Pacientes oncológicos afirmam aguardar até 3 horas pelo veículo da Secretaria Municipal da Saúde

Em tratamento oncológico desde outubro do ano passado, a vendedora autônoma Ezeny dos Reis, 47 anos, moradora do Bairro Sete de Setembro, vem enfrentando dificuldades de deslocamento até o Hospital Santo Antônio, para tratamento. No início eram sessões de quimioterapia semanais, que depois passaram a ser quinzenais. Hoje, ela precisa ir quase diariamente a Blumenau para exames de sangue.
O transporte é fornecido gratuitamente pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), mas de acordo com Ezeny desde o começo a espera tanto para a ida quanto para a volta é longa e desgastante. Ela conta que chegou a ficar 3 horas aguardando o carro da Secretaria Municipal de Saúde buscá-la em Blumenau. “Saio de uma quimioterapia de duas horas e meia e preciso aguardar mais 3 horas. As pessoas deveriam saber que o tratamento é agressivo e deixa o corpo debilitado”, desabafa Ezeny.

As viagens de ida são quase sempre antecipadas. “Simplesmente me ligam dizendo que eu preciso ir antes. Se fosse alguns minutos tudo bem, mas o carro vem me buscar às 10h30min e a quimioterapia está marcada para 13h”. Ao questionar o setor de transporte da Secretaria de Saúde, Ezeny ouve a desculpa de que havia outro paciente para Blumenau e que por isso teria de seguir numa viagem compartilhada, a mesma explicação é dada para o retorno, pois se tem outro paciente na quimioterapia, nos exames ou em hemodiálise também é preciso aguardar, para que todos retornem no mesmo veículo. “Eu não me importo em compartilhar viagens, o que me deixa chateada é o tempo de espera. Eu ligo para virem me buscar, e me respondem que o motorista está indo, mas esse ‘está indo’ leva horas. Já fiquei aguardando das 15h30min até 18h30min”.

Por conta dos atrasos, Ezeny tem chamado a irmã, que mora no Bela Vista, para buscá-la, mas nem sempre ela está disponível. “Não deveria ser assim, pois se a secretaria de Saúde tem esse serviço, deveria disponibilizá-lo com qualidade a todos os cidadãos e cidadãs, que pagam seus impostos em dia”.
Ezeny também se queixa de um exame de sangue solicitado pelo médico para retorno em dois meses, mas somente conseguiu realizá-lo quatro meses depois. “Agora, aguardo por uma ressonância magnética, que foi pedida em outubro”, acrescenta.

Kely Cristina Pinheiro, de 30 anos, diagnosticada com câncer de mama em outubro do ano passado, também sente as dificuldades do transporte. Segundo ela, os veículos da Secretaria de Saúde trafegam lotados, por isso muitas vezes falta espaço para o acompanhante. “A gente precisa de acompanhante para quimioterapia, biópsia e muitas vezes não tem lugar no carro”, afirma. Ela conta que foi fazer uma biópsia em Blumenau às 11 horas da manhã e só conseguiu retornar para casa às 15h. “Eles não têm hora para te levar nem para te buscar”, garante.

Ezeny diz que não vai desistir de lutar por um atendimento mais digno do sistema de saúde público e faz isso, segundo ela, por outras pessoas que também sentem na pele o problema diariamente. “A justiça só não existe para quem não vai atrás dela”.


O que diz a Prefeitura
O secretário de Saúde do município, Arnaldo Gonçalves Munhoz Junior afirmou conhecer os problemas enfrentados não só na área de transporte de pacientes, mas em toda a complexa rede do Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo ele, a Secretaria de Saúde tem hoje 18 motoristas, sendo três trabalhando para a Atenção Primária da Saúde, o serviço domiciliar diário para pacientes idosos ou acamados. Outros motoristas atendem o Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD) e Vigilância Ambiental. Afora isso, o secretário informou que quatro motoristas são exclusivos de ambulâncias e três de Van.
Munhoz explica ainda que carros saem todos os dias de Gaspar em direção a outras cidades como Florianópolis, Brusque, Itajaí e Joinville, embora admita que a demanda maior é Blumenau por conta dos tratamentos oncológicos e de hemodiálise.

O secretário cita ainda, as cirurgias eletivas em que pacientes são levados para hospitais de outras cidades, e isso não é determinado pela Secretaria Municipal de Saúde, mas pelo setor de Regulação da Secretaria de Estado da Saúde.

De acordo com Munhoz, a Secretaria Municipal da Saúde tem hoje 29 pacientes cadastrados para hemodiálise, que precisam ser levados três vezes por semana a Blumenau. Outros oito são oncológicos e fazem tratamento no Hospital Santo Antônio. No total, são 176 atendimentos com transporte por mês só para essas duas especialidades.

Mas, a secretaria faz bem mais, embora a lei determine que o transporte gratuito municipal de saúde seja disponibilizado apenas em distâncias acima de 50km, o que deixaria de fora Blumenau, Brusque e parte de Itajaí. Porém, ele diz entender as dificuldades do transporte público na região e por isso a secretaria faz o deslocamento dos pacientes independente da distância. “É óbvio que o fato de o município não ter determinada especialidade médica na sua rede municipal de saúde também nos obriga, no mínimo, a transportar esses pacientes para outras cidades do estado”, enfatiza. No total, são 150 viagens por mês, para uma demanda atual de 430 pacientes de Gaspar.

Mesmo com a alta demanda, o secretário diz ser inaceitável tanto tempo de espera ou que as viagens sejam antecipadas. “A prioridade será sempre o usuário e nós vamos procurar atendê-los da melhor maneira possível”, garantiu Munhoz. No cargo há três meses, ele revelou que a Secretaria Municipal da Saúde vem estudando alternativas para melhorar o atendimento. “Estamos avaliando alguns cases de sucesso em outras cidades e trazê-los para Gaspar”. Munhoz finalizou lembrando que a Prefeitura tem um canal de ouvidoria - [email protected] - onde a população pode entrar em contato e fazer suas reclamações: