo olhar sobre o tema e se intensificaram as pesquisas”, afirma José Bento.

O livro está dividido em duas partes. A primeira delas, o autor chama de “Coisas do Tempo do Cativeiro”, quando aborda a população negra africana no século XIX. Entre as histórias contadas deste período, uma delas faz referência a Gaspar, pois cita um fato envolvendo o coronel José Henrique Flores, na época proprietário de vasta extensão de terras na região do Pocinho. Em 1867, dez escravos do coronel se revoltaram contra a maneira desumana como eram tratados e foram a pé até Itajaí denunciar o coronel ao delegado. A segunda parte do livro trata do período Pós-abolição, Rupturas e Permanências. “Mesmo após a libertação dos escravos, muita coisa não foi resolvida, questões de cunho racial que enfrentamos até hoje”, justifica José Bento. O título “Gente de Ébano” faz referência a uma madeira de cor escura, originária da Africa e da Ásia com presença em alguns países tropicais. “Nós a escolhemos para simbolizar a resistência dos africanos na condição de escravizados e seus descendentes”, revela José Bento.

Sobre o Autor


Gente de Ébano é o 19º livro de José Bento. Formado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com pós-doutorado na Université Jean Jaurès – Mirail I (Toulouse, França), José Bento deu aulas na Univali até o começo dos anos 2000, depois se mudou para o Nordeste, onde por dez anos lecionou na UFPE. José Bento é atualmente professor associado da UFPE e membro de diversos núcleos de estudos afro-brasileiros, incluindo o Núcleo Afro Manoel Martins dos Passos, em Itajaí, fundado em 1998.

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